No Brasil de Guedes, trabalho informal bate novo recorde
Pnad do IBGE aponta que 39,3 milhões de pessoas trabalhavam sem garantias legais em julho. “Queremos fazer um acordo com empresários e sindicatos para que trabalhadores possam ter direitos”, diz Lula
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A precarização ainda é a grande marca do mercado de trabalho sob Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes. Enquanto o número de desempregados continua na fronteira dos dois dígitos (9,9 milhões), o contingente de trabalhadores sem carteira assinada, por conta própria e empregadores sem CNPJ, além de trabalhadores familiares auxiliares, bateu novo recorde (39,3 milhões de pessoas) em julho.
Esse exército de pessoas com ocupação instável e sem direitos garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como férias, descanso semanal remunerado, 13º salário e FGTS, representa agora 39,8% da população ocupada. É o que revela a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad), divulgada nesta quarta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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O número de trabalhadores por conta própria foi de 25,9 milhões de pessoas. Ante o trimestre anterior, houve crescimento de 1,3% (326 mil pessoas), e na comparação com o mesmo período do ano passado, o avanço foi de 3,5% (mais 872 mil pessoas).
O número de empregadores (4,3 milhões de pessoas) cresceu 3,9% no trimestre (mais 162 mil pessoas) e subiu 16,2% (597mil pessoas) no ano. O número de trabalhadores domésticos (5,8 milhões de pessoas) permaneceu estável ante o trimestre anterior e subiu 14,1% (mais 718 mil pessoas) no ano.
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A população ocupada chegou a 98,7 milhões de pessoas, o maior nível da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. No entanto, o nível de ocupação (percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar) foi de 57%, queda de 1,1 ponto percentual em relação ao trimestre encerrado em abril.
“É possível observar a manutenção da tendência de crescimento da ocupação e uma queda importante na taxa de desocupação”, explica a coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios, Adriana Beringuy. Mas o IBGE considera ocupação até um bico que a pessoa esteja fazendo no dia em que é entrevistada.
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Ao mesmo tempo, o volume de empregados sem carteira assinada também bateu recorde. São 13,1 milhões de trabalhadores, o maior contingente desde o início da série histórica, em 2012. Número 4,8% maior que o do trimestre anterior (mais 601 mil pessoas) e 19,8% superior ao do mesmo período de 2021 (mais 2,2 milhões de pessoas).
O crescimento das vagas sem carteira é o dobro do registrado entre as vagas com carteira. No trimestre, os empregados privados formais chegaram a 35,8 milhões, subindo 1,6% (555 mil) frente ao trimestre anterior e 10,0% (mais 3,3 milhões) na comparação anual.
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Conforme o levantamento do IBGE, esse aumento da informalidade e do emprego sem carteira assinada fez a taxa de desemprego no Brasil recuar para 9,1% no trimestre móvel de maio a julho. É a menor da série histórica desde o trimestre encerrado em dezembro de 2015, quando também foi de 9,1%.
Além disso, os trabalhadores estão ganhando em média 2,9% menos do que ganhavam há um ano. A renda média do trabalhador hoje é de R$ 2.693 por mês. No ano passado, era R$ 2.773. A inflação acumulada em 12 meses, entretanto, está em cerca de 10% – o que leva a uma perda ainda maior do poder de compra do trabalhador.
Lula fala de trabalho com direitos e proteção social
Em entrevista à Rádio Clube do Pará, na manhã desta quarta-feira (31/08), Luiz Inácio Lula da Silva lembrou que, além dos cerca de 10 milhões de desempregados, o Brasil tem milhões de pessoas em empregos precarizados, sem registro em carteira profissional, como se estivessem fazendo bicos. Ele defendeu acordos entre patrões e empregados para que haja algum tipo de proteção social para essa massa.
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“O que nós queremos é fazer alguma coisa. Primeiro, fazer um acordo com empresários e sindicatos, não para que volte a lei anterior, mas para que a gente possa criar condições para que trabalhadores, mesmo os de aplicativo, possam ter direitos¨, afirmou. Lula citou direitos como o descanso semanal remunerado e algum seguro para proteger profissionais como os que atuam em aplicativos em caso de acidente.
“Ele tem que ter férias, ele tem que ter algum tipo de seguro. Para quando tiver algum acidente, bater sua moto, bater seu carro, bater sua bicicleta, ele ter seguro e garantia de que vai poder repor aquilo que ele perdeu”, prosseguiu. “Hoje ele é tratado como um escravo. Se tiver saúde, ele consegue trabalhar, mas se estiver doente não consegue. Se a mulher for ter um filho, não tem (licença) maternidade. Então, é preciso dar civilidade para essas pessoas”, finalizou o presidente mais popular da história.
Da Redação, com Imprensa IBGE