O Estado é fundamental para enfrentar a crise, defendem Barbosa e Mello
Em entrevista à TV PT, os economistas Nelson Barbosa e Guilherme Mello explicam a importância do papel do governo para amenizar os efeitos da crise do coronavírus
Publicado em
A crise do coronavírus tem exigido a forte atuação dos governos de todos os países do mundo. Independentemente do modelo de administração pública, os estados são os principais atores no enfrentamento dos efeitos sociais e econômicos da pandemia do Covid-19. No Brasil não é diferente, e é por isso que a ação dos poderes são fundamentais, como por exemplo, na aprovação no Senado Federal do seguro quarentena. O projeto, que já foi aprovada na Câmara dos Deputados, segue agora para a sanção da Presidência da República.
Esse, no entanto, talvez seja um ponto de preocupação da sociedade brasileira, uma vez que, Jair Bolsonaro (sem partido) tem defendido medidas econômicas em prol do mercado e que só penalizam os trabalhadores mais pobres. O despreparado presidente se diz preocupado com a renda das famílias brasileiras, mas ofereceu um auxílio de apenas R$ 200, durante o período de isolamento – a proposta aprovada, do PT e dos outros partidos de oposição, é de R$ 600 a R$ 1.200.
Em entrevista à TV PT, os economistas Nelson Barbosa e Guilherme Mello defenderam que é preciso que o Governo Federal seja ágil para implementar o benefício, já que é quem deveria estar coordenando as ações para enfrentar a crise do coronavírus.
“Os efeitos econômicos da crise não vão durar só dois, três ou quatro meses. Quando o país sair do isolamento, ainda assim vamos precisar cada vez mais de planejamento e de uma indução do Estado. Primeiro porque não se sai de uma vez do isolamento, tem de ser feito de forma planejada, setor por setor, e isso exige o Governo Federal coordenando. E segundo porque exige uma série de investimentos públicos, tanto no setor da saúde, como na transferência de renda, porque mesmo com o seguro aprovado, a renda do brasileiro vai cair”, explica Mello, que é professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Nelson Barbosa, ex-ministro do Planejamento e da Fazenda, por sua vez, destacou que é preciso uma atuação conjunta do Governo Federal com os estados e prefeituras, diferentemente do que vem fazendo Bolsonaro, que tem causado conflitos com as unidades da federação brasileira. “Prejudica muito porque essa é uma crise sem precedentes. A gente nunca enfrentou uma crise social e econômica como essa. O governo tem que trabalhar junto com prefeitos e governadores e não contra. Todos os países do mundo estão fazendo essa coordenação federal. A implantação das políticas é feita pelos governos regionais, mas é fundamental a coordenação nacional”, aponta Barbosa.
O ex-ministro lembrou ainda que é preciso garantir a renda dos trabalhadores do setor formal e ajudar as pequenos e micro empresas do país, como na proposta apresentada pelo Partido dos Trabalhadores. “É preciso garantir a proteção do emprego dos trabalhadores formais e também das empresas. Para fazer isso, você pode pagar parte dos salários e a parte restante oferecer crédito às empresas, com juros baixo ou zerado, como propôs o PT, por exemplo”, explica o economista ao comentar a medida apresentada, que pode beneficiar cerca de 30 milhões de trabalhadores e proporciona uma linha de crédito de R$ 300 bilhões do BNDES e Banco Central para empresas.
Retomada da economia passa por combater a austeridade
Os efeitos econômicos da crise do coronavírus tem provocado mudanças no pensamento de economistas neoliberais, apontam Mello e Barbosa. Os dois entrevistados, no entanto, lembram que a postura dos defensores do mercado financeiro não pode simplesmente se alterar após a crise passar.
“O pós-crise vai exigir algumas importantes ações do estado, como um planejador da atividade econômica. Não adianta flexibilizar as políticas fiscais agora na crise e depois voltar a fazer austeridade. Obviamente que vai aumentar a dívida pública e o déficit, mas é algo que se pode acertar depois. Vai aumentar a desigualdade. Por isso, o papel do Estado vai ser decisivo. Vai precisar pensar em frentes de empregos, retomar as obras de infraestrutura, que são fundamentais nesse processo de retomada da economia”, explica o professor da Unicamp.
“Os economistas neoliberais estão passando por uma crise, algo como um ‘keynesianismo pós-traumático’. Agora, estão abandonando as premissas do pensamento deles e defendem que o Estado tem que atuar. Eles estão defendendo a ação do Estado como indutor da economia e do mercado interno até dezembro. Depois querem a voltar da austeridade fiscal. Nenhum lugar do mundo vai fazer isso, porque ninguém sabe quanto vai durar a crise. Chegar agora e dizer que as medidas são temporárias e que quando passar vamos fazer um reajuste fiscal maior é um contra-senso. Não adianta em janeiro voltar com teto de gastos, isso é irrealista. A saída da crise vai ser lenta. Uma reforma tributária progressiva, por exemplo, contribui pois contribui quem pode mais”, finaliza o ex-ministro da Fazenda.
Da Redação da Agência PT de Notícias