José Claudio de Paula: A crítica e o ódio

Os que mandam os petistas para Cuba e os que nos chamam de ladrões, em geral, também detestam negros, pobres e moradores das periferias, são homofóbicos e machistas

Tribuna de Debates do PT

É legítimo que petistas e não petistas de esquerda critiquem as opções institucionais do partido. Mas é intolerável que essas críticas se convertam em arma de disputa política, favorecendo, muitas vezes, o pensamento conservador e os partidos políticos que representam os interesses das classes dominantes.

Muito diferente da reflexão política, essencial e necessária para a definição de novos rumos para o PT e para a esquerda, o ódio ao PT não se resume ao momento atual, e já esteve presente em outros períodos da história brasileira. O ódio declarado aos comunistas, de várias origens, é uma espécie de tradição na disputa política de nosso país, e as manifestações odiosas contra o PT representam uma reedição de comportamentos já verificados em nosso passado recente e distante.

O comportamento odioso existiria mesmo que o PT tivesse tido um grande sucesso na presidência da república e em administrações estaduais e municipais sob o seu comando. O ódio ao PT se expressou, especificamente, em agressões físicas e verbais, dirigidas contra pessoas que usam roupa vermelha e contra comunicadores (como Jô Soares) que tiveram comportamento ético em relação ao mundo institucional e que, sem deixar de criticar o PT, o fizeram também em relação a outros partidos políticos.

O comportamento odioso, desgraçadamente, não está restrito ao mundo da política. Os que mandam os petistas para Cuba e os que nos chamam de ladrões, em geral, também detestam negros, pobres e moradores das periferias, são homofóbicos e machistas e são capazes de justificar o estupro com base no modo de se vestir das mulheres vítimas de violência.

É importante ressaltar que as ações do PT, no governo federal e em administrações municipais e estaduais, contribuíram para distribuir renda, para tirar seres humanos da miséria e para diminuir um pouco a desigualdade social existente em nosso país. Mas essas ações não foram suficientes para assegurar o aprofundamento das mudanças, especialmente porque não contaram com a participação permanente dos movimentos sociais representativos dos beneficiários dessas transformações.

Não acho que o PT, uma vez no governo federal, poderia promover mudanças estruturais muito profundas. A co-relação de forças políticas não era (e ainda não é) favorável a transformações mais radicais. Mas a presença dos movimentos sociais populares no governo deveria ter sido maior e mais importante. A aliança política preferencial do governo democrático e popular deveria ter sido com os sindicatos de trabalhadores da cidade e do campo, com os movimentos de moradia, com os usuários do sistema público de saúde e com estudantes, educadores e demais integrantes da comunidade escolar.

Essa aliança preferencial com os movimentos sociais diminuiria a importância de figuras públicas como Roberto Jefferson, Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Romero Jucá, escroques e chantagistas que contribuíram, em grande medida, para a derrota institucional do projeto democrático e popular. A força das classes populares dificultaria que figuras execráveis buscassem utilizar o ódio insano em favor de seus projetos pessoais e em defesa dos interesses das classes dominantes.

Como o que nos governou, nos últimos anos, foi uma confusão entre os espaços do partido e do governo, com a predominância do espaço governamental sobre a organização partidária, mesmo as aproximações com os movimentos sociais, quando ocorreram, tiveram o papel de converter as mobilizações populares em correspondentes governamentais, mantendo as demandas dos movimentos sociais dentro dos limites impostos pela governabilidade. Não foram poucas as vezes em que os movimentos sociais foram freados, em suas mobilizações, por causa da viabilização de idéias e projetos governamentais.

Por José Claudio de Paula, jornalista, militante do PT da cidade de São Paulo. Filiado desde 1986, foi sindicalista metalúrgico nos ano 70 e 80 do século passado e assessor de imprensa das prefeituras de Jaú (2001), Barra Bonita (20015) e Bariri (2013), para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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