Lula: “Só o povo pode resolver a ingovernabilidade do Bolsonaro”

Em entrevista a rádio do Piauí, Lula diz que Brasil sofre com um governo que não respeita a população. “Acho que precisamos ir para a rua e cobrar que este país seja governado decentemente”

Ricardo Stuckert

Lula

Com mais de 477 mil mortes por Covid-19 confirmadas, o Brasil, infelizmente, colhe o que foi plantado por Jair Bolsonaro, que precisa ser parado, avaliou Lula nesta quarta-feira (9), em entrevista à rádio Meio Norte, do Piauí. “Não sou daqueles que gosta de jogar a responsabilidade apenas para uma pessoa, mas o Bolsonaro não cumpriu o papel que deveria ter cumprido como presidente”, disse o ex-presidente, destacando que o atual ocupante do Planalto não criou um comitê de crise para combater a pandemia de forma coordenada, recusou vacinas e ignorou — e continua ignorando — a gravidade do novo coronavírus.

“A gente vê que o Brasil não fez a lição de casa. Nós estamos correndo atrás do prejuízo. Quero prestar solidariedade às famílias dos que morreram porque não é pouca coisa o que aconteceu neste país e ainda pode acontecer, porque o governo continua mentindo. O governo não trata as pessoas com respeito. Foram irresponsáveis porque o presidente da República não tem o menor humanismo dentro dele”, afirmou Lula.

Diante de tal situação, cabe às instituições e, principalmente à população, dar um basta a Bolsonaro. “As instituições vão ter de tomar conta disso. Ou tem um relatório da CPI que peça punição a Bolsonaro, ou a Câmara pega um dos processos de impeachment e coloca em votação, porque não é possível que a gente tenha um presidente da República desrespeitando todo santo dia as instituições e tentando jogar a sociedade contra as instituições”, analisou Lula.

É compreensível, portanto, que o povo vá para as ruas em plena pandemia. “Está difícil. O povo está frustrado, muito decepcionado. Obviamente que o coronavírus fez com que o povo ficasse dentro de casa, sem se manifestar, com medo, mas eu acho, sabe, que nós precisamos ir para a rua e cobrar que este país seja governado decentemente”, defendeu. E alertou: “Se o Brasil continuar nesse nível, vai continuar sendo um país pequeno, sem respeitabilidade, não vai gerar os empregos de que nós precisamos, não vai gerar a renda de que o povo precisa. Somente o povo pode resolver o problema da ingovernabilidade do Bolsonaro”.

Preparado para consertar o país

Perguntado sobre a possibilidade de concorrer à Presidência em 2022, Lula lembrou que o mais importante é garantir, agora, vacina para todos e auxílio emergencial de R$ 600. Mas assegurou que, se o Partido dos Trabalhadores quiser, se houver alianças políticas e apoio nos estados, ele será candidato. “Se for necessário, para tirar o Bolsonaro, eu ser candidato, não tenha dúvida de que eu serei candidato”, disse. “Eu tenho 75 anos de idade, eu estou bem de saúde, tento me preparar fisicamente, intelectualmente, tento me preparar para consertar as coisas que eles já estragaram. E não foi pouca coisa que eles já estragaram”, acrescentou.

Instigado a dizer como seria uma novo governo Lula, o ex-presidente disse que seria, antes de mais nada, um governo voltado aos mais pobres. “Não existe mágica, não existe nenhum gênio dentro de uma garrafa que, se você virar a tampa, ele vai aparecer para consertar o Brasil. Este país precisa de uma pessoa séria que goste do povo, que respeite o povo, que conheça os problemas do povo brasileiro, que diga em alto e bom som que este país só vai dar certo quando o povo pobre deixar de ser pobre. Então o que eu posso prometer para o povo se eu for candidato? Que eu vou provar para o povo que é possível este povo ser feliz quando o governo acreditar no povo e o governo colocar o povo dentro do orçamento da União. E vou ter uma obrigação: fazer mais do que eu fiz.”

Sobre ódio e polarização, Lula alertou para o engodo daqueles que tentam vender a ideia de que existe, na política, neutralidade. “A polarização existe em toda eleição e quem acaba com ela é o povo, votando.” Mas polarização não precisa ser feita à base do ódio.

“Não sou de instigar o ódio. Eu aprendi isso com uma mãe analfabeta. Eu gosto de respeitar e de ser respeitado. Você não me vê ofender as pessoas. Eu também não gosto de responder o jogo rasteiro. Quando ganhei em 2002, a gente dizia que a esperança venceu o medo. Agora, com a eleição do Bolsonaro, posso dizer que a ignorância venceu a inteligência. O povo precisa de muito carinho e não de ódio. Esse povo precisa de muitos livros e não de armas. Esse povo precisa de alguém que acredite na humanidade, no humanismo, na solidariedade, na fraternidade, e é isso que eu sei fazer. Da minha parte será Lula paz e amor sempre. Não tem espaço para o ódio”, concluiu.

Da Redação

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