Márcio Tavares: Respeita as mina!

A cátedra ou a militância de esquerda não exime ninguém de replicar a misoginia refletida ou irrefletidamente.

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. A censura torna-se instrumental nesse projeto autoritário e reacionário. Calar vozes dissidentes, corpos dissidentes é um objetivo central do bolsonarismo”

O PT estava esfacelado após o golpe de 2016. As eleições municipais são prova de que os ataques frontais contra o partido tinham penetrado na sociedade. Tudo levava a crer que o partido iria afundar.

O PT em 2017 fez seu Congresso e elegeu uma nova direção comandada pela primeira vez por uma mulher, a senadora Gleisi Hoffmann.

A partir daí o partido se reposicionou politicamente, reorganizou sua vida interna, aproximou-se dos movimentos sociais. Tudo isso mesmo sob fogo pesado do golpismo. No começo desse ano, Lula aparecia vencendo  no 1o turno e as mesmas pesquisas apontavam o PT como o partido de preferência de 20% dos brasileiros.

Faço esse histórico porque quase todos os dias aparecem proponentes a guia do PT que parecem fingir ou acreditar que essa retomada do partido é fruto de geração espontânea. Esses políticos, jornalistas, acadêmicos ou simplesmente burocratas fazem mais ou menos o que os economistas neoliberais faziam com Lula ao atribuir o sucesso de seu governo exclusivamente a uma conjuntura internacional favorável. Afinal de contas, a mesma ideologia hegemônica que nos diz todos os dias que um presidente que não era doutor não podia ser bem sucedido, também nos diz que uma mulher não pode conduzir a política com competência.

Somente um machismo atávico explica que as teorias dos que se propõem a serem os gurus do PT desconsiderem que o partido hoje é um agente fundamental do jogo político justamente porque teve muitos acertos em sua condução recente. Esses textos e declarações aparecem carregados de subtextos misóginos que praticamente replicam com Gleisi o que acontecia com Dilma. Por exemplo, com relação aos homens ninguém diz que lhes falta “auto-controle” ou quaisquer outros adjetivos desse quilate para comandar qualquer coisa. Enfim, a cátreda ou a militância de esquerda não exime ninguém de replicar a misoginia refletida ou irrefletidamente.

Estamos em uma encruzilhada histórica e frente a um ataque gigantesco contra a esquerda e as forças populares. Precisaremos acumular ainda muito mais forças para vencer a luta que teremos. Mas, chegamos até aqui a despeito e contra todos os prognósticos vivos, o PT está bem vivo.

Além disso, está em curso a organização de uma frente ampla democrática, centrada na construção de um programa comum e o PT é um engajado entusiasta desse projeto. Não há sectarismo ou arrogância nesse movimento. Todos os partidos estão com seus candidatos e nós com o nosso, Lula, mas estamos juntos construindo a luta democrática e, mais uma vez, é fundamental frisar que esse movimento não é fruto do acaso.

Hoje, faz um mês que suportamos o arbítrio da prisão de Lula e resistimos. Mesmo com um ataque dessa monta contra o maior líder do PT e o maior líder popular do Brasil, ele e seu partido estão firmes e tornam-se a cada dia agentes mais centrais nas eleições que provavelmente virão.

Existem erros, claro. Na política e ainda mais em uma conjuntura dessas ninguém é infalível. Entretanto, a resiliência do PT jamais pode ser transformada em algo aleatório, ao menos em uma avaliação honesta. É preciso dar valor a direção partidária e sua presidenta nesse movimento de resistência e fortalecimento do partido.

Por isso, quem quiser criticar, que critique, até porque tem muito a melhorar mesmo, mas se criticar respeita as mina, porque as mina mandam bem!

Márcio Tavares é secretário nacional de Cultura do PT

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