Prévia da inflação cai e reforça pressão contra juros do BC de Bolsonaro
Segundo o IBGE, IPCA-15 caiu 0,07% em julho; em cenário favorável, Risco-Brasil também recuou, aponta Fitch Ratings
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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial, caiu 0,07% em julho, sobre alta de 0,04% no mês anterior, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na terça-feira (25). Esse resultado se soma a vários outros para comprovar o descabimento e a irresponsabilidade do bolsonarista Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, em manter a taxa básica de juros (Selic) no extorsivo patamar de 13,75% ao ano, o maior do mundo e que faz a festa do rentismo, com sérios prejuízos ao setor produtivo brasileiro.
Em 2023, segundo o IBGE, o IPCA-15 acumula alta de 3,09% e, em 12 meses, de 3,19%, abaixo dos 3,40% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em julho de 2022, a taxa foi de 0,13%.
O resultado de julho foi influenciado pelas quedas de Habitação (-0,94%) e Alimentação e bebidas (-0,40%), que contribuíram com -0,14 p.p. e -0,09 p.p, respectivamente.
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A queda do grupo Alimentação e bebidas (-0,40%) se deve, principalmente, à deflação da alimentação no domicílio (-0,72%), que já havia recuado em junho. Destacam-se as quedas do feijão-carioca (-10,20%), óleo de soja (-6,14%), leite longa vida (-2,50%) e das carnes (-2,42%). No lado das altas estão a batata-inglesa (10,25%) e o alho (3,74%). A alimentação fora do domicílio (0,46%) acelerou em relação ao mês anterior (0,29%), em virtude da alta mais intensa do lanche (0,34% em junho para 1,02% em julho). A refeição (0,17%) desacelerou na comparação com o IPCA-15 de junho (0,28%).
Os preços de Artigos de residência (-0,40%) e Comunicação (-0,17%) também recuaram. No grupo Habitação (-0,94%), destaca-se a queda da energia elétrica residencial (-3,45% e -0,14 p.p.), por conta da incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas emitidas no mês de julho.
No lado das altas, o maior impacto (0,13 p.p.) e a maior variação (0,63%) vieram de Transportes. Os demais grupos ficaram entre o 0,04% de Vestuário e o 0,38% de Despesas Pessoais.
Novas Cobranças
A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para 1º e 2 de agosto, quando consumidores, empresários, investidores, parlamentares, integrantes do governo, entre outros, estarão, mais uma vez, na expectativa de uma redução da Selic que corresponda tanto ao cenário favorável da economia quanto à urgência da medida.
A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), voltou a cobrar uma redução efetiva na taxa de juros, após os novos dados sobre a inflação, divulgados pelo IBGE. “Prévia da inflação, puxada pela redução do preço dos alimentos, registrou queda em julho, continuando a desaceleração. Em 12 meses, acumulou 3,19%, abaixo do centro da meta do BC. Ou seja, espaço de sobra pra baixar os juros”, tuitou a parlamentar.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), reivindica uma “queda robusta” da taxa de juros, mantida em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado. “Não tem outro caminho a não ser uma queda robusta [dos juros]”, declarou o deputado à revista CartaCapital. “Ele [Campos Neto] tem que agir. Ou ele age, ou então o Brasil vai ter que pedir a saída dele”, enfatizou.
Guimarães também destacou o caráter sabotador da atuação do bolsonarista à frente do Banco Central. “Campos Neto é um agente de articulação contra o governo. Ele está nessa missão lá. O governo faz todos os esforços, que não adiantam em nada”, criticou.
O líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), engrossou o coro dos que defendem que o presidente do Banco Central peça para sair. “Campos Neto deveria estar mais preocupado em reduzir a taxa de juros do Brasil do que terceirizar as reservas internacionais do Banco Central. Se não tem capacidade para gerir recursos fundamentais para a credibilidade do país no exterior, entregue o cargo”, afirmou o senador, no Twitter.
Na publicação, Contarato compartilhou uma matéria jornalística sobre a investigação aberta pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar mais um golpe de Campos Neto contra a economia e a soberania do país: o bolsonarista deu declarações de que pretende transferir a gestão das reservas internacionais do país para a gestora de fundos americana BlackRock. Atualmente, esses ativos somam US$ 380 bilhões – desse total, US$ 22 bilhões foram acrescidos nos últimos seis meses.
O pedido de investigação no TCU foi feito pelo subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado, para quem o plano do bolsonarista, caso concretizado, prejudicaria a capacidade do Brasil de honrar compromissos financeiros. No documento, ele pede “a adoção das medidas necessárias a apurar os indícios de irregularidades noticiados a despeito do interesse do atual presidente do Banco Central em terceirizar a gestão de ativos do Banco Central, especialmente com relação à administração das reservas internacionais do Brasil”.
Na visão de Furtado, a interferência de uma gestora privada como a BlackRock, que administra trilhões de dólares de empresas pelo mundo, colocaria, portanto, a soberania brasileira em risco. “Diante de todos os riscos, no meu entender, é inadmissível terceirizar a gestão de ativos do BC, especialmente com relação à administração das reservas internacionais do Brasil. A referida possibilidade reclama, pois, a obrigatória e pronta atuação do TCU, de forma a se determinar a detida e minuciosa apuração dos fatos”, apontou o subprocurador-geral.
A gravidade da traição de Campos Neto ao Brasil terá outros desdobramentos. A deputada Gleisi Hoffmann anunciou que a recente manobra do bolsonarista também será incluída no pedido encaminhado ao Senado Federal por nove partidos para que a Casa investigue a conduta do presidente do BC. “E ainda tem a tal distorção de R$1 trilhão nas contas do BC sob apuração do TCU”, lembrou Gleisi, pelo Twitter. “É tudo muito grave”.
Queda do Risco Brasil
Além dos dados do IBGE sobre a inflação, mais um resultado positivo da economia reforça que já passou da hora de o Banco Central baixar os juros. A Fitch Ratings elevou, nesta quarta-feira (26), o rating soberano do Brasil de BB – para BB, com perspectiva estável.
Segundo a agência de classificação de risco, a elevação dos ratings do Brasil reflete desempenho macroeconômico e fiscal acima do esperado em meio a choques sucessivos nos últimos anos, políticas proativas e reformas, além da expectativa da Fitch de que o novo governo trabalhará para melhorias adicionais.
A agência projeta crescimento do PIB real em 2,3% em 2023 (antes se esperava 0,7%) e a convergência para um crescimento estrutural de 2,0% ao ano no médio prazo.
Além disso, aponta que os esforços para melhorar o balanço fiscal devem conduzir o resultado primário para os intervalos preconizados pelo arcabouço fiscal, de 0% do PIB em 2024 e 0,5% do PIB em 2025.
Dessa forma, a dívida/PIB teria aumento em 2023 para 75%, subindo marginalmente nos anos seguintes, mas a uma taxa mais reduzida em comparação com projeções passadas. Em um cenário no qual as metas de primário sejam alcançadas nos pontos centrais e com maior crescimento do PIB, a dívida se estabilizaria. O avanço nas reformas já mencionadas poderia levar a melhoras adicionais nesses números.
Ainda entre os pontos para suportar a nota de crédito do Brasil, a agência destaca que o Brasil é uma economia grande e diversificada. O país demonstra capacidade de absorção de choques, sustentada por uma taxa de câmbio flexível, reservas internacionais robustas (US$ 346 bilhões) e uma posição de credor externo líquido soberano.
Na gestão da dívida pública, a agência destaca a posição do colchão de liquidez (11% do PIB) e uma composição de dívida majoritariamente em moeda local, contando com um mercado doméstico bem desenvolvido. São fatores que conferem flexibilidade ao financiamento soberano no Brasil.
A Fitch também pontua que, embora os desafios políticos tenham persistido no país, eles não impediram importantes avanços em reformas essenciais para elevar o crescimento e aperfeiçoar as finanças públicas. Assim, a agência espera que a governabilidade e o progresso das reformas continuem, o que foi decisivo para a melhora da nota de crédito do país neste momento.
Fazenda
Em nota para comentar a elevação do rating, o Ministério da Fazenda reafirmou o compromisso com a agenda de reformas em curso, que contribuirá não apenas para o melhor balanço fiscal do governo, mas também levará à redução das taxas de juros e à melhoria das condições de crédito, ao mesmo tempo em que afirmou que assegurará a estabilidade dos preços.
“Desta forma, serão criadas as condições para a ampliação dos investimentos públicos e privados e a geração de empregos, aumento da renda e maior eficiência econômica, elementos essenciais para o desenvolvimento econômico e social do país”, destacou.
Da Redação