Lula, às mulheres: “Façam prevalecer a maioria que vocês são”

Ao se reunir com movimentos de mulheres, Lula defende representação igual de mulheres e homens no Congresso e destaca o papel crucial que elas terão na retomada da democracia e na reconstrução do país

Ricardo Stuckert

Gleisi, Fátima e Lula: reconstrução do país depende das mulheres

Ao se encontrar, nesta quinta-feira (10), com representantes dos movimentos de mulheres de todo o país, Lula afirmou que o resgate da verdadeira democracia e a reconstrução do país só serão feitos com a participação, de fato, das brasileiras.  

“A tarefa de reconstruir um país não é de um partido, muito menos de um presidente. A tarefa de reconstruir este país é da sociedade brasileira. Portanto, não pensem que, se eu voltar a ser presidente, acabou a tarefa de vocês. Pensem bem, porque, se me elegerem, vão ter que começar a trabalhar para construir a democracia e o mundo com que todos nós sonhamos”, disse o ex-presidente, fechando o evento ‘Mulheres com Lula para reconstruir o Brasil’ (assista a trecho abaixo e à íntegra do encontro no fim desta matéria).

“Se eu voltar a ser presidente, nós vamos ter que governar juntos. Vocês vão ter que participar das decisões das políticas públicas, porque eu não acredito que tenha um ser humano capaz de, sozinho, fazer as coisas. Já falei isso para o movimento sindical, estou falando para vocês, mulheres. Este país tem que ser reconstruído. Nós temos que pegar cada coisa que foi destruída e reconstruir”, acrescentou.

O ex-presidente ressaltou que esse mundo sonhado, justo e igualitário, não será alcançado com “um genocida no poder”. “Nós vamos ter uma eleição. Uma eleição não é tudo, mas ela pode muito. Numa eleição, a gente pode construir projetos, alianças, movimento e dizer o que a gente quer fazer. (…) Então, queridas companheiras, por favor, façam prevalecer a maioria que vocês são são. Façam prevalecer a razão que vocês têm. As mulheres são maioria, então significa que vocês podem. É só querer, é só colocar para fora o que vocês pensam”, afirmou.

Maioria de mulheres no Congresso

Lula disse ainda ter voltado transformado da recente viagem que fez ao México, onde um amplo movimento político conseguiu alterar a Constituição para garantir paridade de homens e mulheres no Congresso Nacional. Hoje, naquele país, 52% das cadeiras na Câmara dos Deputados e 46,5% das no Senado são ocupadas por mulheres “Por que o México pôde e nós não podemos? O que aconteceu no México que nós não conseguimos fazer aqui?”, indagou.

Para ele, o Brasil deve iniciar um processo semelhante a partir das eleições deste ano, elegendo mais mulheres e homens que pensem dessa forma, para que uma reforma política semelhante seja feita também aqui. “Os homens já têm milhões de anos governando o mundo, e não está dando certo, o mundo está piorando. Então, quem sabe, não chegou a hora de as mulheres botarem o pé na porta e assumirem a responsabilidade de governar a nossa cidade, o nosso estado e o nosso país? A Dilma foi uma experiência bem-sucedida que, depois, destruíram. Mas a gente não pode desanimar. Então, se preparem, porque vão vir mais mulheres no pedaço.” 

Mulheres no centro das políticas públicas

Antes de Lula, representantes de vários movimentos sociais; deputadas de diferentes partidos de esquerda; a governadora do Rio Grande Norte, Fátima Bezerra (PT); e a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann discursaram. Gleisi disse não ter dúvidas de que as mulheres terão um papel fundamental para fazer a mudança política de que o Brasil necessita. “Principalmente nós, que estamos aqui, que temos a consciência política, que sabemos do que se trata, temos o dever e a obrigação para com o povo brasileiro e as mulheres brasileiras”, ressaltou. 

Também deputada federal pelo Paraná, Gleisi lembrou que os governos de Lula e de Dilma colocaram as mulheres no centro das políticas públicas, transformando a vida das brasileiras. As mulheres, por exemplo, eram 95% das pessoas que receberam cartões do Bolsa Família, 90% das beneficiárias do programa de cisternas, 52% das proprietárias das unidades do Minha Casa Minha Vida. “Foi nos nossos governos que a gente começou a reconhecer a necessidade de as mulheres terem poder aquisitivo para conseguirem sustentar os filhos.”

Ela recordou ainda que nos governos dos Partidos dos Trabalhadores foi criado o primeiro MInistério das Mulheres (a Secretaria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres), foram realizadas quatro conferências nacionais para discutir políticas para mulheres e foi elaborado o Plano Nacional de Políticas Públicas para as Mulheres, além de terem sido sancionadas a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio. 

“Por isso a gente precisa retomar urgentemente os rumos deste país, sob pena de o povo brasileiro, cuja maioria é mulher e negra, ficar padecendo da destruição que a gente vive no país. E queria lembrar que tudo que relatei aqui foi conquista nossa e construção nossa. Todos os movimentos de mulheres que estão aqui participaram das conferências, discutiram, debateram e levaram as propostas para que o governo pudesse implementá-las. Por isso o sucesso dessas políticas”, finalizou Gleisi.

“Uma tarefa irrenunciável” 

Única mulher a governar um estado brasileiro, atualmente, Fátima Bezerra disse que, as eleições de 2022 são as mais emblemáticas e decisivas desta geração. “O desafio é do tamanho do mundo, mas, igualmente grande é a nossa esperança de que esta tragédia que estamos vivendo, este pesadelo estão com os dias contados. E aí, mais uma vez, as mulheres são convocadas”, discursou. 

A governadora também está certa de que as brasileiras, que já estão demonstrando união, não deixarão de lutar. “Eu não tenho nenhuma dúvida de que nós, mulheres, pelo Brasil afora, vamos escrever uma das mais belas páginas da nossa história, porque a nós, neste momento, cabe uma tarefa, do ponto de vista histórico, irrenunciável. Sabemos claramente o que está em jogo”, 

E finalizou: “Não vamos, de maneira nenhuma, permitir que este projeto que está aí continue. Ele está ameaçando as nossas vidas, nos desumanizando, roubando nossos direitos e tentando, inclusive, roubar os nossos sonhos. Mas eles não vão conseguir. Não vão. Porque não vamos abdicar de maneira nenhuma do nosso sonho de as mulheres voltarem a ser felizes neste país, a ser tratadas com respeito, de a gente voltar a avançar na nossa pauta de igualdade de direitos, por cidadania, por dignidade. É disso que se trata, e nossa participação será muito decisiva. E, como nunca faltou, agora menos ainda nos faltará coragem, sonho e disposição para a luta. E, como única governadora deste país, estou pronta para a luta com vocês. A vida das mulheres importa.”

Da Redação

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