Juros do BC de Bolsonaro castigam MEIs e informais e inadimplência bate recorde
No microcrédito, índice bateu um recorde de 20,7% em fevereiro. Na contramão do BC, governo libera crédito subsidiado. ”O que está distorcido não é o crédito direcionado, é a Selic”, diz economista da FGV
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Como lembrou o presidente Lula nesta semana em Portugal, a atual taxa de juros, de 13,75%, vem impedindo o acesso ao crédito no Brasil, tanto para empresas quanto para as famílias. Uma das consequências do arrocho monetário do Banco Central é o aumento da inadimplência entre trabalhadores formais e informais. No setor de microcrédito, o índice chegou ao patamar recorde de 20,7% em fevereiro.
Reportagem da Folha de S. Paulo informa que a inadimplência começou a disparar em setembro de 2022. Em 12 meses até fevereiro, a alta chegou a 16,6%, um reflexo da taxa média de juros cobrada para microempreendedores individuais. Na prática, significa que a cada R$ 10 emprestados a trabalhadores formais e informais nessa modalidade, R$ 2 estão com pagamento atrasado há mais de 90 dias.
Uma das causas do superendividamento foi a linha de microcrédito aberta pelo desgoverno Bolsonaro em março do ano passado para beneficiários do Auxílio Brasil. “É a mesma história do crédito consignado do Auxílio Brasil”, explicou o economista da LCA Consultores, Michael Burt, ao jornal.
“O programa fornece crédito para pessoas carentes, com falta de recursos e elevado endividamento familiar. Essas pessoas, muito provavelmente, pegam esses recursos para pagar dívidas e, no mês seguinte, param de pagar a amortização. Com isso, vira uma operação inadimplente”, definiu. Em outras palavras, são trabalhadores de baixa renda que tomaram crédito caro e de alto risco e caíram, com isso, na teia do endividamento.
Governo destrava crédito e prepara renegociação de dívidas
Ao mesmo tempo em que age para iniciar o processo de renegociação das dívidas de pessoas físicas e microempreendedores, que serão em breve contemplados pelo programa Desenrola Brasil, o governo Lula anunciou um pacote de medidas anticíclicas para destravar o crédito e melhorar o ambiente de negócios no país.
Do mesmo modo, na semana passada, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), anunciou a liberação de R$ 21 bilhões para MEIs, micro, pequeno e médios negócios, pelo Programa Emergencial de Acesso a Crédito.
“Conceder crédito aos pequenos negócios, que permanecem com apetite por mais empréstimos, é uma medida de caráter anticíclico que contribui para mitigar os efeitos da retração de crédito na economia brasileira”, destacou o governo federal, por um de seus canais oficiais nas redes.
Na semana anterior foi a vez da Caixa Econômica. O banco anunciou a redução nas taxas de juros para aproximadamente 2,1 milhões de micro e pequenas empresas (MPEs) do país. A queda pode chegar a 33% no valor das taxas.
Distorção gerada pela Selic
“Se o governo quiser que o país tenha retomada de investimentos, é fundamental ter um banco de desenvolvimento que oferte crédito”, opinou o coordenador do Centro de Estudos do Novo Desenvolvimentismo da FGV (Fundação Getulio Vargas), Nelson Marconi, em clara oposição à política de Campos Neto, que condena o crédito direcionado no longo prazo.
“No crédito direcionado, a gente pode fazer a análise do cinema que vende a meia-entrada. Se eu vendo muita meia-entrada e quero ter o mesmo lucro, a entrada inteira eu tenho que subir o preço. O crédito funciona um pouco assim”, comparou Neto, em evento no início do mês.
“Se a economia brasileira não tivesse taxas de juros tão altas, não seria necessário haver modalidades tão específicas de crédito direcionado”, rebateu Marconi. “Para investimentos e exportações, sempre vai ser importante. O que está distorcido não é o crédito direcionado, é a Selic. Isso está gerando aumento das operações de crédito direcionado”, concluiu o economista.
Da Redação, com Folha