Lula é espionado pela CIA desde 1966, revela Fernando Morais

Biógrafo de Lula, jornalista recorreu à lei de acesso à informação dos Estados Unidos, conhecida como FOIA (Freedom of Information Act), para obter evidências. Dossiê reúne mais de 800 documentos confeccionados por diferentes órgãos de inteligência

Ricardo Stuckert

"Além de ser uma inaceitável violência contra um cidadão brasileiro, a arapongagem é uma afronta à soberania nacional", disse a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann

O governo dos Estados Unidos vigiou o presidente Lula durante décadas e produziu mais de 800 documentos sobre ele, totalizando 3,3 mil páginas. Quem confirma o interesse do aparato de segurança estadunidense pelo petista é o jornalista e escritor Fernando Morais, que conseguiu acesso aos documentos oficiais. Eles revelam que a CIA (Agência Central de Inteligência, em português) e outros órgãos de defesa monitoravam Lula, pelo menos, desde 1966, ainda durante o período da ditadura, época em que o presidente era torneiro mecânico e integrava o movimento sindical no ABC paulista.

A CIA confeccionou a maior parte desses documentos, mais de 600, reunidos em 2 mil páginas. Além da agência de inteligência dos Estados Unidos, outros órgãos de segurança do país também seguiram os passos de Lula: o Departamento de Estado produziu 111 documentos; a Agência de Inteligência da Defesa, outros 49; o Departamento de Defesa contribuiu com 27; o Exército do Sul dos Estados Unidos manteve oito registros; e o Comando Cibernético do Exército, apenas um.

Para conseguir as evidências, Morais recorreu à lei de acesso à informação dos Estados Unidos, conhecida como FOIA (Freedom of Information Act), legislação que entrou em vigor exatamente em 1966, durante o governo Lyndon Johnson, auge da Guerra do Vietnã. O jornalista ainda aguarda retorno do FBI (a polícia federal estadunidense), da Agência de Segurança Nacional (NSA, sigla em inglês) e da Rede de Combate a Crimes Financeiros (FinCEN, em inglês). As respostas devem ocorrer dentro do prazo de 20 dias, prorrogáveis por mais 20.

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Petrobras no alvo

A espionagem do governo dos Estados Unidos mirou também a Petrobras, os planos militares do Brasil e as relações de Lula com os governos da China e de países no Oriente Médio. Nem a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) escapou ao escrutínio estadunidense, afirma Morais. Sobre o atual governo Lula, o escritor antecipa não dispor de registros, pois o pedido de acesso às informações foi feito em 2019.

Esses documentos servirão à biografia do presidente, da qual Morais está encarregado. O primeiro volume foi lançado em 2021, pela Companhia das Letras, e traduzido para os idiomas inglês, espanhol e chinês. Ainda não foi fixada data para a divulgação da segunda parte da obra.

Soberania nacional

A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), classificou como “gravíssimas” as revelações do biógrafo de Lula. Para a parlamentar, o governo dos Estados Unidos é afrontoso à soberania do país. “O Pentágono e o Comando Militar do Sul também estão na lista, espionando nossa defesa, as relações internacionais, a produção de petróleo e sabe-se lá o que mais”, criticou, no “X”.

“Espionavam Lula desde 1966, quando se filiou ao sindicato, no PT, na presidência e até na prisão. E não foram só as famigeradas CIA e NSA. (…) A denúncia do jornalista certamente vai lançar novas luzes sobre os crimes da Lava Jato contra Lula e o Brasil. Além de ser uma inaceitável violência contra um cidadão brasileiro, a arapongagem é uma afronta à soberania nacional.”

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No mesmo tom, o deputado federal Odair Cunha (PT-MG), líder da bancada do partido na Câmara, disse que a espionagem estadunidense é “uma violação inaceitável contra o povo brasileiro e contra a soberania do nosso país”. “As denúncias de que Lula e o Brasil foram espionados durante décadas pelos EUA são extremamente graves”, definiu o parlamentar.

“E também reforça o que sempre dissemos: patriota de verdade é quem se preocupa com os interesses da própria nação, e não quem bate continência e se submete, com orgulho, a outros países”, concluiu.

Também por meio das redes sociais, o senador Fabiano Contarato (PT-ES) condenou, “nos mais firmes termos”, a arapongagem dos EUA contra o Brasil. “A espionagem dos EUA contra Lula é uma afronta inaceitável à nossa soberania. Essa investida abusiva não mira apenas um cidadão, mas um chefe de Estado, atingindo assim todo o país”, censurou.

Da Redação, com informações de Folha de S.Paulo, O Globo

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