Orçamento de Guedes aprofunda arrocho, recessão e desigualdade

A proposta de orçamento apresentada pelo governo Bolsonaro ao Congresso Nacional, ontem, 31, aprofunda ainda mais a desigualdade no país. De um lado, destina R$ 2,2 trilhões para encargos da dívida pública, ou seja, para os bancos e aumenta o dote para a Defesa. De outro, sequer prevê recursos para estender o auxílio emergencial para 2021 ou ampliar o Bolsa Família. E, diante da queda histórica do PIB (Produto Interno Bruto), não sinaliza investimentos para recuperar a economia no pós-pandemia.

Os sinais que apontam para o avanço do desastre social e econômico no país são inúmeros na peça orçamentária, destaca o economista Bruno Moretti, assessor da liderança do PT no Senado Federal. Novamente, o salário mínimo não tem valorização real e foi reduzido em relação ao previsto no PLDO – de R$ 1.075,00 caiu para R$ 1.069,00. Sem crescimento real, o governo estima-se inflação de 2,11% (INPC), enquanto o INPC de alimentos e bebidas já soma 4% de aumento apenas até julho.Com isso, os trabalhadores sofrerão perdas enormes neste segundo semestre.

Governo anti-povo

“Reduzir o preço do gás de cozinha? Reduzir o preço da energia elétrica? Reduzir o preço dos combustíveis? Reduzir os juros do cartão? Não. Bolsonaro vai reduzir o salário-mínimo, que serve para pagar essas contas”, criticou o senador Rogério Carvalho (SE), líder da bancada do PT.

Para o líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados, Enio Verri (PR), Bolsonaro pode ter qualquer tipo de interesse pelo Brasil, menos no seu desenvolvimento. “Ele e Guedes não deram aumento real ao salário mínimo, que é a melhor política de transferência de renda do mundo. Para eles, os pobres devem se manter na condição de pobreza”, denunciou em seu perfil no Twitter.

Garrote na saúde

Na saúde, em meio à pandemia, o Ministério da Saúde perdeu R$ 38 bilhões em relação a 2020, como o PT e a oposição alertaram,lembra Moretti. “O corte ocorre diante de um quadro em que haverá necessidade de investimento extra para vacina contra a Covid-19, de mais insumos nas UTIs e da manutenção de leitos adicionais”, diz ele.

Por outro lado, de acordo com Moretti, a pandemia evidenciou a necessidade de investimentos na indústria da medicina para produzir equipamentos. Também flagrou o equívoco da falta e mesmo do corte de apoio à ciência e tecnologia, laboratórios e universidade. A realidade impõe a urgência de investimentos no setor.

Investimento pífio

Para completar o quadro, a proposta de investimento está abaixo de R$ 30 bilhões, cerca de R$ 15 bi de redução em relação à LOA 2020, que já era muito baixo. A queda do gasto público agravará ainda mais o cenário da economia, já em recessão, do mercado de trabalho.

Atualmente, o país conta com mais de 12 milhões de desempregados e quase 30 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho. Sem renda, as pessoas deixarão de consumir e cairá o acesso a serviços essenciais, com a saúde. O orçamento, com cortes de investimentos e arrocho salarial resultará na mais grave crise da história do país.