Milícias fascistas na mira do Supremo e da Policia Federal

“O Poder Judiciário não pode silenciar diante das inúmeras e gravíssimas ofensas” afirma o ministro Alexandre de Moraes, do STF. “É importante identificar quem organiza, quem dialoga com esses criminosos. O Brasil não é fascista”, adverte o senador Humberto Costa (PT-PE)

Arte sobre foto de Sérgio Lima/Poder 360

Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

No final de semana, uma das faces das milicias fascistas que orbitam no entorno do presidente Bolsonaro veio à tona. Ao mesmo tempo, essas organizações entraram na mira da Justiça, em especial do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Polícia Federal. Uma das personagens mais visíveis é Sara Winter, líder do grupo “300 do Brasil”, de extrema direita. “É importante identificar quem organiza, quem dialoga com esses criminosos. O Brasil não é fascista”, adverte o senador Humberto Costa (PT-PE).

Nesta segunda-feira, a Polícia Federal (PF) entregou intimação à Sara Winter com prazo de dois dias para ela depor. A intimação é decorrente de inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal que investiga a prática criminosas de fake news. Em vídeo, ela desafiou as autoridades: “Eu não vou! Vão me prender? Me tratar como bandido? Vão ter que se prestar a isso!”, disse. “Eu vou incorrer em crime de desobediência porque eu me nego a ir nessa bosta”, continuou.

O “nome de guerra” é inspirado em Sarah Winter Downville Taylor, espiã de Hitler e integrante da união de fascistas britânicos. A simpatia pela Ucrânia e pelo grupo extremista Pravy Sektor é o elo com as milicias tradicionais que operam no universo bolsonarista.. Foto: Divulgação.

No domingo de madrugada, em Brasília, Sara Winter, que diz ter sido treinada na Ucrânia, e seu grupo dos”300 do Brasil” desfilaram com túnicas, tochas e cantorias defendendo o “fechamento do STF”. A estética, que remete inicialmente à organização supremacista norte-americana Klu Klux Klan (KKK), na verdade é inspirada em Gideão, personagem bíblico do Velho Testamento e da história de Israel. Apesar de se chamar “300 do Brasil”, o grupo não deve passar de trinta integrantes.

Na avenida Paulista, em São Paulo, a bandeira com símbolos ucranianos do Pravy Sektor surgiu nas mãos de Alex Silva, 46, brasileiro que mora na Ucrânia. O responsável por tumultuar a manifestação dos democratas é instrutor e mora em Kiev, capital do país. Ele está no Brasil para abrir uma filial da academia de tiro e táticas militares em que trabalha. O Pravy Sektor é um grupo de extrema direita de origem ucraniana. O envolvimento de símbolos fascistas e nazistas nas manifestações também está sendo investigado pela Polícia Militar de São Paulo.

QUEM É SARA WINTER

Alvo do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF), a senhora Sara Fernanda Giromini, construiu uma história que expõe o seu papel no enredo nazi-fascista em curso. “Fui treinada na Ucrânia e digo: chegou a hora de ucranizar!”, disse Winter em seu Twitter, deixando claro seus objetivos. “Ucranizar”, no caso, é promover eventos violentos, a exemplo do que ocorreu na Ucrânia, em 2013.

Falastrona, ela também não esconde a origem de sua ideologia. O “nome de guerra” é inspirado em Sarah Winter Downville Taylor, espiã de Hitler e integrante da união de fascistas britânicos. A simpatia pela Ucrânia e pelo grupo extremista Pravy Sektor é o elo com as milicias tradicionais que operam no universo bolsonarista.

No inquérito, aberto pelo ministro Alexandre de Moraes, Sara Winter é indiciada pela prática de cinco crimes. Entre os crimes apontados estão injúria, ameaças, tentar impedir o livre exercício de qualquer dos Poderes da União ou dos Estados, incitar a subversão da ordem política ou social, e caluniar ou difamar o presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do STF.

“O Poder Judiciário não pode silenciar diante das inúmeras e gravíssimas ofensas” afirma o ministro Alexandre de Moraes. O ministro lembra que as agressões partem de quem já admitiu a existência de armamento entre os membros do grupo radical.  Recentemente, o grupo “300 do Brasil” montou acampamento na Esplanada dos Ministérios, transferindo-se depois para uma chácara em Brasília.

Bandeira do Pravy Sektor, organização de extrema direita de origem ucraniana presente na manifestação bolsonarista na Avenida Paulista, no domingo (31). Foto: Alice Vergueiro.

Intervenção militar

As declarações do presidente Jair Bolsonaro sugerindo o uso das FFAA para impor suas teses ao país têm estimulado as milícias fascistas a defender a intervenção militar.  No final de semana, Bolsonaro compareceu a mais uma manifestação marcada pela defesa da volta da ditadura militar ao país.

“O presidente tem usado as Forças Armadas para fazer ameaças veladas à sociedade, às liberdades, à democracia. Ele quer passar a ideia de que controla, manda, é o dono Forças Armadas, mas ele não é. Elas não são uma extensão do Executivo”, afirmou o senador Rogério Carvalho.

“As Forças Armadas podem e devem ser acionadas, se necessário for, ou pelo Congresso ou pelo Judiciário. É preciso que estes poderes avancem neste sentido, e que a gente tenha uma posição pública das Forças Armadas garantindo e assegurando que não é um instrumento para nenhuma aventura autoritária”.

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