Osvaldo Russo: A história do PT não acabou
A perseguição política em curso não vai impedir o PT de continuar fazendo história. Unido, com Lula e sua militância, ao lado dos movimentos sociais e de outros partidos progressistas e de esquerda
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Emociona ouvir históricos e combativos militantes petistas falarem sobre as origens e a fundação do Partido dos Trabalhadores. Orgulha ouvir que Mário Pedrosa, intelectual e crítico de arte, e Apolônio de Carvalho, herói comunista internacionalista, foram os primeiros militantes a assinar o manifesto de fundação do PT.
Encoraja ouvir que o PT foi formado por militantes da esquerda forjados na clandestinidade, na luta armada, nas comunidades de base das igrejas e no novo e combativo movimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras do país que tem no operariado do ABC paulista o seu berço e a sua vanguarda mais destacada.
Desde a sua fundação, o PT se proclama socialista e democrático, de forma não antagônica, mas diferenciada da organização centralizada dos partidos comunistas e crítico ao socialismo que se tornou burocrático na União Soviética e no Leste Europeu.
Participou intensamente das lutas políticas, sociais e sindicais, da formação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do apoio ao movimento sindical e aos movimentos sociais das cidades e do campo. Combateu a ditadura militar e lutou pela anistia política, as Diretas Já, a redemocratização do país e a participação popular na Assembleia Nacional Constituinte.
Seus militantes foram perseguidos e Lula e outros dirigentes sindicais foram presos e processados pelo regime de arbítrio.
Em 1985, por firmar posição contra a legitimidade do colégio eleitoral, decidiu expulsar seus deputados que contrariaram a posição partidária. Na sua trajetória, resistia em fazer alianças eleitorais mais amplas com outros partidos. Essa foi, de um lado, a infância esquerdista do PT, mas, por outro lado, a sua afirmação como partido de massas, ideológico, diferenciado e de oposição ao sistema político tradicional.
Com o estreitamento de alianças e uma proposta de programa de governo bem mais à esquerda, Lula, apesar da grande liderança nacional que já representava, foi derrotado em três eleições presidenciais seguidas. Em 1999, no II Congresso, o PT começa a definir um campo democrático mais amplo de alianças programáticas. Lideranças expressivas não foram perseguidas por seus erros, mas pelo que simbolizavam.
Na campanha eleitoral de 2002, Lula e o PT se apresentam ao povo brasileiro com um discurso e um programa que garantiria respeito institucional a direitos e contratos, dentro e fora do país, sem abdicar, entretanto, de promover as mudanças sociais e econômicas necessárias e defender os interesses nacionais e a soberania do Brasil.
Ainda assim, Lula e o PT enfrentaram campanha sórdida de mentiras e ameaças da direita que tentava incutir medo à população caso Lula vencesse. Mas a esperança venceu o medo, e Lula se tornou o primeiro trabalhador presidente da República, que liderou uma nova história de conquistas do povo brasileiro, dos pobres e excluídos.
A partir do chamado “mensalão”, explorado e distorcido pela mídia monopolista, o PT foi atingido em sua imagem junto à sociedade, inclusive junto a filiados, ao se confundir com partidos tradicionais em seus métodos de financiamento de campanhas eleitorais.
Mas querer atribuir a uma só tendência interna os erros políticos do partido é uma narrativa equivocada que a direita e os adversários do PT fazem em relação ao partido. Os problemas do PT e os seus desafios só serão enfrentados e superados a partir da unidade política interna e do respeito à diversidade de ideias, opiniões e posições.
O PT não errou em fazer alianças que possibilitaram a governabilidade para concretizar as realizações dos governos Lula e Dilma em promover o desenvolvimento com inclusão e equidade, gerando emprego e renda, abolindo a fome, garantindo a proteção social, reduzindo a pobreza e as desigualdades, priorizando as políticas de gênero e igualdade racial, ampliando o acesso a universidades e escolas técnicas e adotando uma política externa soberana e de proximidade com os países da América Latina e África.
Mas partido e governo erraram ao não priorizar o protagonismo dos movimentos sociais e não enfrentar o desafio de democratizar os meios de comunicação que manipulam a opinião pública se fazendo de partidos políticos contra interesses populares e nacionais.
É preciso combater o golpe que rasgou a Constituição e viola o Estado Democrático de Direito. A desordem institucional explode no colo do povo, com entrega de nossas riquezas, retrocesso de direitos, desemprego, miséria, caos social e barbárie. É preciso resgatar a esperança e definir um programa de reformas estruturais que volte a encantar os trabalhadores – incluídos e excluídos – e sensibilize segmentos médios e produtivos.
A perseguição política em curso não vai impedir o PT de continuar fazendo história. Unido, com Lula e sua militância, ao lado dos movimentos sociais e de outros partidos progressistas e de esquerda, o PT vai continuar sonhando e lutando para mudar o Brasil.
Por Osvaldo Russo, estatístico, filiado ao PT-DF, foi coordenador agrário nacional do PT, para a a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.
ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores