Laisy Moriére: Paridade, uma história política partidária
Neste artigo, a ex-secretária de Mulheres do PT conta como foi debatida e aprovada a paridade de gênero durante o IV Congresso do partido, realizado em 2011, em Brasília.
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Neste ano faz 10 anos da segunda etapa do IV Congresso do PT, foi um momento marcante vivido pela militância, pois ali seria aprovada a alteração no estatuto. Depois de ter sido eleita a primeira mulher Presidenta do País, era necessário dar passo real rumo à igualdade entre mulheres e homens. Tudo começou com a instalação de uma comissão composta por 15 membros indicados pelas tendências, com apenas duas integrantes mulheres. A coordenação foi do ex- ministro Ricardo Berzoini.
Com muita argumentação e entendimento do momento histórico, um companheiro da minha força política compreendeu a importância de ter mais mulheres na comissão e abriu mão de sua vaga para uma companheira de sua tendência. Foi um trabalho árduo com muitas idas e vindas nas reuniões. Com a extensa pauta já aprovada na primeira etapa do Congresso, as questões das mulheres não faziam parte da grande pauta em discussão, assim como as relativas aos jovens e os negros e negras. Começamos então o trabalho de articulação com os integrantes da comissão para a introdução desses temas na proposta da alteração estatutária.
Só depois de 20 anos do I Congresso de 1991 onde aprovou-se a cota de 30% nas direções e com a experiência desse tempo, podemos propomos a paridade. Não foi uma tarefa fácil a discussão da proposta inegavelmente tratava se de abrir espaço para as mulheres, sem aumentar o número de vagas nas instancias. Apareceram todos os tipos de proposição, 35%,40%, 50% ou não alterar nada.
Assim a comissão trabalhou todo o processo de alteração do estatuto mediando as opiniões e propostas que chegavam, sem utilizar o voto para decidir, pois sempre era possível apresentar na segunda etapa do congresso uma nova proposta de alteração.
Chegamos à etapa decisiva do Congresso com a seguinte proposta: cota de 40%no próximo PED e assegurando essa representatividade nos cargos e comissões que compõem a Executiva do partido, e paridade no PED seguinte.
Avançar na organização do PT, sempre foi um desejo das mulheres petistas, que com suas ações influenciam positivamente a política partidária brasileira. Então fomos à luta, todas as mulheres de todas as tendências, unidas com cumplicidade, pois sabíamos de nossas experiências anteriores, que a nossa unidade é a nossa força para aprovar as nossas propostas.
A articulação se deu com todas as forças políticas, muitas vezes participado das reuniões destas e apresentando a proposta e colhendo assinaturas de delegados e delegadas para aprovar a “Paridade Já”. Iniciou-se o trabalho com a preparação da estratégia de plenário, defesa, acompanhamento das bancadas dos estados, com a retirada de uma mulher para articular e acompanhar a votação. Com o reconhecido apoio da mesa do congresso, a proposta única desse tema foi apresentada, ninguém se apresentou para defende contra, e assim foi levada e aprovada com o voto da maioria dos/das congressistas. Era momento de avanço na participação das mulheres no partido.
Como tínhamos preparado defesas para a ocasião fizemos um comício no meio do Congresso, com muita emoção pela a aprovação da Paridade Já. Agora é um momento de reafirmar e fazer cumprir a paridade em todas as instâncias e comissões do partido e continuar a ser um exemplo da política partidária no Brasil, principalmente neste momento em que os direitos até então conquistados pelas mulheres estão em perigo de retrocesso.
“Não existe socialismo, sem feminismo!” Essa frase foi cunhada pelas mulheres do PT, quando da aprovação dos 30%, mas continua muito atual. A democracia só será verdadeira com a inclusão real, efetiva em todas as instituições e lugares de poder das mulheres.
Lembrando, aliás, que o partido é o único que tem no seu estatuto a regulamentação da Lei do Fundo Partidário, visando incentivar a participação das mulheres, também um legado do IV Congresso.
Agora é tempo de comemorar e aprofundar a paridade, pensar o PT e suas instancias como um lugar de igualdade entre homens e mulheres, mesmo sabendo que temos longos passos ainda a serem dados. Mudar a visão de mundo não é fácil, mas é possível, é um exercício cotidiano.
Os sonhos se realizam sempre que acreditamos nele. As mulheres podem, sempre podem!
Viva as mulheres do PT!
Laisy Moriére é socióloga e ex secretária nacional de mulheres do PT