Pesquisa do IBGE: país continua atolado em desemprego e trabalho precário
Queda de 0,1 ponto percentual na taxa de desocupação mantém país na faixa dos 12 milhões de desempregados. Queda dos rendimentos em um ano é de 8,7%
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Nada de novo no front do estagnado mercado de trabalho brasileiro. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, anunciados nesta sexta-feira (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram um país atolado na faixa dos 12 milhões de desempregados neste primeiro trimestre. A taxa de desocupação é de 11,1%, ou 11,949 milhões de pessoas que não encontram emprego.
O resultado, 0,1 ponto percentual (p.p.) abaixo dos 11,2% registrados no trimestre encerrado em fevereiro, é o menor para um trimestre encerrado em março desde 2016, quando também foi de 11,1%. Mas ainda está muito distante da mínima histórica alcançada em 2014, sob Dilma Rousseff (6,5%). E não impediu que a população ocupada (95,3 milhões) caísse 0,5%, ou 472 mil pessoas a menos no mercado em três meses.
O nível da ocupação (percentual de ocupados na população em idade de trabalhar) caiu junto, para 55,2%, contra 55,6% no trimestre anterior, na primeira queda em quatro trimestres. A explicação é que não houve crescimento na busca por emprego no trimestre, cenário diferente do histórico, quando, pelo efeito da sazonalidade, sobe a procura por trabalho nessa época do ano.
“Se olharmos a desocupação em retrospecto, pela série histórica, podemos notar que, no primeiro trimestre, essa população costuma aumentar devido aos desligamentos que há no início do ano. O trimestre encerrado em março se diferiu desses padrões”, afirma a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy.
Além disso, a queda do número de trabalhadores por conta própria na comparação com o último trimestre foi de 2,5%, o que representa a saída de 660 mil pessoas. Desse contingente, 475 mil eram trabalhadores sem CNPJ.
“Os empregados sem carteira no setor privado ficaram estáveis, depois de três trimestres em expansão. Já o número de trabalhadores por conta própria teve retração após cinco trimestres de aumento”, comenta a pesquisadora. “No trimestre encerrado em março, essa queda no trabalho por conta própria respondeu pela redução no total da população ocupada.”
Impactada por essa retração, a taxa de informalidade chegou a 40,1%, após redução de 0,6 p.p.. O número de informais caiu 1,9%, totalizando 38,2 milhões. A participação dos trabalhadores por conta própria sem CNPJ nesse recuo foi de 64%. Por outro lado, o número de empregadores cresceu 5,7%. São 222 mil pessoas a mais. O trabalho formal respondeu por boa parte desse número: 186 mil desses empregadores tinham CNPJ.
Trabalho formal desacelera
A população dos empregados no setor privado com carteira de trabalho assinada cresceu 1,1% e foi estimada em 34,9 milhões de pessoas. “Essa categoria cresceu pelo quarto trimestre consecutivo, porém em percentual menor ao observado nos trimestres de 2021, respectivamente, segundo (1,8%), terceiro (4,4%) e quarto (2,9%) trimestres”, pondera a pesquisadora.
A construção civil registrou redução no contingente de trabalhadores na comparação com o trimestre anterior. O número de empregados desse segmento caiu 3,4%, ou 252 mil pessoas. Os outros setores permaneceram no mesmo nível do período anterior.
“A queda no número de ocupados na construção ocorreu principalmente entre trabalhadores por conta própria e empregados sem carteira, que representam parcela relevante dos ocupados na atividade”, explica Beringuy. “A queda na informalidade no trimestre pode ser associada à redução desses trabalhadores na construção.”
Com a retração no contingente de ocupados, o crescimento da população fora da força de trabalho foi de 1,4%, ou mais 929 mil pessoas. Já a força de trabalho potencial caiu 6,8%, ou 610 mil pessoas. Esse grupo reúne os que não estavam ocupados nem procuravam vaga, mas tinham potencial para se transformar em força de trabalho. O IBGE considera desempregadas pessoas que efetivamente procuraram emprego nos 30 dias anteriores à realização da pesquisa.
Embora o rendimento médio real tenha crescido 1,5% em relação ao trimestre encerrado em dezembro, chegando a R$2.548, ainda permanece 8,7% abaixo do nível do primeiro trimestre de 2021. A massa de rendimento (R$237,7 bilhões) permanece estagnada na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Da Redação, com Agência IBGE