Multidão se mobiliza e presta tributo a Marielle Franco no FSM
Assassinato da vereadora e ativista carioca altera rotina do evento em Salvador e centenas de pessoas se unem para relembrar sua trajetória de luta
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Ao contrário dos dois primeiros dias do Fórum Mundial Social, que acontece desde a terça (13) em Salvador, o campus de Ondina da Universidade Federal da Bahia (UFBA) estava tomado por silêncio e dor na manhã desta quinta-feira (15).
Não havia música. Não havia celebração. A programação oficial teria de esperar. Por todas as partes, só havia urgência para um único tema: o assassinato cruel da vereadora e ativista Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes na noite anterior no centro do Rio de Janeiro.
Estudantes, professores, funcionários, palestrantes, voluntários e militantes alteraram suas rotinas para prestar tributo a Marielle. Nos gramados da UFBA, centenas de pessoas saíam em busca de qualquer informação nova para tentar entender o que ocorrera menos de 12 horas antes com a militante negra que lutava justamente pelo fim da violência de cunho racista contra a população pobre.
Não demorou, no entanto, para que lágrimas cedessem espaço à solidariedade e à indignação. E o resultado foi um ato organizado às pressas e que teve como ponto de partida a Tenda do Povo Sem Medo do FSM.
A mobilização espontânea rapidamente ganhou novos adeptos. Dezenas de camisetas e cartazes de apoio eram feitos coletivamente com caneta, spray e guache. Pessoas que mal se conheciam se uniam na confecção de faixas e bandeiras e um carro de som foi convocado para que a marcha ganhasse corpo.
O silêncio deu lugar ao inconformismo e a palavra de ordem era um recado claro de resistência. “Marielle: Presente! Marielle: Presente! Agora e sempre!”, gritava a multidão.
Em menos de uma hora, a caminhada já havia cativado quase toda a universidade. O choro ia, lentamente, dando lugar à necessidade de manter viva a luta da guerreira Marielle.
“Não vamos nos calar porque ela nunca se calou. Quero que todo mundo grite junto comigo o nome desta mulher que morreu lutando pelo que acreditava. Eu quero é 10 segundos de barulho, não de silêncio”, clamou a estudante Giselle Magiolli, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), uma das mais emocionadas durante o trajeto.
A solidariedade também ganhou respaldo na fala de outro conterrâneo de Marielle. “Ela estará sempre viva e sua morte não pode ser motivo para nos calar. Eu vi irmãos, primos e vizinhos morrerem só pelo fato de serem negros e pobres. Eu vi muita gente como Marielle ser impedida de lutar contra este estado que nos mata todos os dias”, opinou Gabriel Horsth, do centro de teatro do Oprimido no Complexo da Maré, na capital carioca.
Ainda muito abalada, a ativista Mônica Brito, do Coletivo de Mulheres do Xingu, também usou o microfone para mandar um recado ao atual momento de rupturas democráticas vivido no Brasil.
“Mulheres morrem todos os dias. No dia 8 de março morreram mulheres. Hoje e ontem morreram mulheres só por serem mulheres. Nós não queremos mais morrer pela bala do Estado. E, se eles pensam que a morte de Marielle vai acabar com a nossa luta, eles estão enganados.”
União e solidariedade
Também presente no ato, a presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, fez questão de dizer que a morte de Marielle não será em vão.
“Esta é uma caminhada de dor e de revolta, mas que vai despertar uma resistência ainda maior. Temos que dizer basta a esse sentimento de insegurança constante. Nós não podemos deixar que isso aconteça novamente.”
A presidenta também lembrou da importância de unir partidos de esquerda e movimentos sociais para não deixar que a luta da ativista seja interrompida.
“Façamos de Marielle a razão desta causa e o maior símbolo da nossa resistência contra os retrocessos constantes que estamos vivendo no país!”
Por Henrique Nunes da Redação da Agência PT de Notícias, enviado especial à Bahia