PIB cresce 7,7%, mas está longe de recuperar economia. E sem auxílio, o pior está por vir
Bolsonaro e Guedes ainda estão longe das promessas, porque atividade econômica retorna, mas está abaixo das expectativas do mercado. Voltamos a ter uma economia do mesmo tamanho de 2017. E a situação pode pior, depois que o governo cessar a partir de janeiro o pagamento do auxílio emergencial, que vem dando tração ao país, graças à proposta do PT e das oposições aprovada pelo Congresso. Desemprego deve chegar a 18% em 2021, segundo a própria equipe econômica
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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na manhã desta quinta-feira, 3 de dezembro, que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 7,7% no terceiro trimestre deste ano, na comparação com os três meses antecedentes. Apesar do número aparentemente ser bom, está longe do cenário de recuperação desenhado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele próprio admitiu que os dados estão abaixo da expectativa, mas continua prometendo que a economia está “realmente voltando”.
“É a economia voltando, está voltando em ‘V’ como sempre dissemos. Houve revisões de trimestres anteriores, e por isso o resultado veio um pouco abaixo do esperado, mas o fato é que a economia está voltando em ‘V’, realmente está voltando”, afirmou, ao chegar à sede da pasta. Apesar do otimismo de Paulo Guedes, o ilusionista do governo, os dados são preocupantes e não enganam a ninguém. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda do PIB é de 3,9%.
O fato é que o país não avança, graças à política econômica do governo de Jair Bolsonaro, que impede investimentos do Estado e promove ajuste fiscal. De julho a setembro, o valor do PIB totalizou R$ 1,9 trilhão. Parece ótimo, mas a economia do país voltou para o passado e está no mesmo tamanho de 2017, com perda acumulada de 5% de janeiro a setembro, em relação ao mesmo período de 2019. Ou seja, saímos de um tombo de 12% para um PIB negativo de 5%. A economia brasileira continua no buraco.
Motor do país, auxílio termina em dezembro
A expansão do terceiro trimestre ocorre em meio à liberação do auxílio emergencial para mais de 60 milhões de pessoas e também ao relaxamento das medidas de isolamento social para combater a pandemia de Covid-19. O auxílio ajudou a manter o consumo, as vendas do varejo subiram a níveis recordes, e contribuiu para que a produção industrial a voltasse ao patamar pré-pandemia. Mas isso tudo acaba neste mês.
A partir de janeiro, 14 milhões de brasileiro estarão sem renda e passarão a engrossar a fila dos desempregados. As estatísticas para o mercado de trabalho, projetadas pelo próprio governo, são sombrias. O desemprego deve chegar a 18%. Atualmente, a taxa está em torno de 14,6%.
De acordo com o IBGE, no segundo trimestre, o PIB caiu 9,6%, na comparação com os três meses anteriores, dado revisado de queda de 9,7% divulgada antes. Apesar da alta de 7,7%, o mercado esperava mais. Segundo 39 consultorias e instituições financeiras, consultadas pelo jornal Valor Econômico, a expectativa era de uma média de crescimento de 8,8% no período, com intervalo de projeções de 7,2% a 9,5%.
Cenário de incerteza para o próximo ano
A situação é preocupante para 2021 porque os estímulos fiscais generosos, em especial o auxílio emergencial, contribuíram de modo decisivo para o crescimento do terceiro trimestre, mas cessam este mês. Então, o consumo das famílias e o investimento, que foram os destaques agora, não terão força para dar empuxo no próximo ano. Para 2021, há incerteza.
O porta-voz do sistema financeiro na mídia, o Valor Econômico, destaca que tudo está nebuloso. “O teto de gastos será respeitado? O governo vai estender o auxílio emergencial por alguns meses no começo do ano que vem ou ele vai chegar ao fim em dezembro e nenhum outro programa vai entrar no lugar? O Renda Cidadã, um Bolsa Família ampliado, será lançado em 2021? Com quantos beneficiários e com que valor?”, questiona o jornal. Todas essas dúvidas afetam os preços de ativos brasileiros, deixando as condições financeiras mais apertadas do que seria desejável para uma retomada mais forte. A retirada abrupta dos estímulos fiscais também pode dar um tranco na economia.
O cenário de restrição fiscal desenhado por Guedes para 2021 vai na contramão do que está sendo planejado em outras nações. O fim de estímulos econômicos, como o auxílio emergencial, e a persistência da pandemia do novo coronavírus, que incentiva o isolamento social, vão reduzir o consumo das famílias e afetar a recuperação econômica no Brasil. O cenário não é de economistas heterodoxos, mas do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Na avaliação do FMI, o Brasil vai sofrer muito com uma retirada abrupta das medidas de estímulo à economia adotadas pelo governo, uma vez que persistem os efeitos da crise da saúde gerada pela pandemia. Na terça-feira, o próprio Bolsonaro voltou a negar a ideia de prorrogar o auxílio emergencial. “Perpetuar auxílio emergencial é caminho certo para insucesso. Temos que ter coragem de tomar decisões”, disse. O governo parece já ter se decidido: 2021 será pior para o povo.
Da Redação