Novo DCE da USP toma posse em clima de resistência
Evento contou com a presença da senadora e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann; Tema central foi a defesa da universidade pública e da democracia
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No momento em que o Ensino Superior brasileiro é frontalmente atacado por um governo ilegítimo que corta recursos pelos próximos 20 anos, ataca frontalmente a soberania universitária, persegue reitores e desmonta núcleos de pesquisa duramente construídos, a chapa “Nossa Voz” assume o Diretório Central Estudantil (DCE) Livre da USP (Universidade de São Paulo) com espírito de resistência e luta.
A cerimônia de posse da chapa, composta por integrantes dos grupos Balaio, Levante Popular, União da Juventude Socialista (UJS) e por estudantes independentes, foi realizada na noite desta quinta-feira (14), na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP), em São Paulo.
A solenidade contou com a participação de movimentos estudantis, senadores e deputados petistas e de outros partidos de esquerda. Em suas falas, lideranças políticas e estudantis relembraram o histórico político do DCE de luta contra a ditadura.
Sobretudo, destacaram a importância dos movimentos estudantis e dos jovens na luta em defesa da universidade pública gratuita e da democracia, assim como o embate ao desmonte de direitos civis promovido pelo governo golpista.
“Tenho orgulho da maturidade política de vocês (da chapa Nossa Voz), que optaram pela unidade em torno de uma causa maior”, elogiou a senadora e presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
Integrante do movimento Balaio, que reúne jovens petistas (JPT) de diversas correntes desde o final de 2014, Laura Martin aponta a luta pela manutenção do Hospital Universitário aberto e pela universidade gratuita como principais pautas do novo DCE.
“Defendemos a universidade pública. Muito se fala em falta de verba, mas a universidade é pública e do povo. Cabe ao Governo do estado encontrar soluções para manter esse status”, afirmou.
“Se o HU fechar, os estudantes não terão onde estudar e milhares de pessoas ficarão sem atendimento médico. Isso mostra a situação de sucateamento da Universidade pelo Governo do Estado.”
Luna Zarattini Brandão, estudante de Ciências Sociais, reitera a defesa da universidade pública e para todos como principal bandeira de luta. Ela enumera também os cortes nas bolsas do CNPq, a demissão de professores e cortes na Permanência Estudantil – instância de auxílio aos estudantes – como desafios a serem enfrentados pelo DCE.
Sobre o papel do movimento estudantil no cenário político nacional, a estudante diz: “A gente acredita que o movimento estudantil é fundamental na resistência ao golpe. Temos um caráter de resistência, porque hoje quem está pautando (o governo) é o empresariado”.
Ela citou também que o DCE irá lutar contra “arbitrariedades” como as que aconteceram na UFMG, onde oito dirigentes e servidores, incluindo o reitor, foram conduzidos coercitivamente à sede da Polícia Federal “sem nenhuma prova”.
Para Gabriel GoldFajn, estudante de economia e também membro da nova chapa do DCE, o assunto central “é a questão da permanência e a defesa do caráter público e da universidade democrática”, assim como “lutar contra o abuso e a repressão a alunos”.
“Vamos assumir num ano ímpar. O movimento Estudantil terá participação direta no debate para 2018. Vamos defender a universidade pública e democrática, e nos posicionar contra a criminalização da política”, completou o estudante.
Integrante do Levante Popular da Juventude, outro movimento de jovens que compõe a chapa, Kyo Kobayashi ressalta que o primeiro desafio é “trazer de volta a entidade aos estudantes”, reaproximando o DCE da comunidade estudantil.
No plano nacional, Kyo afirma que “a disposição do Levante é ajudar a garantir a candidatura de Lula, que sofre perseguição política da mídia e do judiciário”. “Na nossa avaliação, as eleições de 2018 serão um referendo ao golpe”, afirmou.
Na opinião de Bianca Borges, representante da UJS na chapa Nossa Voz, a ideia é “trazer a USP mais próxima da comunidade”, para que “cumpra a sua função social de dar retorno à sociedade”.
Ela destacou também o papel do movimento estudantil não só dentro da comunidade acadêmica, como também na sociedade. “Acreditamos que o movimento estudantil é uma das principais forças de mudança da sociedade, de reconectar os estudantes à luta política deste País”, concluiu.
“A resistência ao golpe também se deu pela Juventude, que esteve presente no movimento contra o impeachment. (Com o golpe) Estamos encerrando o maior período de democracia contínua no Brasil, e isso gerou retrocesso em curto espaço de tempo”, disse Gleisi.
“A resistência é fundamental (pra lutar contra o retrocesso). A luta pela educação, universidade pública, a luta pelo povo pobre. E vimos a perseguição a Lula, que representa a ascensão do povo pobre”, continuou a senadora.
“O ano de 2018 começou agora, com o julgamento de Lula. E qualquer setor progressista deve lutar contra isso, porque com isso eles querem ferir a democracia e fraudar a vontade popular”, discursou.
Nesta semana, o TRF4 agendou o julgamento de Lula na segunda estância em tempo recorde, menos da metade do tempo que outros processos costumar correr neste tribunal.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), também presente no evento, relembrou que o papel do movimento estudantil foi “decisivo” em mobilizações progressistas na história do País e afirmou que este protagonismo da juventude deve continuar.
“Precisamos que vocês (jovens) exerçam o protagonismo. Só o povo na rua para o golpe”, clamou. “Dediquem esses anos de vocês para levantar o povo e se mobilizar pela universidade pública, pela democracia e pelo povo de nosso país.”
O líder da bancada petista na Câmara, Carlos Zarattini (PT-SP), por sua vez, comentou uma das pautas do DCE, que é a luta contra o fechamento do Hospital Universitário (HU), sucateado pelo governo estadual tucano. Em novembro, o Hospital teve seu Pronto-Socorro Infantil fechado.
“A USP não pode ser a universidade da elite, a USP deve prestar serviço público para a população”, afirmou. “A faculdade de medicina deve atender o povo desse País”.
O deputado federal também falou da importância dos DCEs como “bastião da luta contra o autoritarismo e pela democracia”, e, por fim, comentou a vitória da oposição na Câmara em adiar a votação da Previdência.
“Em 2018 enfrentaremos a tentativa da Reforma da Previdência. Vamos impedir novamente”, disse. “Essa é uma reforma contra a juventude e contra as mulheres”.
O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) também recordou o histórico do DCE de luta contra a ditadura e comparou aquele momento com os tempos atuais.
“Aqui, organizou-se a resistência à ditadura militar. A juventude ajudou a derrubar a ditadura no País”, discursou. “Agora vivemos um momento de recessão. A juventude vive a desesperança, com o Brasil sem empregos e sem oportunidade.”
“Temos que unir a juventude para o resgate da democracia no Brasil. Temos que dar uma resposta a eles (golpistas) resgatando a soberania nacional”, afirmou Teixeira.
O evento contou também com a presença do presidente do PT do Estado de São Paulo, Luiz Marinho. O ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ministro na época do Governo Lula também falou em “unidade para combater o golpe” e em “defender a candidatura de Lula”.
A chapa Nossa Voz foi eleita no dia 11 de novembro, após mais de um mês de votação.
Composto por uma grande convergência de forças, a chapa conquistou 4.342 votos, 65% dos votos válidos. Em segundo lugar ficou a chapa “Pode chegar e não para”, com 1531; seguido por chapa “Abstenção” com 239; “Primavera nos Dentes”, com 230; “Embarca na Luta”, com 142; e chapa “Território Livre”, com 60 votos. Brancos e nulos tiveram 126.
A solenidade contou com a presença também do ex-ministro da Saúde e atual vice-presidente do PT, Alexandre Padilha; do deputado estadual José Américo (PT); Misa Boito, liderança histórica do PT; Simão Pedro, vereador em São Paulo pelo PT; Orlando Silva, deputado federal pelo PC do B; Mariana Dias, presidente da UNE; Emerson Santos, da UPES; Nayara Souza, da UEE; Carina Vitral, ex-presidente da UNE e integrante da UJS; Ramom Motta, da UBES; Raimundo Bonfim, da CMB, entre outras lideranças políticas e estudantis.
Da Redação da Agência PT de Notícias