Lula: Para ser bom presidente, é preciso conhecer a alma do povo

Em 1º ato da sua caravana em Sergipe, ex-presidente falou sobre a importância da confiança do povo brasileiro, homenageou Déda e se emocionou

Ricardo Stuckert

Lula em acampamento do MST

Depois pela Bahia e chegar a Sergipe, e de ter feito uma parada no acampamento Acampamento Valdir Macedo, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Teto (MST), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou com milhares de pessoas em Estância, interior de Sergipe.

Acompanhado pelo governador do estado, Jackson Barreto (PMDB); do vice-presidente nacional do PT Marcio Macedo; do secretário de Finanças do partido, Emidio de Souza; da esposa de Marcelo Déda e vice-prefeita de Aracaju, Eliane Aquino, o ex-presidente Lula iniciou seu discurso exaltando a história política e de luta de Déda.

“Eu nunca vi uma pessoa tão competente quanto Déda. Ele tinha vocação extraordinária. Ele sabe o que eu pensava: que se dependesse de mim ele não tinha sido candidato a governador de SE, pois ele teria sido o melhor senador que esse País já teve. Ele iria fazer sucesso naquela tribuna”, disse o ex-presidente, emocionado.

Aos familiares de Déda, Lula deixou uma mensagem de esperança e de conforto. “Nós não morremos simplesmente. Nós renascemos. Certamente outros Dédas virão por aí. O que é importante é que essas pessoas se vão, mas elas deixam exemplos que a gente pode seguir. Essas crianças têm motivo de sobra para se orgulhar do pai que eles tiveram e do que ele representou”.

Lula agradeceu ao governador Jackson Barreto por ter apoiado a presidenta Dilma Rousseff durante o processo de impeachment. “Você foi um dos poucos que teve caráter e coragem de apoiar a Dilma”. Ele lembrou dos investimentos feitos pelos governos do PT na região e que agora, com o apoio à presidenta eleita, o Sergipe tem sido deixado de lado pelo governo golpista de Michel Temer.

“Parece que você tá passando a pão e água porque teve coragem de ser oposição ao golpe e ao Temer”, disse Lula ao governador.

Na cidade, o ex-presidente foi homenageado com a medalha do mérito parlamentar e com o título de cidadão. Lá, ele voltou a falar sobre a ideia da caravana Lula pelo Brasil. “Resolvi viajar para rever, conversar, aprender e para poder discutir sonhos e esperanças com vocês. Porque não é possível uma sociedade caminhar para a frente, evoluir, melhorar de vida se a gente não tiver sonhos”.

Lula também relembrou os tempos em que esteve na Presidência do Brasil, falou sobre os avanços que o País vivenciou, sobre o reconhecimento no exterior e sobre o quanto o povo brasileiro conseguiu melhorar de vida naquele período. “Quando eu cheguei na Presidência, ninguém que fazia política acreditava na melhora do Brasil. A imprensa escrevia que o Brasil tava quebrado, devia ao FMI, que eu não tinha diploma e que eu não ia dar conta do recado, que eu não ia ser respeitado lá fora porque eu não falava inglês, francês e espanhol, que as coisas não iam dar certo porque eu não era economista”.

“Eu tinha uma vontade de ser presidente para dizer para eles que o tipo de inteligente que eles pensam que têm não quero, porque a minha inteligência é conhecer a alma dos brasileiros”.

No entanto, disse Lula, para ser presidente, ele não precisou saber inglês, espanhol ou francês. Segundo ele, era preciso falar um “português pequeno, entender o pulsar do coração do nosso povo, a alma da nossa gente”.

“E isso eu conhecia como ninguém. Eu tinha certeza que eu não poderia errar, porque senão jamais um operário poderia voltar a governar esse país. Tenho orgulho de ter saído (da Presidência) com 87% de bom e ótimo e ter eleito a primeira presidenta na história desse País”.

Ele voltou a criticar a política econômica e o governo do golpista Michel Temer, que tirou a esperança de melhora de vida dos brasileiros. “Agora colocaram um tal de Temer, e não tem mais esperança de FIES, emprego, ProUni. Porque essa gente não sabe governar, quer vender o Banco do Brasil, a Caixa, a Petrobras, a BR”, disse.

Tema recorrente nos discursos da caravana, a importância da política não foi deixada de fora na fala ao povo de Estância. “Fora da política não há saída em lugar do mundo. É fascismo, nazismo… coisa muito pior para a humanidade”.

Sobre a perseguição jurídica e midiática que tem sofrido, Lula voltou a pedir que apresentem provas. “Todo dia eu vejo uma quantidade de mentira a meu respeito. Eu imploro que me deem uma prova, porque eu jamais iria envergonhar o povo brasileiro”.

“Eles estão mexendo com a pessoa errada. Se tem algum político em Brasília que tem o rabo preso e tem medo porque roubou, esse político que cuide da sua vida. Eu aprendi a andar de cabeça erguida, a conversar com mulheres e homens olhando na cara de cada um de vocês”.

“Para exigir sinceridade, tenho que ser sincero com vocês. O dia que eu perder a confiança, não há mais razão de fazer política”.

E Lula disse que a escolha de retornar à Presidência não é dele, mas sim do povo brasileiro. “Se vocês disserem não, eu me aquieto, fico lá em São Bernardo jogando dominó. Se disserem que sim eu vou ficar com as canelas magras de andar esse país e ouvindo a alma do povo”.

O povo do Sergipe não falha

O coordenador da caravana e vice-presidente nacional do PT, Márcio Macêdo, comemorou o início da viagem no Estado. “Sergipe recebe Lula com este mar vermelho de gente, com muita emoção e alegria. Eu sabia que Sergipe não ia falhar. O menor Estado da federação vai fazer a festa mais bonita para Lula”, afirmou. “Estância é uma cidade com base operária, com uma classe trabalhadora organizada e politizada, que recebe Lula com muito carinho”, reforçou.

Ele reiterou o objetivo central da caravana: “Lula é o nosso líder, um grande líder, que se alimenta da inspiração do povo. Por isso, ele está rodando o Brasil, para conversar com a sua gente”. Márcio ainda fez referência a Marcelo Déda e a José Eduardo Dutra, já falecidos. “Tenho certeza que eles estão do céu aplaudindo este momento”, afirmou.

O presidente do PT em Sergipe, Rogério Carvalho, exaltou a história de Lula não apenas no Brasil, mas no mundo, com o reconhecimento que o ex-presidente tem no exterior. “Estamos recebendo hoje o homem que deu autoestima ao Brasil. Nós, que éramos visto como um povo de cabeça baixa, que diziam que não era capaz de nada, e com Lula nós conseguimos ser a sexta economia do mundo, e esse foi considerado o maior líder do mundo. O Brasil olha para Índia e vê Gandhi, o mundo olha para África e vê Mandela, nós brasileiros temos Luiz Inácio Lula da Silva”.

Publicado por Rogério Carvalho em Domingo, 20 de agosto de 2017

Selma dos Santos Silva, 40, esteve no ato para ver o ex-presidente. Ela lembrou que, antes de Lula e da criação do ProUni, ela nunca teria oportunidade de se formar. “Eu não teria oportunidade nenhuma de me formar, sendo que teria que desembolsar um valor que eu não tinha. Graças ao presidente Lula, eu pude me formar como orientadora comunitária. Sou umbandista, negra e aplaudo sim Lula porque ele deu vez e voz ao povo negro, de matriz africana, e, com ele, filho de pobre pode ter diploma na parede”.

“Eu digo que o mérito é de todos nós, estudantes, de nos doar, de aprender, mas quem a oportunidade foi Lula quem me deu”, completou a orientadora comunitária.

Wilton Santos de Jesus, poeta e bailarino, também esteve no evento em Estância, mas não apenas para ver Lula de longe. Ele subiu ao palco e participou de uma homenagem ao ex-presidente, cantando.

“Estou aqui em defesa do movimento quilombola, candomblecista. Lula, esse grande homem e presidente, revolucionou o movimento candomblecista no mundo inteiro”.

“Lula é esse grande homem que defende o candomblé de todas as nações, que deu nome às comunidades indígenas e quilombolas. É por isso que estamos aqui em parceria para levantar a estrela do PT. Eu digo não a todos os corruptos e digo a eles: nós, artistas, estamos do lado de Lula”.

Por Clarice Cardoso, enviada especial ao Nordeste com a caravana Lula pelo Brasil, para a Agência PT de Notícias

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