No Chile, Bolsonaro demonstra desconhecimento e constrange o Brasil
Presidente do Senado chileno se recusou a receber Jair: “admiradores de Pinochet não são bem-vindos”. No Brasil, Onyx Lorenzoni fala em “banho de sangue”
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Jair Bolsonaro (PSL) continua em agenda internacional constrangendo brasileiros no mundo inteiro. Depois da visita ao presidente Donald Trump, nos Estados Unidos, foi para o Chile onde, mais uma vez, demonstrou seu desconhecimento sobre economia a sobre a história da América do Sul.
Elogiador de ditadores, Bolsonaro gera polêmicas no país que, durante 17 anos, sofreu uma das ditaduras mais sangrentas do continente. Ele e sua equipe foram ao país vizinho discutir a criação de um novo bloco econômico e conhecer o sistema previdenciário no qual se inspira para a reforma proposta no Brasil. O sistema de Previdência que está em vigor no Chile foi criado pelo ditador Augusto Pinochet e está em processo de revisão para tentar reduzir a pobreza e vulnerabilidade dos idosos.
Embora tenha dito que não falaria sobre o ditador chileno durante a viagem, pouco antes da chegada de Bolsonaro, o seu ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni elogiou a base macroeconômica do governo de Pinochet e disse que, naquele período, “o Chile teve que dar um banho de sangue”.
Ao jornal O Globo, o professor Alberto Aggio, que leciona História da América Latina da Universidade de São Paulo (Unesp), ressaltou a crise econômica que assolou o país durante a ditadura exaltada pelo ministro.
“Lorenzoni esqueceu de mencionar a crise que veio depois das reformas liberalizantes impostas pela ditadura. Houve uma crise tão grande no Chile que os historiadores afirmam que ela foi equivalente à crise de 1929”, contextualizou o professor. Aggio explicou ainda que entre o fim da década de 70 e o início da década de 80, houve um “exílio” do Chile por motivos econômicos: “Não havia como sobreviver, não tinha emprego”, disse em entrevista ao jornal.
Presidente do Senado chileno se recusa a receber Bolsonaro
No Chile, questionado sobre a fala de seu ministro, Bolsonaro se limitou a comparar as duas ditaduras e, em mais um ato de profundo desrespeito à história afirmou que “não houve golpe no Brasil”.
Ele, que tentou forjar uma postura comedida desta vez, também já havia elogiado o general Augusto Pinochet em outras oportunidades, o que não foi esquecido pelo Presidente do Senado chileno, Jaime Quintana Leal. Antes mesmo da chegada do brasileiro, o parlamentar se recusou a participar de um almoço com Jair alegando que “admiradores de Pinochet não são bem-vindos no Chile”. A declaração foi dada em entrevista a BBC Brasil News.
Ao veículo, Leal disse ainda que a recusa não tem está relacionada ao cargo de presidente do Brasil, mas sim “a pessoa de Jair Bolsonaro e suas declarações homofóbicas, misóginas e em relação à tortura”. Para o senador, participar de um evento em homenagem ao brasileiro “atingiria muitas pessoas de nosso país que se sentem prejudicadas por suas declarações”.
Entre representantes do Congresso chileno e entidades de direitos humanos também houve protestos contra a visita de Bolsonaro devido às declarações que ele deu sobre Pinochet em outros momentos. Em entrevistas, Jair chegou a afirmar que o ditador “fez o que tinha que ser feito” e que “devia ter matado mais gente”.
Ditadura chilena queimou pessoas vivas
O regime que já foi elogiado por Bolsonaro, seu filho Eduardo (PSL) e seu ministro Onyx Lorenzoni é reconhecido como uma das ditaduras mais violentas da América Latina. O país foi redemocratizado em 1990, quando opositores ganharam um plebiscito e Pinochet foi exilado. Ele viveu fora do país até 2006, quando morreu em liberdade, mas seu governo continua sendo uma ferida aberta no país.
A Folha de São Paulo informou que, nesta quinta-feira (21), a Justiça chilena condenou 11 ex-oficiais acusados de queimar vivos o fotógrafo Rodrigo Rojas, de 18 anos, e a estudante Carmen Gloria Quintana, 19 anos. Ele morreu poucos dias depois. Ela teve graves queimaduras, mas sobreviveu ao atentado e ainda está viva, é psicóloga e trabalha para o Governo do Chile. Os dois participavam de um protesto contra a ditadura quando foram detidos e, posteriormente, queimados vivos.
Sistema de capitalização na Previdência do Chile levou idosos à pobreza
O modelo de Previdência que está em vigor no país andino foi instituído pelo ditador Pinochet, que capitalizou o sistema em 1983. O sistema privado de aposentadorias é uma inspiração para Bolsonaro, mas o que aconteceu no Chile foi o aumento da pobreza entre os idosos. Estimasse que nove em cada dez aposentados recebe menos que 60% de um salário mínimo e estão em situação de vulnerabilidade.
Em 2008, o sistema precisou ser revisto para que voltasse a ter um pilar solidário, que paga benefícios para esses idosos em situação de pobreza. Eles correspondem a 1,5 milhão dos 2,8 milhões de aposentados. Agora, a Previdência está sendo reformulada mais uma vez em uma tentativa de resolver o grave problema que recai sobre os idosos do Chile.
Da Redação da Agência PT de Notícias com informações de O Globo, BBC Brasil e Folha de São Paulo