Saída de médicos cubanos preocupa moradores da periferia
Pacientes de bairro na Zona Oeste paulista mostram insatisfação em relação à saída de mais de 8 mil médicos cubanos do Brasil e temem piora no atendimento
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Dona Lourdes, moradora do Jardim Rincão, bairro da extrema Zona Oeste de São Paulo, bate ponto na Unidade Básica de Saúde do bairro há pelo menos cinco anos. A idade avançada trouxe pequenos problemas que a aposentada não se queixava em tentar resolver.
Pelo contrário, com o respaldo dos médicos cubanos que trabalhavam no local, fazia seus exames de rotina sempre com bom humor e disposição. “Nos primeiros dias foi um pouco complicado porque eu não entendia muito bem o que eles falavam, mas depois me acostumei. A minha médica era muito educada. Quando soube que ela ia embora eu fiquei triste. O pior que agora nem médico tem. Vão deixar saudades”, lamentou.
A razão da saudade, com doses de preocupação no olhar, é a saída dos profissionais caribenhos do programa Mais Médicos, anunciada pelo governo de Cuba no dia 14 de novembro após ameaças e declarações desrespeitosas do presidente eleito Jair Bolsonaro. Para piorar, a UBS do Rincão desmente a notícia anunciada pelo governo de transição de que quase 100% das vagas deixadas pelos médicos da ilha já teriam sido preenchidas.
A rotina no “postinho do bairro”, como gostam de chamam os moradores locais, está gravemente comprometida sem a presença dos cubanos. A indignação da população se materializa em fala como de Leopoldo Fernandes, vizinho da UBS, nascido e criado no bairro, que tem acompanhado de perto o desalento dos moradores.
“Com a saída dos cubanos vai ficar pior. Sempre fomos bem atendidos com eles, sempre tivemos respaldo. A gente espera que logo venha algum médico substituto porque a gente às vezes tem filas e filas aqui”, relatou.
Fernandes espera que o governo federa resolva logo a situação, mas pessoalmente sentirá falta dos cubanos que ali não só trabalhavam como criaram laços com grande parte da comunidade: “Eles são superprofissionais mesmo, não tenho do que reclamar. E falam tanto de Cuba, mas os médicos de lá mostraram que são bem preparados”.
Outra moradora, identificada apenas como Letícia, dá mais uma razão para que milhares de pacientes de todos os cantos do país comecem a se preocupar a partir de agora. “O que eu ouvia de todo mundo aqui, era sempre a mesma coisa: quando era médico brasileiro eles tratam a gente que nem bicho. Eu sei que tem que valorizar o nosso próprio país e os médico daqui, mas dá impressão que os que vem de outros países dão mais atenção pra gente do que os brasileiros. Eu gostava muito do atendimento deles”, concluiu.
Assista ao vídeo do Brasil de Fato:
MAIS MÉDICOS Pacientes temem piora do atendimento com saída dos cubanos
#MaisMédicos Pacientes da periferia mostram insatisfação em relação à saída de mais de 8 mil médicos cubanos do Brasil e temem piora no atendimento. Leia + no #BrasildeFato: http://bit.ly/maismedicos-depoimentos
Publicado por Brasil de Fato em Sexta, 30 de novembro de 2018
Da redação da Agência PT de notícias