Rochinha: O alvo dos adversários são o ex-presidente Lula e as eleições de 2018

Fundador do PT escreve uma carta aos que participarão da segunda etapa do 5º Congresso do partido e defende taxação sobre grandes fortunas

Um dos fundadores do PT, Francisco Rocha da Silva, conhecido como Rochinha, divulgou uma carta, nesta segunda-feira (8), endereçada aos participantes da segunda etapa do 5º Congresso do partido, que acontece entre 11 e 13 de junho, em Salvador (BA). O presidente da Comissão de Ética do PT não poderá participar do congresso por motivos pessoais, mas relembra as “grandes alegrias” vividas pelo partido nos últimos anos, como “ter tirado da pobreza extrema mais de 30 milhões de brasileiros e ter elevados essas pessoas à real condição de cidadãos”.

Entretanto, Rochinha adverte: “a fúria dos adversários tem o objetivo de aniquilar com o PT e o governo”.

Na avaliação do petista, o momento é delicado, diante da crise mundial em curso, e por isso a necessidade do ajuste fiscal aplicado pelo governo. “Todo e qualquer partido de esquerda se sentiria e se sente incomodado com as decisões que precisaram ser tomadas. Isso faz parte do ofício de um partido ser governo”, argumenta.

O militante histórico lembra ainda que “o país vai se sustentando na média dos poucos países do mundo onde o índice de desemprego é dos mais baixos entre as grandes economias”.

Rochinha pede que o “governo e o partido se atentem para assuntos que são pertinentes à sensibilidade humana”, como emprego formal, recuperação dos salários, controle da inflação e investimentos em saúde e educação, entre outros. Sobre a economia, ele defende a taxação das grandes fortunas, “especialmente as declaradas em imposto de renda”.

Leia a carta na íntegra:

“Companheiros e companheiras,

É com muita alegria que saúdo todos os delegados e delegadas participantes desta segunda etapa do 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores, realizada em Salvador, Bahia. O motivo de escrever o presente documento se deve à minha ausência neste 5º Congresso do PT, por razões de caráter pessoal.

Esclareço também que esta Carta não é direcionada apenas aos delegados e delegadas de uma só tendência, mas peço licença às delegações que fazem parte de todas as chapas para dirigi-la ao conjunto dos participantes deste evento. 

O Congresso do PT, por ser a instância de deliberação máxima do Partido, é o momento ideal para se fazer reflexões, discutir e deliberar sobre temas pertinentes da atual conjuntura, sejam relativos à questão da crise mundial e os seus reflexos por aqui, ou referentes a questões conjunturais internas voltadas para o Brasil, o PT, o governo e a política.

O mundo vive uma grave crise desde os anos 2008/2009, que traz consequências muito graves e atinge especialmente o mundo do emprego e dos salários, além de criar uma onda migratória jamais vista. A humanidade se encontra sem rumo, aonde milhares de pessoas deixam para trás as suas raízes e procuram de forma desesperada uma oportunidade de sobrevivência em outros países. O Oriente Médio vive uma enorme instabilidade política provocada por intermináveis guerras religiosas e conflitos políticos. O irônico é que quando o Ocidente achava que aquela região poderia se transformar em uma profusão de estados democráticos, o resultado foi exatamente o contrário, pois continua a prevalecer ali os extremos da radicalização, em parte por culpa da intervenção bélica ocidental.

A Europa, praticamente há uma década, não tem estabilidade do ponto de vista do desenvolvimento econômico. Em vários países, que antes eram exemplos de bem estar social, hoje o desemprego beira a linha do absurdo, como se vê na Espanha, Grécia e em parte Portugal, entre outros. Os Estados Unidos, apesar de ter a moeda mais forte do mundo e uma sólida estrutura econômica, também vive um vai e vem de médio a baixo crescimento, muito aquém daquilo que muitos economistas previram.

Por outro lado temos os BRICS, com a China sendo a mola mestra para segurar a economia mundial, seguida pela India, e onde os cinco países tem dado exemplos significativos de resistência a esta crise persistente. O Brasil teve avanços extremamente significativos na área social e até mesmo no campo econômico, mas nos últimos tempos vivemos um reflexo bastante forte da crise do capitalismo, mas mesmo assim bem diferente daquilo que apregoam os defensores do “quanto pior, melhor”. O país vai se sustentando na média dos poucos países do mundo onde o índice de desemprego é dos mais baixos entre as grandes economias.

Quero aqui chamar a atenção dos delegados e delegadas que, em se tratando da conjuntura nacional, é muito importante que o governo e o PT se atentem para assuntos que são mais pertinentes em relação à sensibilidade humana. Toco aqui nas questões da garantia do emprego formal com carteira assinada, na recuperação dos salários, do controle da inflação, dos investimentos na saúde e na educação, na questão da segurança pública em que deve priorizar acordos com os entres federativos, a questão da moradia e de avançar cada vez mais no combate à miséria. Isso do ponto de vista das políticas sociais.

Do ponto de vista da nossa economia, é muito importante trabalhar as questões estruturantes do País, sobretudo na desburocratização para a gestão, além de resolver questões fundamentais na área da infraestrutura e dos transportes, como os investimentos nos portos, ferrovias, rodovias e hidrovias. Para isso, é fundamental que se aumente a arrecadação, mas que se evite tributar bens essenciais que atingem diretamente o abastecimento, medicamentos, materiais para a construção de moradias e outros itens, além de ser necessário taxar as grandes fortunas, especialmente as já declaradas no imposto de renda, e taxar as grandes heranças. É inconcebível que em 12 anos de governo, por razões inexplicáveis, até hoje não foi enviado para o Congresso Nacional nenhum projeto de lei ou medida provisória sobre tais questões, até mesmo para se conhecer quem é a favor ou contra.

Com relação à reforma política reafirmo aqui o que escrevi em um artigo intitulado “Reforma política e eleitoral em andamento no Congresso é um remendo do remendo” e publicado no blog http://www.mandacaru13.com.br/2015/05/reforma-politica-e-eleitoral-em.html

No que toca às questões internas do PT reafirmo que são problemas que cabem a cada petista fazer uma reflexão ou autocrítica do seu próprio comportamento ou desempenho como filiado/a. Se existem crises no Partido, são crises criadas por pessoas, pois as instâncias são conduzidas e administradas por seres humanos. Não adianta procurar chifre em cabeça de cavalo ou listar bodes expiatórios quando a culpa pelos problemas é somente nossa.

Por essas e outras razões que eu defendo enfaticamente a manutenção do PED (Processo de Eleição Direta) e a representação das cotas em todas as instâncias partidárias. Mas é preciso que as deliberações do 5º Encontro sejam cabíveis de aplicação, discutidas e aprovadas com os pés no chão, com racionalidade e não simplesmente pela emoção. Me refiro aqui a boa parte do que foi aprovado no 4º Congresso do PT, aonde valeram as boas intenções, mas na prática não foi possível de se aplicar as deliberações às operações.

Do ponto de vista do governo quero deixar claro que não existe separação entre o Partido e o Governo. Independentemente de acertos e erros somos o mesmo corpo e estamos no mesmo barco. É um direito de qualquer filiado apoiar, criticar e discordar das ações do Partido e/ou do Governo, mas é preciso ter um ponto de equilíbrio para entender que se chegamos ao governo foi através do PT.

No que toca à questão do ajuste fiscal, todo e qualquer partido de esquerda se sentiria e se sente incomodado com as decisões que precisaram ser tomadas. Isso faz parte do ofício de um partido ser governo. Sempre é bom lembrar que o verno Lula também teve os seus momentos de ajustes que foram alvos de críticas de vários petistas, mas nós superamos aqueles momentos de conflito e o presidente Lula saiu do governo com uma aprovação popular de mais de 80%. E eu espero sinceramente que o mesmo ocorra com a presidenta Dilma. Inclusive os personagens da economia eram praticamente os mesmos, a única diferença é que estavam sob o comando do então ministro Antônio Palocci.

Nenhuma tendência interna do PT pode se arvorar em criticar exageradamente o ajuste fiscal porque todos nós, com raras exceções, estamos presentes no Partido e no Governo. Então, todos nós temos telhado de vidro e não cabe a ninguém atirar a primeira pedra. O momento é delicado e a fúria dos adversários tem o claro objetivo de aniquilar com o PT e com o governo. Na minha opinião, o que está em jogo tem um alvo: o ex-presidente Lula e as eleições de 2018.

Nestes últimos anos nós passamos por situações difíceis, mas vivemos grandes alegrias, dentre elas ter tirado da pobreza extrema mais de 30 milhões de brasileiros e ter elevado essas pessoas à real condição de cidadãos; avançamos significativamente na questão do emprego formal, concedemos aumentos significativos ao salário mínimo e temos hoje um país reconhecido mundialmente por ter saído do atraso e ter conquistado tantos avanços em tão pouco tempo.

Citando o grande compositor Paulo Vanzolini em seu memorável samba “Volta por cima”, eu finalizo dizendo que cabe a todos nós, petistas, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Viva o Brasil! Viva o PT! Viva o 5º Congresso e os petistas!

Salvador, Bahia, de 11 a 13 de junho de 2015

Francisco Rocha da Silva, Rochinha”

Por Cristina Sena, da Agência PT de Notícias

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