PEC da Previdência afasta população negra da aposentadoria
Segundo o IBGE, em média, os brancos vivem 73 anos, já os negros, que entram mais cedo no mercado de trabalho e passam mais tempo na informalidade, têm expectativa de vida de 67 anos
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Além da desigualdade cotidiana vivida pela população negra no Brasil, a discriminação toma novas formas na proposta de reforma da Previdência de Jair Bolsonaro. Para especialistas, ao ignorar questões sociais elementares e séculos de racismo, o projeto do governo poderá retirar o direito à aposentadoria desse segmento. Segundo o IBGE, em média, os brancos vivem 73 anos, já os negros têm expectativa de vida de 67 anos.
Como a proposta para receber o benefício da aposentadoria estabelece idade mínima de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, grande parte dos negros não vai conseguir cumprir essa exigência, acredita a economista do Dieese Patrícia Pelatieri. “Olhando para essas informações, nós vemos que a grande maioria estará excluída da possibilidade de se aposentar com a proposta apresentada pelo governo”, finaliza.
Para o ex-secretário municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo Maurício Pestana, a PEC da Previdênciado governo Bolsonaro será como a volta ao período da escravidão.
“Nós, negros, somo os mais afetados com esse retrocesso. Em algumas áreas, a gente está regredindo dez anos, com a reforma, vamos voltar 100 anos. Pesquisas do Ipea e do Dieese mostram que o negro começa a trabalhar muito mais cedo”, explica, em entrevista ao repórter Jô Myiagui, da TVT.
Além de entrarem mais cedo no mercado de trabalho, os negros recebem os menores salários e ficam mais tempo na informalidade, o que dificulta o acesso à aposentadoria. “Infelizmente, temos que deixar o estudo muito mais cedo para nos inserir no mercado de trabalho. O reflexo de deixar a educação antes coloca os trabalhadores negros nos empregos precários”, afirma Rosana Fernandes, secretária-adjunta de Combate ao Racismo da CUT.
De acordo com a dirigente sindical, as mulheres negras serão ainda mais prejudicadas. “Quando a gente faz um debate sobre quem fica responsável pelo cuidado das crianças, pelo cuidado do lar, são as mulheres. Grande parte das mulheres negras são chefes de família, então o trabalho é até quadruplicado”, acrescenta ela.