Professora Bebel defende importância do livro didático em São Paulo

Em entrevista ao Jornal PT Brasil, deputada estadual afirmou que, mesmo com recuo de Tarcísio em livro 100% digital, luta ainda não acabou em defesa da educação

Felipe L. Gonçalves

Deputada Professora Bebel (PT-SP) convocou para o dia 14 de agosto audiência pública na Alesp para debater importância do livro didático

A deputada estadual e segunda presidenta da Apeoesp, Professora Bebel (PT-SP), defendeu, em entrevista ao Jornal PT Brasil, da TvPT, nesta terça-feira (8), a importância do livro didático, físico e digital, na formação e inclusão educacional de alunos da rede estadual de São Paulo.

A parlamentar reconhece a importância da pressão política da sociedade e da comunidade escolar no que classificou como não recuo do bolsonarista ao admitir que o mesmo material digital será impresso em apostilas nas escolas estaduais.

“Nós, professores e professoras, temos um cuidado muito grande em trabalhar com a pluralidade de ideias e concepções pedagógicas. Isso é uma conquista que está na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) e na Constituição”, afirmou. “Então, o direito de ensinar e aprender é algo que transcende, por exemplo, uma apostila.”

A deputada disse que a pandemia mostrou o quanto o ensino digital foi excludente para as camadas mais pobres da população. “Nós nos opusemos porque a gente viveu o triste momento da pandemia, que foi o trabalho digital, on-line e remoto, com todas as disparidades sociais e educacionais que a juventude já sofreu, com déficit educacional porque o governo não disponibilizou os aparelhos digitais [para que os alunos mais pobres tivessem acesso à internet e conteúdos digitais]”, comentou.

A Professora Bebel falou que a proposta de Tarcísio causará outra exclusão no ensino de São Paulo e é um contrassenso existindo o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). “Quando eu era estudante na escola pública, meus pais tinham que arcar com os livros didáticos. Foi uma luta histórica de todo movimento social e educacional para garantir esse direito. Minha mãe tinha que fazer trabalho extra nas casas que limpava para comprar os nossos livros”, comentou.

A parlamentar afirmou que o livro 100% digital retira etapa da alfabetização dos estudantes, além de causar problemas visuais, com horas expostas à tela. “Tem essa cultura que nós trabalhamos com relação à presença do livro na escola porque, didaticamente, ao folhear um livro, ter contato com letras, com escrita, o estudante começa a entender a importância da leitura, decodifica e ao mesmo tempo dá sentido às palavras”, relatou Bebel.

A Professora Bebel comentou que a proposta inicial do governo do Estado de São Paulo “é a visão de um pensamento único”. “O Ministério Público do Estado de São Paulo entrou com ação por conflito de interesse no que diz respeito à empresa do então secretário, mas quero aqui me ater à questão pedagógica.”

Na última sexta-feira (4), os deputados estaduais Paulo Fiorilo, líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), e Antonio Donato entraram com representação no MPSP contra a adoção pelo governo Tarcísio de Freitas de livros 100% digital na rede estadual.

A parlamentar convocou para o dia 14 de agosto, às 14h, audiência pública na Alesp para debater o papel do livro didático.

“Eu já tenho uma audiência pública marcada para o dia 14 porque o desenrolar dessa novela ainda vai longe. O governo insiste em imprimir a mesma apostila que estava digitalmente e entregar uma para cada estudante”, disse.

A deputada ressaltou o importante papel do livro didática na formação dos alunos. “Nós estamos tratando de um Programa Nacional do Livro Didático conquistado a duras penas na luta social por inclusão educacional”, disse. “A gente quer um instrumento de trabalho que foi analisado com olhares de especialistas e professores, que teve um processo e uma metodologia de escolha.”

Bebel comentou que o governo de São Paulo está “rasgando” R$ 120 milhões em dinheiro público, referente ao primeiro ciclo, do 6º até o 9º ano do ensino fundamental. “Isso é improbidade para não trazer esse livro didático para cá. Para impor aqui o pensamento único. Para nós, é inaceitável. Se chegar ao ensino médio, vai ficar em R$ 200 milhões. É abrir mão de recurso para a educação.”

A medida, de acordo com a parlamentar, beneficiaria a leitura de um estado enxuto, já que não daria as devidas condições para que os estudantes tivessem acesso ao conteúdo digital. Para ter acesso ao material, os estudantes precisarão de planos de dados para celular ou banda larga, por exemplo, gastos excludentes para famílias de baixa renda. Isso sem levar em conta as condições estruturais das escolas estaduais de São Paulo.

“Eu acho que [essa decisão] beneficiaria a forma de leitura de estado enxuto, porque você faria uma “exclusão” natural. Isso enxugaria o número de alunos por sala de aula e, desta forma, força exclusão, evasão e repetência, todos esses males históricos e educacionais segundo os quais nós sempre lutamos”, comentou.

A parlamentar vê um viés ideológico na opção do governo Tarcísio de Freitas. “Um viés que ainda eiva e fortalece a pauta de costumes, que não acho que vai estar implícito no livro, mas que retira toda a possibilidade de debatermos política de gênero, antirracista, mulher e isso já vinha do governo Bolsonaro, do qual ele faz questão de afirmar ser oriundo”.

A segunda presidenta da Apeoesp disse que o livro didático apresenta diversidade e pluralidade de ideias, “se não tiver, o professor recheia” com outros textos.

Da Redação

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