Júlio Miragaya: Complexo de vira-lata
Após a derrota na final da Copa de 1950, a reação de boa parte da elite brasileira foi a de que havíamos perdido porque o Brasil não conseguia ser bom…
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Após a derrota na final da Copa de 1950, a reação de boa parte da elite brasileira foi a de que havíamos perdido porque o Brasil não conseguia ser bom em nada, que tudo no Brasil era ruim e tudo do exterior era melhor, sentimento que Nelson Rodrigues classificou como “Complexo de vira-lata”.
Ultimamente nossa elite e setores da mídia vem criticando acidamente nosso país e apresentando alguns vizinhos, aqueles que seguem a cartilha neoliberal (México, Colômbia, Peru e Chile), como modelos a serem seguidos. Pois bem: os investimentos externos diretos (IED) que ingressaram no Brasil em 2013 foram de US$ 64 bilhões. Quase 70% acima do recebido pelo México (US$ 38 bilhões) e o quádruplo do recebido pela Colômbia (US$ 16,7 bilhões). No Peru, o IED caiu 17% em 2013 e no Chile, 29%. Então, por que os investidores estrangeiros insistiriam em investir num país que na opinião dos analistas tupiniquins vai de mal a pior?
Mais dados: os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em 2013 no Brasil foram de 1,2% do PIB, mas no México foram de “excepcionais” 0,42%. Das 20 melhores instituições de ensino superior da América Latina, metade (10) são brasileiras, apenas 2 mexicanas, 4 chilenas, 2 colombianas e nenhuma peruana. Somos mesmo piores?
Por fim, critica-se também ter o Brasil gastos do Governo equivalentes a 22% do PIB total. Não percebem que isso decorre de um Estado que provê previdência, saúde e educação públicas para toda a população e seguro para os desempregados. Será que acham ruim que o Brasil esteja na companhia de países como a Dinamarca, França e Canadá, onde os gastos de governo variam de 28,8 a 21,6% e prefeririam que tivéssemos o percentual de gastos do México (11,8%), Peru (10,8%) e Chile (12,0%), que estão na companhia das “prósperas” Índia (12,4%) e Nigéria (12,8%)?
Parece que pouca coisa mudou 64 anos depois.
Júlio Miragaya é presidente da Codeplan e membro do Conselho Federal de Economia