Possuelo: Governo Bolsonaro é a mais séria ameaça aos indígenas na história

Segundo o ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) Sydney Possuelo, “na história da República, nenhum governo se mobilizou para destruir os povos indígenas como é o caso de Bolsonaro”

Gabriel Paiva

O sertanista e ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) Sydney Possuelo denunciou hoje (13) que o governo Jair Bolsonaro é a “ameaça mais séria” contra os povos indígenas desde a proclamação da República, em 1889. “Na história da República, nenhum governo se mobilizou para destruir os povos indígenas como é o caso de Bolsonaro; é uma situação extremamente perigosa, o Estado desmonta a Funai e todas as políticas indigenistas conquistadas em mais de 90 anos”, alertou.

A advertência foi feita por Possuelo durante roda de conversa na Câmara dos Deputados para debater os ataques do governo Bolsonaro aos povos indígenas, especialmente os isolados. Participaram do encontro o coordenador do Fórum Permanente em Defesa da Amazônia, deputado Airton Faleiro (PT-PA), a líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o deputado Edmilson Rodrigues (PSol-PA),  o sertanista e consultor para políticas de proteção a povos em situação de isolamento e recente contato, Antenor Vaz, o representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Paulino Montejo, e o secretário Executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Antônio Eduardo Oliveira.

Bolsonaro, a ameaça

 

Possuelo criticou duramente a política anti-indigenista de Bolsonaro, manifestando preocupação especial em relação aos povos isolados que não têm nenhum contato com os brancos e necessitam da proteção do Estado para que vivam conforme suas tradições. “É o Estado que tem a obrigação moral e ética de protegê-los”, disse o indigenista, um dos articuladores de uma mudança do marco legal, nos anos de 1980, para que os povos isolados vivessem em segurança em suas áreas.

Ele lembrou que a política indigenista que vigorou de 1910 até a década de 1980 favorecia a atração de povos indígenas, mas a prática levou ao extermínio de várias etnias, em especial por causa do contato com doenças dos brancos. Isso mudou quando, em 1986, houve o primeiro encontro internacional sobre povos isolados.

Reação da sociedade

 

Hoje, na América do Sul, há sete países com 185 povos indígenas isolados, 114 deles em território brasileiro, segundo Antenor Vaz, da Apib. Para Possuelo, esses povos só poderão ser protegidos das ameaças de Bolsonaro com a reação da sociedade brasileira e também do Congresso Nacional. Ele sugeriu que os parlamentares atuem contra os retrocessos. Sugeriu, por exemplo, que o Congresso devolva ao Executivo o Projeto de Lei 191/2020, que abre as áreas indígenas à mineração e outras atividades econômicas.

Florestas e chuvas

 

O indigenista, de 80 anos de idade, lida com as populações indígenas desde os 18 anos e fez uma advertência para a população brasileira, inclusive os integrantes do agronegócio, setor que é uma das maiores ameaças às florestas. “Os indígenas têm um papel vital para a preservação da vida no Brasil e no planeta, pois preservam as florestas e matas onde vivem, as quais são vitais para as chuvas. Sem chuva, sem água, ninguém vive. Os indígenas vivem na floresta e as preservam, beneficiam diretamente toda a população brasileira”, afirmou.

Maldades de Bolsonaro

 

Segundo o deputado Airton Faleiro, o momento é hora de união de todos os povos das florestas (indígenas, ribeirinhos,quilombolas e extrativistas) para enfrentar o pacote de maldades que Bolsonaro tem despejado contra a região e seus moradores tradicionais.

“O governo estimula o capital predatório em busca de terras e recursos naturais como madeira, água e minério historicamente preservados pelos indígenas; o PL 191 é uma grave ameaça”, observou.

Além dos territórios indígenas sob ataque, Faleiro denunciou que o atual governo avança também para tentar desmontar as reservas extrativistas que vêm sendo implantadas nos últimos 30 anos. “É neste cenário de destruição de todas as conquistas ambientais que entram os ataques aos povos indígenas isolados”, explicou.

Na última semana, o missionário e antropólogo Ricardo Lopes Dias foi nomeado para assumir a Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai. Dias é formado em teologia e atuou por anos na Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), organização de origem norte-americana que tem por objetivo a evangelização de indígenas, desrespeitando suas tradições seculares. Por isso, sua nomeação tem gerado críticas e tem sido repudiada por diversas organizações e já teve seu pedido suspenso pelo Ministério Público Federal.

Assista aqui à roda de conversa:

#AOVIVO – Roda de conversa:O desmonte da política de proteção para índios isolados no governo Bolsonaro.Com a participação do deputado Airton Faleiro (PT-PA).

Publicado por PT na Câmara em Quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Por PT na Câmara

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