Petrobrás: dividendos recordes a acionistas inviabilizam investimentos no país

“A Petrobrás entregou em dividendos mais de R$ 215 bilhões, quando ela deveria ter investido metade no crescimento econômico desse país, na indústria brasileira, na indústria naval”, defende Lula

A Petrobrás precisa retomar investimentos para o país voltar a crescer, defende o presidente Lula (Foto: Tânia Rêgo - Agência Brasil)

Com pagamentos bilionários de dividendos a acionistas privados, a Petrobrás obteve em 2022 o maior lucro líquido da história quando se trata de uma empresa brasileira. De acordo com o balanço divulgado pela companhia, nesta quarta-feira (1º), o lucro líquido recorde foi de R$ 188,3 bilhões, um crescimento de 77% em relação ao ano anterior. A previsão é de que a estatal distribua um total recorde de R$ 215,7 bilhões em dividendos relativos apenas ao ano de 2022, mais do que o dobro do que foi pago em 2021.

Segundo relatório divulgado pela empresa, “somente no 4º trimestre de 2022, o lucro líquido da companhia foi de R$ 43,3 bilhões, 38% superior ao mesmo período do ano anterior”. Ainda de acordo com o documento, foram recolhidos um total de R$ 279 bilhões em tributos e participações governamentais no Brasil. Com isso, a companhia autorizou o pagamento de dividendos no valor de R$ 35,8 bilhões, que serão repassados em duas parcelas de R$ 17,9 bilhões. A primeira será paga em maio e a segunda em junho.

O escandaloso quadro atual aponta para a necessidade de um redirecionamento da empresa para voltar a investir em projetos visando o desenvolvimento do país. Para isso, no entanto, é necessária uma revisão do Preço de Paridade de Importação (PPI). Trata-se de um mecanismo que, na prática, dolariza os preços dos combustíveis, permite a manutenção de pagamentos de dividendos exorbitantes a acionistas não comprometidos com o crescimento do país e, por fim, impede a própria empresa de garantir autonomia energética ao Brasil.

O balanço divulgado foi criticado pelo presidente Lula, durante cerimônia de lançamento do Bolsa Família, nesta quinta-feira (2). “A Petrobrás entregou em dividendos mais de R$ 215 bilhões, quando ela deveria ter investido metade no crescimento econômico desse país, na indústria brasileira, na indústria naval”, disse o presidente, indignado.

“A Petrobrás, ao invés de investir, resolveu agraciar os acionistas minoritários com R$ 215 bilhões, tendo um lucro de R$ 195 bilhões. E quanto foi o investimento? Quase nada, porque a Petrobrás, que no nosso tempo era uma empresa de desenvolvimento desse país, agora é uma empresa exportadora de óleo cru”, lamentou Lula.

“Não foi para isso que nós descobrimos o pré-sal”, reagiu o presidente. “O pré-sal era para que a gente tivesse um passaporte para o futuro do nosso povo e para que a gente exportasse derivado de petróleo, e não óleo cru, como estamos exportando”, protestou.

“Dividendos indecentes”

“A Petrobrás foi central na nossa discussão de campanha”, lembrou a presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, em entrevista ao site Metrópoles, na manhã desta quinta. “O preço dos combustíveis, os investimentos, que pararam, os dividendos, que são absurdos, indecentes, isso tudo tem que mudar”, afirmou.

“O presidente [Lula] disse na campanha, nós dissemos, que ia mudar a política de preços da Petrobras”, advertiu Gleisi. “Não tem porque ter essa política de dolarização e pagar esses dividendos. Em dois anos, são R$ 280 bilhões pagos em dividendos. Quantos investidores tem a Petrobrás?”, questionou a petista.

“Isso é um tapa na cara de mais de 200 milhões de brasileiros, que pagam gasolina e diesel alto. Tá errado. Ninguém está dizendo que não tem que ganhar, mas não desse jeito, é escorchante”. Gleisi afirmou que haverá mais competitividade se o combustível for mais barato, inclusive com impacto positivo no processo inflacionário.

Falta investimento

De fato, desde que o PPI foi adotado no país, em 2017, a política da Petrobrás vem impedindo investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, em projetos que promovam a exploração de novas reservas de petróleo e gás e o próprio aumento da produção.

“Ao longo de 2022, a Petrobrás registrou, mais uma vez, tímida política de investimentos, com encolhimento de patrimônio e perda de capacidade produtiva”, atesta a Federação Única dos Petroleiros (FUP), em comunicado. Daí a necessidade de uma revisão completa na atuação da companhia, defende a entidade.

“Os resultados financeiros e operacionais da Petrobrás anunciados ontem, com lucro recorde e megadividendos, reafirmam necessidade urgente de mudanças na política de preços dos combustíveis”, aponta a FUP, destacando que o modelo atual foi pensado apenas para gerar e distribuir dividendos.

Da Redação, com Metróples e FUP

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