Lideranças do Vale do Javari pedem exoneração do presidente da Funai

Líderes responsabilizam governo por tragédia na região. Denúncias ocorreram durante audiência pública das Comissões Externas da Câmara e do Senado, realizada na quinta-feira (30), em Atalaia do Norte (AM)

Foto: Jane Coelho

Lideranças afirmaram que mortes de Dom e Bruno foram "tragédia anunciada"

Em meio a emoções, indignações e lágrimas, lideranças indígenas do Vale do Javari clamam por socorro, por mais segurança na região e denunciam perseguição e ameaças de mortes a indigenistas e servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio), órgão que foi totalmente sucateado pelo governo Bolsonaro. Elas também afirmaram que as mortes de Bruno Pereira e de Dom Phillips foram tragédias anunciadas. As denúncias aconteceram durante a audiência pública das Comissões Externas da Câmara e do Senado, realizada nesta quinta-feira (30), em Atalaia do Norte (AM), quando foi aprovado um pedido de exoneração do atual presidente da Funai, Marcelo Xavier.

O objetivo da audiência, de acordo com o deputado federal José Ricardo (PT-AM), coordenador da Comissão Externa da Câmara, foi ouvir os povos indígenas a respeito das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, mas também sobre as constantes ameaças que os indígenas vêm recebendo nessa localidade.

Ele afirmou que “não é somente o governo federal o responsável pela falta de segurança em Atalaia do Norte, mas também o governo do Amazonas deve ser responsabilizado”. José Ricardo lembrou que a Comissão da Câmara aprovou na semana passada requerimento cobrando segurança para as lideranças indígenas de Atalaia. “Ouvimos muitos relatos, muitas denúncias. Houve muita omissão do poder público. E tudo o que apuramos aqui constará no relatório da Comissão”, afirmou.

Manoel Churimpa, presidente interino da Univaja, relatou que a tragédia ocorrida com Bruno e Dom foi uma tragédia anunciada, mas que não foi levada em consideração pelo poder público. “Não há ninguém aqui do Vale do Javari que não soubesse dessas ameaças. Infelizmente, Bruno teve que morrer para que fôssemos ouvidos. Não podemos viver com medo o tempo todo. E é assim que estamos vivendo. Estou indignado e repudio a falta de atenção do poder público”, declarou. Ele chamou a atenção para o fato de que a Funai e o MPE (Ministério Público do Estado) já sabiam dessa situação e que todos ali estão vivendo com medo.

Uma liderança indígena denunciou a exploração de madeira ilegal no Vale do Javari, como também o narcotráfico e a pesca ilegal, que vêm resultado em violência e constantes ameaças. E ainda disse que falta dignidade para o povo indígena, diante dos atuais desafios enfrentados.

Reivindicações

Lideranças dos povos Matis entregaram uma carta às comissões, com uma série de reivindicações, dentre elas: mais condições para o fortalecimento do trabalho da Univaja, uma vez que está fazendo o papel do governo; realização de concursos públicos para Funai, para que tenha mais servidores; instauração de uma CPI para investigar o tráfico de influência na Funai; serviços de educação e de saúde exclusivos para os indígenas; como ainda a presença da Polícia Federal, da Força Nacional, do Ibama e do Exército na frente de proteção etnoambiental no Vale do Javari.

Para Silvana Marubo, é importante que se tenha também segurança para todos os povos tradicionais, como a população ribeirinha e da floresta. E destacou que a Funai ficou sucateada, a partir da instalação do governo Bolsonaro. “Esse presidente é o culpado por toda essa insegurança que temos hoje. O presidente, simplesmente, não se importa com os povos indígenas. Estamos sempre sofrendo ataques. As mulheres do Vale do Javari pedem socorro. É preciso ter a representação dos órgãos fiscalizadores”, defendeu.

Comitiva

Além do deputado José Ricardo, participam das diligências e audiências públicas no Vale do Javari as deputadas Erika Kokay (PT-DF), Joenia Wapichana (Rede-RR) e Vivi Reis (PSOL-PA) e os deputados João Daniel (PT-SE) e Rodrigo Agostinho (PSB-SP). Também fazem parte da comitiva a senadora Leila Barros (PDT-DF) e os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Fabiano Contarato (PT-ES) e Eduardo Velloso (União-AC).

Ainda haverá reunião na sede de Tabatinga, onde será ouvida a Força Tarefa responsável pelas investigações dos assassinatos de Bruno Pereira e de Dom Phillips (Polícia Federal, Polícias Civil e Militar, Defesa Civil, Exército e Marinha, além da Funai e do Ibama).

Nesta sexta (1º), haverá oitivas de funcionários da Funai e de outras lideranças indígenas, de forma mais reservada. Serão ouvidos também representantes da prefeitura e os vereadores da cidade de Atalaia.

Do PT na Câmara

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