Lauriberto Pompeu: Transformações na composição partidária do Brasil

Um estudo sobre a participação do PT nas prefeituras do onze maiores colégios eleitorais brasileiros

Ricardo Stuckert
Tribuna de Debates do PT

Lula, com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad

Nas cidades de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Curitiba (PR), Manaus (AM), Belém (PA), Porto Alegre (RS), Recife (PE) e Goiânia (GO) houve uma diminuição do número de candidatos petistas ou apoiados pelo PT que obtiveram sucesso nos seus projetos eleitorais entre as eleições executivas municipais de 2012 e 2016. Esse grupo de cidades compõem, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, os 11 maiores colégios eleitorais do país – Brasília (DF) não foi considerada pois não possui administração executiva municipal.

O partido sai da posição de segunda maior legenda com número de candidatos eleitos em 2012 nesse grupo de cidades, posto que dividia com o PDT e o PSDB (dois eleitos cada) e só era ultrapassado pelo PSB (três eleitos), dos quais um foi escolhido prefeito de São Paulo (Fernando Haddad), maior colégio eleitoral e umas das principais economias do país, e outro conquistou maioria absoluta dos votos e foi eleito prefeito de Goiânia no primeiro turno (Paulo Garcia), além de participar das gestões dos prefeitos eleitos de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), e do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), para em 2016 não eleger nenhum filiado e não participar da coligação de nenhum candidato vencedor.

No quadro geral das eleições para as prefeituras de todo o país, não só das 11 cidades citadas, o PT apresenta uma tendência de crescimento entre os anos de 1996 e 2012, como aponta CERVI (2016):

“(…) embora o PT tenha apresentado crescimento no período, isso foi suficiente apenas para chegar próximo aos números absolutos do PSDB e que ambos continuam distantes do número total de eleitos do PMDB. O PMDB elegeu, em 1996, 1,3 mil prefeitos e caiu para 1 mil em 2012. O PSDB, que havia elegido 933 prefeitos em 1996, caiu para 695 em 2012. Já o PT subiu de 116 para 637 prefeitos no período. Todos os demais partidos também cresceram, passando 2,4 mil para 3,2 mil prefeitos”.

Apesar do recorte com um número menor de prefeituras analisadas neste texto, conclui-se que em 2016 foi interrompida uma tendência de crescimento do PT no comando de administrações municipais, pelo menos entre aquelas que têm os maiores números de eleitores do país.

A despeito da tese de que o desgaste do PT oriundo das denúncias da Lava Jato e da crise política e econômica da gestão de Dilma Rousseff na Presidência, exerceu influência sobre o baixo desempenho petista em 2016, há também de se considerar os contextos locais como fatores importantes nas disputas eleitorais das cidades, como por exemplo a atuação de grupos políticos regionais dominantes, como é o caso da família Magalhães na Bahia, das quais fizeram parte quadros históricos do PFL, antiga denominação do DEM, os falecidos presidentes do Senado Federal Antônio Carlos Magalhães (1927-2007) e da Câmara dos Deputados, Luis Eduardo Magalhães (1955-1998) e cujo herdeiro político, ACM Neto (DEM), foi eleito prefeito de Salvador em 2012 e reeleito em 2016 com mais de 70% dos votos válidos no primeiro turno.

Outro exemplo de poder político local que exerceu influência sobre essas eleições municipais foi a família Ferreira Gomes no Ceará, que tem como principais representantes os ex-governadores do Estado Cid e Ciro Gomes, ambos do PDT. Nas eleições de 2016, os representantes petistas se dividiram entre aqueles que apoiaram a candidata do partido Luizianne Lins e aqueles que apoiaram a candidatura de Roberto Cláudio (PDT), pertencente ao grupo dos Ferreira Gomes, do qual também faz parte o governador Camilo Santana (PT).

Observando-se o quadro partidário geral dos eleitos em 2012 e em 2016, nota-se que em 2016 há uma maior quantidade de partidos eleitos no grupo das 11 cidades estudadas, saindo de seis partidos diferentes em 2012 para oito partidos no pleito subsequente. Destaca-se também que partidos de pouca expressão nacional, como o PRB, PHS e PMN obtiveram respectivamente em 2016 o comando das cidades do Rio de Janeiro (Marcelo Crivella), Belo Horizonte (Alexandre Kalil) e Curitiba (Rafael Greca), grandes colégios eleitorais das regiões Sul e Sudeste.

No pleito de 2016, o PSDB manteve a administração das cidades do Norte, Belém (Zenaldo Coutinho) e Manaus (Arthur Virgílio Neto), e também dobrou sua participação no grupo das onze cidades estudadas, ao eleger seus candidatos em São Paulo (João Dória) e Porto Alegre (Nelson Marchezan Júnior).

No entanto, cabe ressaltar que a pura análise partidária das eleições dessas cidades pode apresentar distorções, como no exemplo das eleições de Fortaleza, na qual em 2012 o PSB foi a legenda vencedora e em 2016 o PDT foi vitorioso, algo que na verdade foi reflexo da mudança de partido do prefeito Roberto Cláudio, eleito nesses dois pleitos.

Do que foi exposto depreende-se que o desgaste sofrido nacionalmente pelo Partido dos Trabalhadores somado aos contextos políticos locais das cidades observadas contribuíram para que os candidatos da legenda obtivessem uma diminuição no desempenho eleitoral da agremiação em nível municipal no ano de 2016, algo que até então apresentava tendência de crescimento.

Observações: esse texto não pretende mensurar a influência e força política do PT e nem buscar indícios de como serão as movimentações nas eleições gerais de 2018, mas sim responder como esse partido fez sua participação entre os pleitos municipais de 2012 e 2016.

Por Lauriberto Pompeu, graduado em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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