Mais Médicos: brasileiros se inscrevem mas não aparecem para trabalhar
Após saída de cubanos em decorrência das ameaças de Bolsonaro, programa teve inscrição de médicos brasileiros alardeada, mas poucos se apresentaram
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Mais de mil cubanos que atuavam pelo programa Mais Médicos no Brasil já retornaram à ilha. No total, são cerca de 8.000 postos de trabalho que ficarão sem profissionais enquanto o governo brasileiro tenta substituí-los. Nesse processo, um novo edital já foi aberto e a inscrição para 97% das vagas foi alardeada como sucesso, mas poucos profissionais de fato se apresentaram em locais de serviço.
Até agora, o número de médicos brasileiros que se apresentaram nos municípios corresponde a apenas 17% das vagas deixadas pelos profissionais que já retornaram à Cuba, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados pelo El País. A data limite para que todos os médicos se apresentem nos municípios onde foram alocados é 14 de dezembro.
Infelizmente, a expectativa é de que o desfalque do Mais Médicos não se resolva rapidamente. O não-comparecimento aos locais de trabalho, ou o abandono da vaga poucos meses após o início do trabalho, tem sido uma prática recorrente dos profissionais de saúde formados no país.
No edital de novembro de 2016, dos 1.262 médicos com registro profissional válido no Brasil que se inscreveram no Mais Médicos, 640 desistiram. Entre profissionais formados no exterior, 367 foram admitidos e apenas 34 deixaram o programa.
A mesma situação se repetiu no ano seguinte. No edital de novembro de 2017, 20% dos médicos com registro no país desistiram, enquanto, entre profissionais com diploma obtido no exterior, a taxa foi de 1,43%.
No edital atual, apenas 224 médicos brasileiros começaram a trabalhar ou negociam diretamente com os gestores municipais quando começarão. Metade deles (113) escolheu municípios no Sudeste, região que já tem a maior densidade médica por habitante do país.
Quando o programa Mais Médicos foi lançado, em 2013, apenas 6% dos 16.530 médicos brasileiros que se inscreveram no primeiro edital de fato decidiram ocupar as vagas, de acordo com informações do El País. O número de profissionais brasileiros que se inscreveram foi considerado um recorde, mas eles desistiram de ocupar as vagas por conta das áreas às quais foram alocados, principalmente em regiões mais pobres ou isoladas. Justamente por esse tipo de problema, foi realizada a parceria com Cuba.
O presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), Mauro Junqueira, afirmou em entrevista ao Estadão que “a taxa de desistência de profissionais brasileiros tradicionalmente sempre foi muito alta. Muitos se inscrevem no programa, mas desistem antes de ocupar postos de trabalho ou depois de um tempo de atuação”.
Segundo dados da Democracia Médica no Brasil 2018, uma pesquisa do professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP, Mário Scheffer, 84% dos recém-formados em medicina têm nas condições de trabalho o principal fator determinante para fixação em uma instituição ou cidade após a graduação ou residência. A busca por um estilo de vida urbano acaba afastando os médicos das áreas onde são mais necessários.
Enquanto algumas capitais chegam a registrar 12 médicos a cada mil habitantes, a média brasileira é de apenas 2,18 profissionais para cada mil habitantes.
Da redação da Agência PT de notícias, com informações do El País e do Estadão