Maria Bernadete Vilaça Moreira: É preciso vigor e organização na luta

O recuo não pode ser prática do Partido dos Trabalhadores, e nem prática da esquerda brasileira

Fernando Frazão/Agência Brasil
Tribuna de Debates do PT

Rio de Janeiro - Servidores públicos federais de diversas categorias protestam no centro da cidade contra a reforma da Previdência, o congelamento de salários e desligamentos

Sou filiada ao partido em Minas Gerais, e desejo expor algumas preocupações em relação à atuação do PT diante do avanço das medidas que pretendem enfraquecer o Estado brasileiro, juntamente com os ataques aos direitos da classe trabalhadora e da população mais pobre do nosso país. Junte-se a isso a campanha de massacre do partido e da sua liderança maior, campanha orquestrada pela direita golpista, pela mídia, e assimilada por parte da população insatisfeita com o avanço das conquistas sociais dos governos petistas. São os defensores da Casa Grande e Senzala se fortalecendo.

Na verdade, os ataques sistemáticos não têm apenas o Partido dos Trabalhadores como alvo, mas também outros partidos de esquerda em menor escala, movimentos sociais, como o MST, e o movimento estudantil, portanto tudo que cheire esquerda, e signifique fortalecimento das lutas populares. Dessa maneira, a paranóia anti-comunista ressurge e o anti-petismo se fortalece e, ligada a isso tudo, o grito por golpe militar, mesmo que esse anseio represente pequena parte dos manifestantes direitistas.

Nesse quadro, as medidas implementadas pelo governo golpista visam, de forma clara e não confessada, o extermínio do povo pobre brasileiro.

O corte na saúde, indiscutivelmente, afetará a sobrevivência do cidadão, pois, lá na ponta, homens, mulheres, crianças, velhos irão literalmente morrer, por falta de atendimento, de medicamentos, falta de profissionais e de aparelhos. Com relação à educação, a falta de vagas e de profissionais jogará as crianças e os jovens no meio da rua, com todas as conseqüências que já podemos prever.

A reforma da Previdência já evidencia que trabalhadores morrerão antes de se aposentar, deixando de dar despesa para a Previdência. Isso está bem claro para todos. Como um servente de pedreiro irá subir em construção aos setenta ou setenta e cinco anos de idade?!

Finalmente, a desumana reforma trabalhista, embora ainda não esteja tramitando, já sinaliza que confirmará o massacre do trabalhador. Os trabalhadores, não suportando as perversas condições de trabalho, sucumbirão. Mas, não tem problema, pois há muita mão de obra para substituí-los. O trabalhador é um ser descartável.

Tentei esboçar o quadro que enfrentamos, e do qual todos nós sabemos.

Acontece que, no meu entendimento, e conforme discussões que se travam nas redes sociais, e também no mundo real, a resposta dos movimentos de esquerda, e neste caso, do Partido dos Trabalhadores, não está de acordo com a gravidade que se apresenta no momento.

Tenho total consciência da importância, por exemplo, dos movimentos dos estudantes, das ocupações bastante combativas e resistentes.

O que muitos de nós sentimos é que estamos sozinhos, queremos lutar, mas não há liderança. É um sentimento compartilhado por muitos de nós. E, aqui, liderança significa toda a liderança de esquerda, sejam movimentos sociais e partidos políticos, e as frentes.

A sensação que muitos de nós temos é de que assistimos a tudo acontecer dentro da maior passividade. Isso está totalmente equivocado.

Aparecem pessoas nas redes sociais, não ligadas ao partido, mas insatisfeitas, que sugerem até soluções extremadas e equivocadas, pois não vêem nada acontecendo.

Tenho sugerido às pessoas que têm esse sentimento de impotência a entrar em contato com os partidos de esquerda e com as frentes e cobrar alguma atitude.

Precisamos de vigor, precisamos nos organizar para ir às ruas, ocupar as galerias da Câmara e do Senado, e outras atuações,  mesmo que isso seja difícil.

Tenho observado que em manifestações, aqui em Belo Horizonte, não aparece mais a bandeira do PT. Será que diante dos ataques iremos nos esconder?! Não acredito. Essa questão das bandeiras pode parecer pouca coisa, mas não é, pois é uma entre outras formas de o partido se colocar, se impor, de dizer “nos atacam, mas estamos firmes”.

O recuo não pode ser prática do Partido dos Trabalhadores, e nem prática da esquerda brasileira.

Hasta La Victoria, siempre!

Por Maria Bernadete Vilaça Moreira, filiada ao PT em Belo Horizonte, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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