Lula: “Não temos direito de permitir que a extrema direita volte a governar”
No 16º Congresso do PCdoB, em Brasília, presidente convoca esquerda a “falar com o povo” para barrar o fascismo: ”É um chamamento a uma revolução democrática”
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A esquerda brasileira deu mais um passo para a consolidação de um conjunto de alianças do campo democrático em torno da candidatura do presidente Lula à reeleição em 2026. Nesta quinta-feira (16), o líder petista prestigiou a abertura do 16º Congresso do PCdoB em Brasília. O evento, que contou com a presença do presidente nacional do PT, Edinho Silva, e de ministros petistas, marca a reeleição de Luciana Santos, ministra da Ciência e Tecnologia, como presidenta da legenda no próximo domingo (19).
Em discurso veemente, o presidente fez um apelo à unidade e propôs uma reflexão ao campo progressista. Diante de uma persistente ameaça da extrema direita no cenário político, Lula defendeu uma estratégia de renovação de discurso para que o campo progressista amplie o diálogo com a sociedade e a base de apoio.
“Se eu decidir ser candidato, não é para disputar só, é para ganhar as eleições. Não temos direito de permitir que a extrema direita volte a governar”, alertou Lula. “É um chamamento a uma revolução democrática”.
“Temos de pensar no dia de amanhã. Qual é a tarefa que nós, militantes de esquerda, temos de fazer? Se a gente não discutir isso, a gente não descobre por que a extrema direita cresceu tanto no mundo e os setores progressistas diminuíram”, pontuou. “Como se explica uma figura grotesca como Bolsonaro virar presidente da República?”, provocou.
Lula lembrou de um período de avanços para a democracia sul-americana, quando presidiu o Brasil entre 2003 e 2010. “Nós tínhamos criado a Unasul, foi o melhor momento político da América do Sul em 500 anos de história. Isso acabou”.
“E não é fácil reconstruir, porque a eleição está mostrando que a extrema direita está voltando”, afirmou Lula, citando o exemplo da Bolívia, cuja fragmentação da esquerda levou dois candidatos de direita a decidirem as eleições presidenciais neste domingo (19).
O chamado ao povo e a luta contra a desinformação
Para Lula, é urgente que a esquerda se reconecte com as grandes massas, rompendo as bolhas dos círculos de ativistas. “O nosso desafio não é agradar a nós mesmos, mas convencer os outros que ainda não são nossos, a vir com a gente. O desafio da construção do discurso, do projeto de nação que a gente quer criar, e do nosso comportamento, que tem de ser exemplar”, disse o presidente.
“O nosso comportamento, no nosso dia a dia, que convence as pessoas a virem com a gente”, frisou. De acordo com Lula, a democracia foi derrotada “porque deixou de cumprir aquilo que é sua razão de existir: não tem democracia sem comida na mesa, sem salário, sem liberdade, universidade, sem direitos humanos, sem participação das mulheres”.
“A direita tomou conta da rede digital”, lamentou o presidente. “E eu não falo rede social, falo digital porque o ‘social’ tem muito pouco. Tem muita pedofilia, ofensa, misoginia, preconceito, agressão, desrespeito às mulheres que luta, aos progressistas. E o que fazemos?”.
Projeto de país
“Possivelmente serei candidato a presidente outra vez. Se eu estiver com saúde. Mas eu vou candidato pra quê? Para continuar falando de Bolsa Família, de Luz para Todos, de água para Todos?”, questionou Lula.
O presidente argumentou que a esquerda precisa de mensagens claras à sociedade, “para que o povo seja capaz de compreender que país estamos propondo para ele. Não pode ser um país que o povo não queira conhecer nem construir”.
“Qual é o projeto que vamos apresentar a esse país? Precisamos falar com o povo, só falamos com aqueles que vão ao nosso chamamento e não vamos até onde eles estão. Essa é a revolução partidária que temos de fazer, é voltar para os braços do povo, ir onde o povo está”.
Enfrentamento à extrema direita
O presidente defendeu o avanço do campo progressista para mudar a correlação de forças no Congresso, hoje infestado de parlamentares da extrema direita. Lula criticou a atual legislatura. “Esses dias, eles aprovaram uma PEC na Câmara que protegia quadrilha, que dava a um presidente de partido imunidade. Que loucura é essa?”
O presidente também reforçou a urgência de um enfrentamento direto à extrema direita: “Vocês têm de ser mais bravos com a extrema direita. O companheiro Hugo Motta tem de cassar o Eduardo Bolsonaro. Não é possível”.
Conquistas do povo brasileiro
O presidente falou sobre as conquistas sociais de seu terceiro mandato. “Eu duvido que, em algum momento da história desse país, um governo tenha feito metade do que nós fizemos em dois anos e meio. Mas quem é que sabe?”
“Em 2026, temos de fazer mais do que já fizemos, precisamos crescer”, pediu o presidente. “Não temos de dar muita importância para a Faria Lima, não. Nosso discurso é com o povo brasileiro, para aqueles que trabalham. Por isso que foi importante aprovar o Imposto de Renda até R$ 5 mil. 90% do povo brasileiro ganha até R$ 5 mil. Então não estamos fazendo política para uma minoria, é para a maioria”.
O presidente detalhou programas sociais de impacto direto: “É por isso que aprovamos o Gás do Povo. Vamos dar gás de graça para 17 milhões de famílias que não podem comprar gás. Por isso fizemos o Luz do Povo. Quem consome até 80 kWh não paga mais energia e até meio salário mínimo também não paga. Por isso criamos o Pé-de-Meia, que nossos adversários acham que é gasto”, afirmou.
Soberania da Venezuela
Lula também fez uma defesa firme da diplomacia brasileira e sua longa tradição de respeito à soberania dos países. Ele condenou a interferência dos Estados Unidos e as ameaças de Donald Trump ao povo da Venezuela.
“O que nós defendemos é que o povo venezuelano é dono do seu destino e nenhum presidente de outro país tem que dar palpite sobre como vai ser da Venezuela ou Cuba.
Da Redação
