Presidenta do PT pede renúncia de Campos Neto do BC e divulga abaixo-assinado
Deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) aponta juros altos como causa da desaceleração de 2% da atividade econômica do país em maio
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A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), pediu a renúncia do bolsonarista Roberto Campos Neto da presidência do Banco Central e o responsabilizou pela desaceleração de 2% da atividade econômica nacional em maio. Segundo a parlamentar, esse resultado “era o que o BC queria” ao insistir em manter a taxa básica de juros da economia (Selic) no patamar extorsivo de 13,75% ao ano, em favorecimento aos rentistas e com prejuízos ao desenvolvimento do país.
“Desaceleração econômica divulgada hoje pelo BC, somada à deflação de junho, não é notícia boa pra economia. Era o que o BC queria. Linha contrária ao que defendemos, de desenvolvimento da economia real, popular. Que o BC, assim como aumentou de uma só vez dois pontos percentuais na taxa de juros, diminua do mesmo jeito agora em agosto para o bem do Brasil. E Campos Neto podia aproveitar e ir embora”, tuitou a presidenta do PT.
Desaceleração econômica divulgada hoje pelo BC, somada à deflação de junho, não é notícia boa pra economia. Era o que o BC queria. Linha contrária ao que defendemos, de desenvolvimento da economia real, popular. Que o BC, assim como aumentou de uma só vez dois pontos percentuais…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) July 17, 2023
A atividade econômica nacional recuou 2% ao longo do mês de maio, na comparação com abril. Segundo o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) mensal, que o Banco Central divulgou na segunda-feira (17), considerando o ajuste sazonal, as operações conjuntas da indústria, dos serviços e da agropecuária atingiram o equivalente a 145,59 pontos, contra os 148,56 pontos registrados em abril. Já os dados sem ajuste sazonal apontam que atividade econômica caiu dos 147,82 pontos calculados em abril para 145,99 em maio.
“Fora Roberto Campos Neto!”
A deputada Gleisi Hoffmann, que classifica como sabotadora a política monetária de Campos Neto, não só pediu a renúncia do bolsonarista como convocou a sociedade a aderir a um abaixo-assinado que exige mudanças no comando do BC. Gleisi e o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) divulgaram um vídeo no qual fazem a convocação.
Na gravação, os dois parlamentares também divulgaram o link de acesso ao abaixo-assinado. Com meta de 50 mil assinaturas, o documento já havia recebido 37.862 adesões até o início da tarde desta terça-feira (18).
“Pegue o link, assine e passe. É muito importante. Agora, dias 1 e 2 de agosto, o Copom vai se reunir para decidir qual é a taxa de juros, e eles não podem baixar só 0,25 ou 0,50. Nós precisamos de uma redução efetiva para que tenha efeito na economia. Veja o link aí, compartilhe, assine, vamos fazer um grande movimento nacional”, disse Gleisi.
Já Lindbergh ressaltou a incoerência de Campos Neto ao manter os juros altos no momento em que o Brasil registra sucessivas quedas dos índices de inflação. “Pessoal, o Lula está fazendo a parte dele, a inflação acumulada nos 12 meses está em 3.14, nós temos a maior taxa de juros do mundo, com 13.75. Juros do cartão de crédito, mais de 450 por cento. Entre nessa campanha!”, disse o parlamentar.
O abaixo-assinado, intitulado “Fora Roberto Campos Neto!”, foi lançado pelo professor e escritor baiano André Teixeira Jacobina. O texto aponta os prejuízos dos juros altos ao poder de compra das famílias.
“É necessário exonerar Roberto Campos Neto e sua gestão da presidência do Banco Central. Mesmo diante da queda da inflação, ele tem mantido as taxas de juros elevadas, afetando o poder de compra de todas as famílias brasileiras. Precisamos nos unir e fazer pressão para que ele saia da presidência do Banco Central”, diz um trecho do documento.
Haddad
Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em uma crítica contundente à atuação de Campos Neto, o responsabilizou pela desaceleração da economia e disse que “ela chegou forte”. “É como esperado. Muito tempo com juro real muito elevado. Nós estamos preocupados, estamos recebendo muito retorno de prefeitos e governadores sobre arrecadação”, afirmou Haddad, em entrevista a jornalistas no ministério.
Segundo o ministro, o atual nível da taxa de juros real, em torno de 10%, é motivo de cautela, e seus efeitos podem intensificar uma desaceleração da economia. “A pretendida desaceleração da economia pelo Banco Central chegou forte, e a gente precisa ter muita cautela com o que pode acontecer se as taxas forem mantidas na casa de 10% o juro real ao ano. É muito pesada para a economia”, pontuou Haddad.
Prejuízos para a indústria
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) projeta que, neste ano, a economia brasileira vai crescer 2,1% em relação ao ano passado, mas o Produto Interno Bruto (PIB) da indústria será de 0,6%, com queda de 0,9% no setor de transformação.
Os dados são do Informe Conjuntural – 2º trimestre de 2023 e mostram uma desaceleração em relação a 2022, com um quadro particularmente desafiador para a indústria e para as atividades do varejo mais sensíveis ao crédito.
O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, classificou os juros do BC como “exorbitantes”. “O Brasil tem dificuldades de crescimento porque, apesar de termos uma superprodução de produtos agrícolas, falta competitividade à indústria nacional, principalmente pela complexidade do sistema tributário. Os juros são exorbitantes, tornam o crédito mais escasso e prejudicam a indústria e os consumidores”, afirmou.
Segundo ele, mesmo assim “as expectativas são positivas, com o avanço da reforma tributária no Congresso e a queda da inflação, que permitirá ao Banco Central iniciar a redução dos juros”.
O gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, reforçou que o setor industrial enfrenta os efeitos dos juros altos, com restrição no crédito bancário. “A indústria enfrenta os efeitos dos juros altos, com restrição no crédito bancário, o que vemos penalizar tanto empresários quanto consumidores. Além disso, o setor de serviços, que acumulou avanços expressivos desde 2020, também agora se encontra em movimento de desaceleração”, afirmou Azevedo.
Da Redação