Lindbergh: “Sem povo nas ruas, a gente não derrota esse golpe”

Em entrevista a jornal paulista, senador do PT-RJ declara: “Querem impedir a candidatura do Lula, sem prova. Não vamos aceitar calados”

foto: Ricardo Stuckert

Lindbergh participa da reunião da executiva nacional

Diante do golpe institucional que teve início em 2016 e segue na mesma firme toada com a condenação de Lula em segunda instância por um crime que ele não cometeu e que, portanto, não deixou nenhuma prova, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) só vê uma saída, concomitante à manutenção da batalha jurídica em cortes manchadas pela parcialidade: “Apostar tudo nas mobilizações de rua”.

Em entrevista a um jornal de São Paulo, o parlamentar bem resumiu a situação desconcertante por que passa o país: “O sistema judicial que está aí faz parte do golpe. Estão fechando os caminhos institucionais.  Sem povo nas ruas, a gente não derrota esse golpe.”

Leia, abaixo, a entrevista com o senador.

Nos discursos, o sr. fala em desobediência civil, e o governador da Bahia, Rui Costa, em paz. O PT está desnorteado?
Lindbergh Farias – Somos vítimas de um golpe. Após a ditadura, foi estabelecido na Constituição um pacto pela redemocratização: voto soberano, eleição livre e democrática. Começaram a romper esse pacto com o afastamento da Dilma. Agora, querem nos tirar para fora do jogo. Querem impedir a candidatura do Lula, sem prova. Não vamos aceitar calados. Só tem uma arma possível neste momento: apostar tudo nas mobilizações de rua.

Então, o sr. não acredita na reversão na Justiça?
Os advogados têm que fazer o trabalho deles. Não tenho ilusão. O sistema judicial que está aí faz parte do golpe. Estão fechando os caminhos institucionais. As pessoas têm ilusões, achando que, no momento que querem nos matar, a gente tem que fazer unidade. Temos que nos preparar para enfrentar o inimigo. Tem que ter uma rebelião cidadã. O PT e a esquerda têm que se reorganizar. Não é ficar apostando na via institucional. Sem povo nas ruas, a gente não derrota esse golpe.

Então Costa está enganado?
O Rui Costa fala em unir o país e eu acho maravilhoso. O Lula foi um presidente que falou com todos. Quem deu esse golpe não fomos nós. São eles que não querem união. Querem prender o Lula. Vamos estender a mão dizendo “calma”? Não! Temos que colocar nossa tropa nas ruas. Estamos revoltados com essa decisão. Lula é vítima de uma perseguição implacável.

Dado esse cenário, o sr. acha que Lula vai ser preso?
Espero que não. Vai ter uma reação popular muito grande. Não nos peçam passividade. Prenderem o Lula sem provas, por um apartamento que não é dele, nesse processo fraudado, é incendiar o Brasil.

Não parece bravata? No PT há quem diga que vocês não têm como colocar 1 milhão de pessoas nas ruas.
A contradição do momento é que esse golpe deu errado. Achavam que tiravam a Dilma, a economia crescia, o Temer faria as reformas e um tucano ganharia a eleição. O Lula tinha 17% das intenções de voto quando Dilma saiu do governo. Hoje está com 38%. Os tucanos estão numa crise do tamanho do mundo. Há desemprego. Eles perceberam que com esse programa ninguém ganha a eleição e apostaram dobrado na irresponsabilidade.

Como manter essa mobilização se as evidências são de que Lula não vai concorrer?
Por que não? No direito eleitoral, você registra as candidaturas, depois tem prazo para impugnação. Tem gente que diz que bastava condenar pelo TRF que ele estaria inelegível. Não. Vamos registrar o Lula no dia 15 de agosto.

Mesmo se ele estiver preso?
É uma irresponsabilidade prenderem o Lula. Mas, se prenderem Lula, ele vai ser candidato preso. Lula vai ser candidato de todo jeito. Mesmo preso. Vamos colocar isso para o povo. Se eles acham que prendendo vão tirar Lula da eleição, já tomamos nossa decisão. A gente quer que o povo opine sobre o que está acontecendo. Ele vai ser um candidato mais forte ainda.

Mas como vocês vão colocar o nome dele na urna?
Estou com a regra eleitoral na minha mão [Lindbergh lê cronograma eleitoral]. Sabe quando o TSE pode impugnar o Lula? Dia 12 de setembro, se não atrasar um dia. Até lá é campanha na TV, programa eleitoral”¦

Como ele vai fazer campanha na TV?
Na hipótese de prisão, vamos fazer por ele. Tem programa dele, gravações. Vai aparecer o povo falando. Vamos fazer um escarcéu. Vamos dizer que a prisão é uma injustiça que só o povo pode corrigir.

Não teme que haja uma consulta prévia ao TSE?
Essa consulta já existe. O TSE impugnaria o Lula no dia 12 de setembro. A gente recorre ao Supremo Tribunal Federal e ele é candidato sub judice.

Por que o PT insiste na tese de que não existe um plano B se o próprio Lula admite uma eleição sem ele?
Estamos preparados para fazer a campanha sem ele.

O sr. não teme dispersão dos aliados nesse momento de instabilidade?
Claro que vai haver insegurança entre aliados. Mas o que vai determinar é a força eleitoral dele. E Lula não precisa de uma grande aliança partidária para se eleger. Estamos com um discurso forte. Todos esses ataques estão fazendo o Lula crescer cada vez mais. Se prenderem o Lula, aí, meu amigo, é vitória no primeiro turno. Vai haver uma comoção neste país.

Isso não é desobediência civil?
Não. É garantido por lei defender a candidatura do Lula. O termo desobediência civil surgiu com Henry Thoreau. Esse cara foi preso nos EUA porque tinha uma guerra com o México e ele não queria pagar imposto [para financiá-la]. Quem usou desobediência civil foi Martin Luther King, Gandhi. É um conceito que fala de manifestações não violentas.

Da Folha de S.Paulo

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