Lula defende “indignação global” contra a fome e inaugura mecanismo da Aliança Mundial

Presidente encerra reunião da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza na FAO, em Roma, com apelos por financiamento e políticas estruturantes

Ricardo Stuckert

Lula: “A fome não será resolvida com assistencialismo, mas com governos que coloquem os pobres no orçamento do país”

O presidente Lula encerrou, nesta segunda-feira (13), em Roma, a 2ª Reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, destacando que a humanidade precisa se indignar contra a fome. O evento, realizado na sede da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), marcou a inauguração do Mecanismo de Apoio da Aliança, que funcionará como secretariado da iniciativa, com escritórios em Brasília, Adis Abeba, Bangkok e Washington.

A Aliança, criada em 2024 por iniciativa conjunta do Brasil e da Espanha, já reúne 200 integrantes entre governos, bancos multilaterais e organizações da sociedade civil, e tem como meta dobrar esforços para o cumprimento das Metas 1 e 2 da Agenda 2030, voltadas à erradicação da pobreza e da fome.

“O mundo vive um momento em que produz alimento suficiente, mas 670 milhões de pessoas ainda não têm o que comer. Isso não é falta de produção, é falta de caráter e de compromisso de quem governa”, afirmou Lula.

“A fome não será resolvida com assistencialismo, mas com governos que coloquem os pobres no orçamento do país.”

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Lula: “Nenhuma criança deve estudar com fome”

Durante o discurso, Lula apresentou os nove projetos-piloto já prontos da Aliança, voltados para segurança alimentar, agricultura familiar, acesso à água e transferência de renda em países da África, Ásia e Caribe.

“Não há melhor estímulo para a economia global do que o combate à fome e à pobreza”, disse o presidente, ao cobrar dos bancos multilaterais e países doadores a revisão de prioridades financeiras.

Ele também criticou o volume de gastos militares no mundo, que somam cerca de US$ 2,7 trilhões, e defendeu uma nova lógica de investimentos. “O que vai acabar com a guerra não é mais arma, é mais comida, é mais trabalho, é mais paz.”

O presidente destacou que o Brasil voltou a sair do Mapa da Fome da FAO graças a políticas integradas de transferência de renda, valorização do salário mínimo, geração de empregos e fortalecimento da agricultura familiar.

“Nenhuma mulher ou homem deve trabalhar sem se alimentar. Nenhuma criança deve estudar com fome. Ninguém deve viver sem acesso à água”, disse Lula, reafirmando que “o pobre tem que estar no orçamento do país”.

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Wellington Dias celebra resultados

Na abertura da reunião, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, que co-preside o conselho da Aliança ao lado da ministra espanhola Eva Granado, ressaltou o protagonismo brasileiro na construção da iniciativa.

“Sob a liderança do presidente Lula, o Brasil voltou a ser referência mundial no combate à fome e na erradicação da extrema pobreza. Trabalhamos para materializar a Aliança e reforçar os compromissos assumidos pelos países em 2015 com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável”, afirmou.

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O ministro também destacou que a inauguração do Mecanismo de Apoio da Aliança representa um marco concreto na consolidação do pacto global. “É o início de uma nova etapa de cooperação solidária entre países e organizações internacionais para enfrentar o desafio da fome, com base na troca de experiências e no protagonismo dos países do Sul Global”, completou.

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IBGE confirma: insegurança alimentar é a menor da história

O discurso de Lula em Roma corroborou com a divulgação de novos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que confirmam a redução recorde da insegurança alimentar no Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), 2,2 milhões de lares brasileiros saíram dessa condição em 2024.

A proporção de domicílios com algum grau de insegurança alimentar caiu de 27,6% em 2023 para 24,2% em 2024, enquanto a insegurança alimentar grave, situação em que há fome, recuou de 4,1% para 3,2%, atingindo o menor patamar da série histórica. “Levamos apenas dois anos para reconquistar uma marca que no passado levou dez anos. O Brasil saiu do Mapa da Fome em tempo recorde”, comemorou Wellington Dias.

Os resultados são atribuídos à implementação do Plano Brasil Sem Fome, lançado em 2023, que reúne 80 ações e mais de 100 metas voltadas ao aumento da renda, fortalecimento da agricultura familiar, ampliação da produção de alimentos saudáveis e políticas de proteção social.

Ao encerrar a reunião, Lula ressaltou que o combate à fome é uma questão de dignidade e de escolha política. “Os líderes do mundo precisam decidir para quem querem governar. Se continuarem tratando o pobre apenas quando sobra dinheiro, nunca haverá mudança. O pobre também é gente e merece respeito.”

O presidente agradeceu aos países parceiros e confirmou que o Brasil será representado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo ministro Wellington Dias no primeiro Encontro de Líderes da Aliança, que ocorrerá no Catar, em novembro, às vésperas da COP30, em Belém.

“Nossa tarefa é conduzir a humanidade à indignação contra a fome. Só assim construiremos um futuro onde ninguém precise dormir com o estômago vazio”, concluiu Lula.

Da Redação 

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