Lula sobre libertação de Julian Assange: “O mundo está um pouco menos injusto”

Acordo firmado com justiça dos EUA permite ao dono do Wikileaks retorno imediato para casa, após cinco anos preso no Reino Unido. Nas redes sociais, presidente Lula chamou soltura do australiano de “vitória democrática”

Wikileaks

Assange, preso por fazer jornalismo: ativista está livre depois de 1.901 dias encarcerado

Foram quase 2 mil dias encarcerado em uma minúscula cela na prisão de segurança máxima de Belmarsh, em Londres. O jornalista e ativista australiano Julian Assange experimentou, durante os últimos cinco anos, o castigo imposto pelas grandes potências cujos interesses secretos e espúrios a organização transnacional sem fins lucrativos fundada por ele, o Wikileaks, ousou desnudar. Mas o longo período de isolamento e confinamento de Assange conheceu seu fim, nesta segunda-feira (24), depois de ampla campanha internacional que teve no presidente Lula um dos mais resilientes entusiastas.

Logo que foi solto em Stansted, um dos quatro aeroportos que servem à capital inglesa, na tarde desta segunda, Assange tomou um avião com destino às Ilhas Marianas do Norte, designadas “estado livremente associado aos Estados Unidos”, com escala em Bangkok, na Tailândia. De lá, o dono do Wikileaks embarca rumo à Austrália, onde é aguardado pela esposa e pelos filhos.

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Assange aceitou se declarar culpado da acusação de divulgação de milhares de documentos confidenciais do governo estadunidense, em troca da pena de 62 meses, o tempo que passou preso em Belmarsh. O acordo com a justiça dos Estados Unidos permite ao ativista o retorno imediato para casa. Ele deve comparecer, contudo, a uma audiência em um tribunal das Ilhas Marianas do Norte, nesta quarta-feira (26). De acordo com Stella Morris, esposa do jornalista, o voo custou US$ 500 mil, cerca de R$ 2,7 milhões.

“Depois de passar mais de cincos anos em uma cela de 2×3 metros quadrados, isolado 23 horas por dia, ele vai, em breve, se juntar à sua esposa e aos filhos, que só conheceram o pai atrás das grades”, publicou o Wikileaks, em seu perfil oficial no “X”, juntamente com uma foto de Assange a bordo da aeronave. “Enquanto ele retorna para a Austrália, nós agradecemos a todos que ficaram ao nosso lado, que lutaram por nós e que se mantiveram totalmente comprometidos com a luta pela liberdade dele.”

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Vitória da democracia

A libertação do australiano foi comemorada pelos defensores da democracia, incluindo a Organização das Nações Unidas (ONU). O Alto Comissariado para Direitos Humanos (ACNUDH) recebeu com regozijos a resolução do caso. Entre as pessoas próximas ao ativista, a notícia não poderia ser melhor. “Estou simplesmente eufórica. É incrível, parece irreal que ele esteja livre”, declarou a advogada de Assange à emissora BBC. “O calvário finalmente está chegando ao fim”, celebrou Christine Ann, mãe do jornalista.

No “X”, o presidente Lula disse que “o mundo está um pouco melhor e menos injusto” com a liberdade do dono do Wikileaks. “Julian Assange está livre depois de 1.901 dias preso. Sua libertação e retorno para casa, ainda que tardiamente, representam uma vitória democrática e da luta pela liberdade de imprensa”, enfatizou Lula. No mesmo tom do presidente, a ONG Repórteres Sem Fronteiras ressaltou o “fim de uma perseguição injusta e cruel”.

“Julian Assange finalmente está livre, informa o Wikileaks! Vitória importante de todos que se uniram a ele em defesa da liberdade de informação e contra uma perseguição descabida e injusta”, exaltou a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), nas redes sociais.

“A liberação de Julian Assange é uma vitória da democracia, da liberdade de imprensa”, afirmou o deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do partido na Câmara.

Interesses espúrios

Fundado em 2006, o Wikileaks ganhou a atenção internacional, em 2010, ao divulgar uma série de documentos secretos que atribuem graves violações de direitos humanos à atuação dos EUA em guerras no Iraque e no Afeganistão. No mesmo ano dos vazamentos, a Suécia, país onde está sediada a organização, emitiu mandado internacional de prisão contra Assange.

O ativista acabou se entregando à polícia do Reino Unido, no fim de 2010, mas foi liberado depois de pagar fiança. Para impedir a extradição para os EUA, onde as penas seriam bem mais severas, o dono do Wikileaks buscou então asilo na Embaixada do Equador em Londres, o que foi considerado uma violação dos termos condicionais estabelecidos pela justiça britânica. Em 11 de abril de 2019, o australiano foi novamente preso na capital inglesa.

O Wikileaks denunciou também os casos de espionagem dos EUA. Documentos ultrassecretos da diplomacia estadunidense a que a organização obteve acesso revelaram que a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) e outras 29 autoridades do governo federal haviam sido grampeadas pela Agência Nacional de Segurança (NSA, sigla em inglês), durante a gestão de Barack Obama. A lista incluía ministros, diplomatas e assessores.

O escândalo de espionagem foi publicado em parceria com o site “The Intercept”, o mesmo que escancarou os crimes e os abusos praticados pela Operação Lava Jato.

Da Redação, com UOL e G1

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