Manifestantes pedem justiça no caso Marielle e rechaçam autoritarismo
Convocados por movimentos populares após falas de Eduardo Bolsonaro contra a democracia, atos em diversas cidades também defenderam a soberania nacional
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Milhares de brasileiras e brasileiros foram às ruas nesta terça-feira (5) para se manifestarem pela democracia, contra o governo de Jair Bolsonaro (PSL) e por respostas no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco. Os atos foram convocados por movimentos populares, partidos de oposição e frentes de esquerda como a Povo Sem Medo e a Brasil Popular – com o lema “Por justiça para Marielle, por democracia e por direitos, Basta de Bolsonaro!” – e ocorreram em diversas cidades do país.
Nas redes sociais, os chamados circulam com hashtag #5NcontraAI5. A chamada para as manifestações ocorreu após o líder do PSL na Câmara e filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, afirmar que o governo pode criar um “novo AI-5” em reação a eventuais protestos.
Em São Paulo (SP), a manifestação foi convocada para o centro financeiro da cidade. Cerca de 10 mil pessoas ignoraram a forte chuva que caía na capital e se mobilizaram na Avenida Paulista.
O ato, organizado pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, reuniu estudantes, partidos políticos, centrais sindicais. A concentração ocorreu no Museu de Arte de São Paulo (MASP) e as manifestantes caminharam em direção à sede do Ministério Publico Federal, na rua Frei Caneca, onde pediram justiça para Marielle.
Ricardo Marcolino Pinto, professor municipal participou da manifestação mesmo debaixo da forte chuva que caiu sobre a capital paulista no início da noite. Ele destacou a importância de todos os brasileiros se engajarem na defesa da democracia.
“Ninguém pode pedir a volta do AI-5. O AI-5 foi perverso para a sociedade brasileira, perseguiu pessoas, invadiu casas, fez com que as pessoas se submetessem à ordem de um regime que nada contribuiu com o país”, exclamou.
Maria Vaz é professora e produtora de documentários e se juntou ao ato na avenida Paulista. Segundo ela, o Brasil pode estar caminhando para uma tentativa de volta da ditadura e é dever de todos dialogar com a população que elegeu Bolsonaro para fomentar a consciência crítica.
“Antes de gritar ‘Fora Bolsonaro!’, nós temos que ter consciência de quem esta por trás dele, de quem o elegeu. Trata-se de uma forca enraizada em muitos lugares, que precisa ser combatida. São as corporações, o que engloba a indústria do petróleo, a armamentista, a alimentícia, a farmacêutica; engloba as religiões, que são organizações com fins lucrativos”, argumentou.
Rio de Janeiro
Centenas de pessoas se reuniram na Candelária, região central do Rio de Janeiro, nesta terça. Segundo Julia Aguiar, diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE), uma das entidades organizadoras, o ato foi uma resposta aos últimos acontecimentos da política nacional, envolvendo Bolsonaro, Marielle e ameaças à democracia.
“O ato de hoje está sendo chamada a nível nacional porque na semana passada vimos esse escândalo do nome presidente da República e sua família, relacionados ao assassinato da Marielle. Não podíamos não dar uma resposta a isso. Junto com essas informações veio a declaração do filho do presidente dizendo que deveria estabelecer um novo AI-5 no Brasil. É um absurdo que nesse momento da história a gente tenha que continuar defendendo que a democracia tem que continuar no nosso país. Estamos aqui pela memória de Marielle, pela democracia e sem esquecer dos nossos direitos como educação, saúde, Previdência”, disse durante o protesto.
A estudante Beatriz Vargas, de 20 anos, moradora de Rio das Pedras, zona Oeste do Rio, também esteve presente no ato, ao lado de sua mãe, Karla Vargas, de 40 anos.
“Tenho medo de ver a história se repetir, tenho medo que as pessoas percam seu direito à liberdade, tenho medo pela minha família. Tô aqui por todos nós, para que respeitem a nossa voz”, completou Beatriz.
Nas ruas
Atos ocorreram em outras cidades, dentre as quais algumas capitais do país. “Marielle perguntou, eu também vou perguntar, quantos mais têm que morrer pra essa guerra acabar?”, entoaram manifestantes nas ruas de Porto Alegre, nesta terça.
O ato reuniu milhares de pessoas na chamada esquina democrática, no centro da capital gaúcha. Uma das participantes, Ana Paula Santos, coordenadora-geral do DCE da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) destacou o legado da vereadora Marielle Franco como lutadora social.
“Estamos aqui para exigir justiça por Marielle Franco, que era uma mulher, negra, lésbica, da favela, que defendia muitas das lutas que todos os dias a gente defende. Nós temos o dever histórico de lutar por justiça, buscar resposta, mas mais do que tudo seguir defendendo as ideias que Marielle defendia”, assinalou.
O ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont (PT) ressaltou a temerosa escalada autoritária do governo federal. “Estamos vendo que a família do Bolsonaro, e o próprio Bolsonaro, não só elogiavam torturadores, como fazem a defesa como alternativa política do AI-5. Então nada mais oportuno do que este ato demonstrando a capacidade de luta e de resistência, que é o que todos nós temos que assumir”, afirmou.
Por Brasil de Fato