Milton Pomar: Ondas e ressacas eleitorais
Em artigo, o geógrafo explica a relação entre o resultado das eleições de 2016 e a intensa propaganda massiva feita contra o PT nos últimos dez anos
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Os resultados eleitorais de 2016 lembram os de 1988, quando o PT ganhou pela primeira vez governos em várias capitais e cidades importantes em todo o País. Lembra também os de 1992, 1996 e 2000, quando o PT aumentou ainda mais a quantidade de governos de grandes cidades, chegando a ganhar várias cidades vizinhas umas das outras, nas regiões metropolitanas de Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte.
Qual petista não se lembra da “Onda Lula”, em 2002, quando elegemos Lula presidente da República, vários governadores e um número recorde de parlamentares estaduais e federais?
Ganhamos centenas de governos municipais e alguns estaduais, e elegemos centenas de parlamentares estaduais e federais, desde 1982. Mas…, analisando friamente, ganhar sempre foi uma exceção, o PT sempre perdeu muito mais do que ganhou, porque quem realmente vence as eleições no Brasil é o poder econômico, qualquer que seja o nome e a legenda do candidato.
Os números a esse respeito são didáticos – e a Câmara dos Deputados e o Senado são provas incontestes de quem realmente se elege e quais interesses representa.
O interessante desse momento é o espanto de alguns e a indignação (com o povo!) de muitos, do Rio Grande do Sul ao Pará, como se não fosse óbvio que acontecesse o que aconteceu, após dez anos de Propaganda intensa e massiva contra o PT, Lula, e a Política feita por trabalhadoras e trabalhadores.
Propaganda articulada com o judiciário, polícias, empresários e políticos de direita, realizada diuturnamente por duas mil rádios, centenas de jornais, três revistas semanais e muitas mais mensais, tevês em todo o país, e uma infinidade de pessoas e robôs pelas redes sociais. Tamanho massacre só poderia mesmo gerar Onda anti-PT de proporções nacionais e ressaca nas mesmas proporções.
Campanhas eleitorais são como ondas em banho de mar: mal acabamos de levar uma cacetada e lá vem outra. O que todas elas têm em comum é a ressaca. E entre uma e outra campanha eleitoral, há 5.570 governos municipais e quase 60 mil vereadores(as) a serem fiscalizados, mais todos os governos e legislativos estaduais e federal – estes um caso à parte, pelas razões mais do que conhecidas.
Quem sabe agora, 34 anos após disputarmos eleições pela primeira vez, e depois da ressaca que nos atingiu a nível nacional, seja possível tratarmos o processo eleitoral com a antecedência que ele exige no nosso caso, e investir no estudo das campanhas e do comportamento ideológico, político e eleitoral do imenso e diversificado universo de 144 milhões de eleitores e eleitoras existentes no Brasil.
E já que Política não se resume às campanhas eleitorais, e vivemos tempos de guerra do governo federal golpista e da maioria da Câmara e do Senado contra trabalhadoras e trabalhadores, aposentados(as) e pensionistas, e o povo pobre em geral, o melhor é trocarmos o pneu da ressaca com o carro em movimento, porque é guerra de lá para cá, e é também saque: contra o Pré Sal, a indústria naval, a construção pesada, os recursos públicos e da população em geral: banqueiros se apropriam de mais de R$ 500 bilhões por ano do Orçamento da União, e a Caixa Econômica Federal cobra impávida juros anualizados de 800% em seu cartão de crédito – somos o País dos Agiotas: cobram por mês o que antes era proibido cobrar por ano.
Saqueiam a Economia Popular e mandam no governo federal, no Banco Central, na imprensa e no judiciário. Só não quebraram a Economia ainda porque a maioria dos grandes empresários da indústria e dos demais setores também está lucrando com os juros criminosos.
Aos que se queixam da Onda contrária e do gosto amargo da ressaca, é sempre bom lembrar que, em tempos de Recessão; 12 milhões de desempregados; falta de recursos para Educação, Saúde, Ciência e Tecnologia, Cultura, e tantas outras áreas importantes; iminência da aprovação do Marco Regulatório da Mineração e da Lei Orgânica da Magistratura (LOMA), e virtual falência de prefeituras de cinco mil municípios agora em dezembro, o que não nos faltam são grandes questões pelas quais compensa lutarmos.
Milton Pomar é geógrafo, “campanheiro”, há mais de meio século na estrada