Mercado de trabalho: Como as vagas para mulheres negras contribuem para reduzir desigualdades
Ações afirmativas no mercado de trabalho ampliam a presença de profissionais negras e diversificam espaços já ocupados por maioria branca.
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Você já parou para pensar por que mulheres negras são as mais atingidas pelo desemprego e as que ocupam postos precários e de menor renda no mercado de trabalho ?
Isso existe devido ao racismo estrutural, que impõe diferenças em diversos aspectos da vida de pessoas brancas e pretas, como o acesso à educação, saúde, bem viver e também no mercado de trabalho.
Em 2018, mais de 60% dos desempregados eram negros e negras, enquanto a representação brasileira dessa população é de 55%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Quando se trata das mulheres negras, o cenário se agrava. O salário médio das negras chega a ser 70% menor que das mulheres brancas, de acordo com estudo do PNAD de 2019.
Em relação ao curso superior, a pesquisa do Instituto Locomotiva comprova que as mulheres negras com formação superior receberam, em 2021, salário médio de 3.712 reais contra 4.760 reais das mulheres brancas.
As desigualdades sociais são acentuadas pelos marcadores de raça, gênero e classe, só confirma o que a intelectual negra, Angela Davis diz:
…As mulheres negras estão na base da pirâmide social…”.
Anatalina Lourenço, cientista social e secretária de combate ao racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), elucida que o sistema de políticas públicas durante os governos do PT foram importantíssimos para a inserção da população negra na universidade. Por esta razão, deve se ter então um número considerável de diversos profissionais no mercado de trabalho, no entanto, a realidade não é essa.
A pesquisadora ainda revela que ter nível de escolaridade não garante ao negros, em especial as muheres negras, o ingresso e as condições dignas no mercado de trabalho.
A sociedade, e digo como toda, sindicatos, órgãos públicos e privados e governos precisam ter a concepção e a consciência que é impossível a gente avançar se continuar com esse mesmo sistema ideológico, de colocar as pessoas negras nas piores condições de trabalho”, alerta a pesquisadora.
Anatalina Lourenço ressalta que para mudar este cenário da ‘pirâmide social’, onde as mulheres negras e indígenas estão na base, é necessário também ações afirmativas no mercado de trabalho, assim, ampliará a presença de profissionais negras e diversificará espaços já ocupados por maioria branca.
As cotas são como um instrumento inicial reparatório, são necessárias. Por isso, defendemos cotas nos mercados de trabalho. Em uma estrutura de empregos, quantas mulheres negras temos nos espaços de poder? precisamos também ansceder”, enfatiza a cientista.
O que são ações afirmativas?
As ações afirmativas são iniciativas, políticas e/ou ações que buscam equiparar e incentivar grupos ou populações que foram excluídas e discriminadas historicamente, sendo sociais, raciais, gênero, entre outros. Muitas vezes, a promoção é para o acesso à educação, saúde, emprego, etc..
É importante salientar que as a Lei de Cotas do Ensino Superior (Lei 12.711/2012), foram criadas em 2012, no primeiro ano de mandato da presidente Dilma Rousseff. É uma grande conquista do movimento negro durante os governos do PT, e contribuiu para o ingresso de milhares de estudantes nas universidades, e a popularização do ensino superior. Abordamos as cotas no ensino superior aqui.
Por isso, muitas empresas e órgãos públicos passaram a adotar ações afirmativas para contratação de novos profissionais. A estudante de jornalismo, Lorena Cardoso, é o resultado de políticas afirmativas no mercado de trabalho, ela conta que, na prática, as vagas exclusivas são como facilitadores diante de todas as barreiras que enfrenta todos os dias, enquanto mulher negra.
Eu experienciei a vaga de ação afirmativa porque foi a minha porta de entrada para o mercado de trabalho. E isso graças a quem veio antes de mim, mostrando que é possível ocupar mais e melhores espaços, e também é sobre quem vem depois, para servir como inspiração. A importância dessa política não é individual, é ganho para todo um povo historicamente preterido”, conta a jovem.
Dandara Maria Barbosa, Agência Todas