Rodrigo Pimentel Negrão: Os caminhos das lutas
O partido precisa entender-se como uma instituição político-cultural, deve transformar-se em laboratório de agitação e reflexão para este novo Brasil
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“Os homens fazem a sua própria história; contudo, não afazem de livre e espontânea vontade, pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sob as quais ela é feifa, mas estas thes foram transmitidas assim como se encontram. A tradição de todas as gerações passadas é como um pesadelo que comprime o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem estar empenhados em transformar a si mesmos e as coisas, em criar algo nunca antes visto, exatamente nessas épocas de crise revolucionári4 eles conjuram temerosamente a ajuda dos espíritos do passado, tomam emprestados os seus nomes, as su¿rs palawas de ordem, o seu figurino, a fim de representar, com essa venerável roupagem tradicional e essa linguagem tomada de empréstimo, as novas cenas da história mundial.” (Cit. Karl Marx, 18 Brumário de Luís Bonaparte, pág. 25 e 26. Editora Boitempo)
Mudanças no Brasil e no PT
No surgimento do Partido dos Trabalhadores o Brasil estava prestes a concretizar duas mudanças importantes, a primeira rumo a urbanização e a segunda para a “redemocratizaçáo” política do país. Em nossa tardia industrialização o país necessitou de cinco décadas para concluir a transição demográfica de sua população do campo para a cidade, acotovelando-se nas periferias das capitais e regiões metropolitanas, buscando desesperadamente aproximarse dos novos locais de trabalho e renda.
Foi neste período também que grandes empresas estatais foram criadas, como a PETROBRAS, ELETROBRAS, Companhia Siderurgica Nacional, BNDES dentre outras, para estimular e acelerar o desenvolvimento capitalista nacional. Para superar a ditadura civil-militar (1964-1985) o país gastou duas décadas e milhares de vidas tombaram nos combates nas trevas.
Muitos dos agrupamentos que combateram a ditadura, como também o emergente movimento sindical urbano, trabalhadores do campo, intelectuais, jovens, mulheres, povos tradicionais (indígenas, quilombolas), integrantes de movimentos sociais e setores progressistas, entusiasmados com a redemocratizaçáo política do país, deram origem ao PT.
O choque de ideias, visões, táticas e estratégias está na raiz do nosso partido, representando uma base constitutiva plural e sólida.
Isso explica a capacidade de resistência à ofensiva destrutiva contra o PT e suas lideranças, que parte dos setores do aparato de Estado (Polícia Federal, MPF e Judiciário) e da grande mídia promovem a serviço de interesses inconfessáveis ao público. Fica o alertapara os grupos intemos do partido que ameaçam “esvaziá-lo” caso as suas teses não se tornem majoritárias no VI Congresso. Cuidado para não se perderem pelos caminhos da luta.
Neste momento decisivo para a história do país e paru a classe trabalhadora nossa estratégia não pode buscar apenas uma vitória moral, retórica e de narrativa. Ela deve propor alternativas concretas para aqueles que sofrem o desemprego, à fome, à falta de moradia, ausência de saneamento, de terra para trabalhar e principalmente de esperança para seguir em frente.
Isso implica novamente em alianças com setores da burguesia comprometidas com o desenvolvimento nacional. Deve deixar claro que toda a política golpista que afetou a soberania nacional será revista, como a privatização do pré-sal, a política de conteúdo nacional, a retomada do projeto nuclear e do Ciência Sem Fronteiras, o incentivo a construção civil no mercado interno e externo e a nacionalização dos recursos minerais. O cancelamento de isenções fiscais para setores que não investem na economia produtiva e no emprego. A prioridade do financiamento dos serviços públicos essenciais como educação, saúde e seguridade social que beneficia a maioria da população.
Para isso, devemos encarar com muita firmeza a fraude da dívida pública, que drena a maior parte dos recursos do Estado para o mercado financeiro. Pois mais da metade do que o Estado brasileiro arrecada vem daqueles que ganham até 3 salários mínimos, via impostos, que em suma são os que mais dependem dos serviços públicos essenciais.
Mas esse dinheiro fica a serviço da fraudulenta dívida pública. Enfrentar a dívida pública, com debates, mobilizações, denúncias e por fim uma auditoria rigorosa que a estabeleça em patamares reais, é a verdadeira atitude revolucionária nos tempos atuais. A autocrítica do PT não pode transformar o partido num convento, numa seita e nem nos enclausurar. O partido precisa entender-se como uma instituição político-cultural, deve transformar-se em laboratório de agitação e reflexão para este novo Brasil.
Por Rodrigo Pimentel Negrão, membro do Diretório Municipal do PT, Técnico em Segurança do Trabalho, Ferraz de Vasconcelos, SP, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.
ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores