PIB negativo confirma que governo mata na pandemia e na economia
Resultado negativo do Brasil no segundo trimestre é o pior entre mais de 30 países listados pela OCDE. Má gestão da crise sanitária afetou diretamente o mau resultado econômico
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“Os países do mundo inteiro tiveram crescimento econômico no último trimestre, numa média de 3% de crescimento, e o Brasil é o único negativo, crescendo para baixo como rabo de cavalo, com recuo de 0,1%. E o Presidente da República do nosso país declarando o tempo todo guerra artificial para gerar factoides: com os poderes, guerra com os governadores, guerra com os municípios. Os mais pobres são os que mais sofrem. Por isto defendemos todos os líderes ficando na pauta maior do povo brasileiro.”
Assim o governador do Piauí, Wellington Dias, avaliou o resultado negativo do Produto Interno Bruto (PIB), anunciado nesta quarta-feira (1) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O indicador recuou 0,1% no segundo trimestre deste ano, o pior desempenho, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, entre mais de 30 países listados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“Nenhum líder do mundo governa dando bons resultados só com pirotecnia. Tem é que trabalhar e é muito, dialogar e é muito, integrar esforços para dar resultados, e ninguém faz nada sozinho. Governar é a capacidade de articular, de somar, e não de dividir. O Brasil está derretendo, sem rumo e sem estratégia como outros fizeram para superar a maior crise da história do mundo”, completou Dias, que também é presidente do Consórcio Nordeste, para a coluna Painel da Folha de São Paulo.
Dissimulado como sempre, o ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, disse que a economia “andou de lado”, mas com estabilidade. “A economia voltou em V. Disseram que eu estava em um universo paralelo quando dizia isso, mas estamos crescendo novamente”, jurou em um evento da Frente Parlamentar Brasil Competitivo, onde foi obrigado a ouvir que o Brasil perdeu R$ 1,5 trilhão, o equivalente a 22% do PIB, por falta de competitividade.
Guedes ainda tentou justificar a retração com a pandemia, lembrando que ela ocorreu no período mais trágico da crise sanitária. A desculpa soou mais como confissão de culpa do desgoverno Bolsonaro pelas quase 580 mil mortes devido à gestão catastrófica do combate ao coronavírus. Até porque os resultados dos PIBs pelo mundo demonstram que justamente os países mais rigorosos no controle da pandemia são os que agora atingem os melhores desempenhos.
Essa foi, aliás, a observação feita no perfil da bancada do PT no Senado em seu perfil no Twitter. “Agora o PIB confirma o que sempre dissemos: NÃO EXISTE ECONOMIA SEM VIDA. A tese da imunidade de rebanho foi um crime contra a vida do povo brasileiro e uma estratégia econômica absolutamente errática”, afirmaram em conjunto os senadores petistas.
Agora o PIB confirma o que sempre dissemos: NÃO EXISTE ECONOMIA SEM VIDA.
A tese da imunidade de rebanho foi um crime contra a vida do povo brasileiro e uma estratégia econômica absolutamente errática. https://t.co/QavxThd6ba
— PT no Senado (@PTnoSenado) September 1, 2021
Brasileiros morriam enquanto a economia patinava
Em seu relatório explicando o resultado negativo do PIB, o Ministério da Economia reforçou a justificativa do chefe. “O resultado negativo ocorreu no trimestre em que houve o maior número de mortes por Covid e com efeitos setoriais relevantes”, destacou a nota da pasta em nota informativa, ressalvando que “mais relevante do que observar o número do crescimento, é analisar a sua qualidade”. Não é a conclusão do “mercado”, que esperava o tímido crescimento de 0,2% para o período.
“Claro que foi um resultado decepcionante. Para um país que é forte no agronegócio e abastece o mundo, num momento em que os preços das commodities estão em alta, ter uma retração da agricultura é negativo. Um ponto a destacar são os serviços, que apresentaram melhora, o que reforça a importância da vacinação”, disse em entrevista coletiva Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
A agência de classificação de risco posicionou o Brasil na 38ª posição de um levantamento que considerou quase 50 países que já apresentaram os resultados do período. No primeiro trimestre deste ano, o país cresceu 1,2% e ficou na 19ª posição do ranking. Já no quarto trimestre de 2020, o país havia apresentado o 12º maior crescimento entre as nações analisadas. Crescendo para baixo…
Agostini aponta que o consumo das famílias, que permaneceu estagnado no segundo trimestre, foi afetado por conta do desemprego elevado e falta de confiança na recuperação trazida pela variante Delta. Segundo ele, os empresários freiam investimentos por conta do ambiente político conturbado e 2022 será ano de eleição, o que também afeta as expectativas. Esse cenário cria um ambiente “desafiador” para o crescimento do país em 2022.
Ao El País, o economista André Perfeito, da Necton Investimentos, disse que basta que o país cresça 0,5% nos próximos trimestres para fechar com um crescimento na média de 5%. Afinal, a base de comparação anual é baixíssima. No segundo trimestre do ano passado, um dos mais agudos da recessão da pandemia, a economia nacional desabou 9,7%. Isso explica o crescimento registrado de 12,4% entre os mesmos períodos de 2020 e 2021.
Perfeito chama a atenção, no entanto, para o recuo dos investimentos produtivos. Segundo ele, faltam componentes dinâmicos para um PIB mais robusto, e há problemas reais na economia do país. Entre elas, a taxa de juros alta, a inflação descontrolada, que afeta projeções de lucros, e a perspectiva de racionamento ou até o apagão de energia. “A crise hídrica afeta a inflação e o agronegócio, sem contar o custo da energia elétrica”, afirmou.
O economista mencionou ainda a inflação do setor produtivo, maior do que a alta registrada ao consumidor. “Isso mostra que o empresário vai acabar fazendo ajustes”, o que deve impactar a taxa de investimento, explica. Ao mesmo tempo, a queda do consumo das famílias, que representa mais de 60% do PIB, preocupa no curto prazo. Ainda mais em um cenário de desemprego, níveis históricos de informalidade no trabalho e endividamento das famílias.
Além do valor menor do auxílio emergencial, a falta de crescimento no segundo trimestre reflete também a queda da massa salarial, apontada pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada nesta terça (30). O rendimento médio dos trabalhadores caiu 6,6% no segundo trimestre, quando comparado ao mesmo período do ano passado. “É um cenário desfavorável para o resto de 2021 e 2022. E os ruídos políticos geram prêmio de risco em juros mais longos, o que segura o consumo de bens duráveis, e também o investimento”, finalizou Perfeito.
Da Redação