Salles tenta liberar madeira apreendida pela PF no Amazonas

São 200 mil metros cúbicos de madeira, a maior apreensão da história do país. Ministro do Meio Ambiente, já acusado de fazer lobby para madeireiras, defende as empresas responsáveis, a quem o superintendente da Polícia Federal no Amazonas classificou como “organização criminosa”

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Ricardo Salles, o "anti-ministro" do Meio Ambiente

Operação da Polícia Federal do Amazonas que apreendeu, desde dezembro do ano passado, um total de 200 mil metros cúbicos de madeira gerou atrito entre o órgão e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Trata-se da maior apreensão de madeira da história do país e em uma região marcada por ações de devastação e desmatamento com repercussão internacional.

Como já ocorreu outras vezes naquele ministério, Salles questiona a ação da PF e argumenta que as empresas que promoveram o desmatamento “podem ter razão”, apesar de, até o momento, nenhuma delas ter apresentado qualquer dos documentos requisitados pelas autoridades para a liberação da madeira apreendida.

O comportamento suspeito de Ricardo Salles, acusado por ambientalistas de fazer lobby para madeireiras e até apelidado de “antiministro do Meio Ambiente” por suas posições contra a preservação ambiental, provocou reação forte do chefe da PF do Amazonas, Alexandre Saraiva, de acordo com informações divulgadas pela imprensa.

É o mesmo que um ministro do Trabalho se manifestar contrariamente a uma operação contra o trabalho escravo. Nunca tive notícia de um ministro do Meio Ambiente se manifestando contrariamente a uma operação que visa proteger a floresta amazônica. É um fato inédito que me surpreendeu”, declarou o chefe da PF do Amazonas, Alexandre Saraiva, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo publicada nesta segunda-feira (5).

Com atuação há mais de dez anos como superintendente em Roraima, no Maranhão e agora no Amazonas, o delegado federal afirmou ainda que a possibilidade de que essas empresas investigadas apresentem qualquer tipo de documentação legal “é perto de zero”, e as taxou como “uma organização criminosa”.

Dezenas de autuações

Segundo Saraiva, as empresas têm mais de duas dezenas de autuações feitas pelo Ibama, além de PF ter produzido uma dezena ou mais de laudos que atestam a ilegalidade da exploração da madeira onde o produto foi apreendido. Ricardo Salles teria baseado sua dúvida em apenas duas toras que teriam origem legal, ante um total aproximado de 40 mil toras que seriam fruto de exploração criminosa.

De acordo com a PF, não existe nenhum processo administrativo que autoriza a exploração das madeiras apreendidas, além de haver irregularidade no plano de manejo, no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e também nas Áreas de Preservação Permanente que teriam sido ignoradas.

Também causa estranheza o fato de o ministro Ricardo Salles ter ido pessoalmente ao local da apreensão, já que geralmente é apenas uma equipe do Ibama quem faz o trabalho técnico e a autuação dos desmatadores.

Referindo-se à máxima de Salles que, durante reunião ministerial do governo Bolsonaro no ano passado, demonstrou a sua intenção de se aproveitar da comoção nacional provocada pela pandemia de Covid-19 para atropelar a legislação ambiental, o superintendente da PF no Amazonas afirmou:“Aqui na Polícia Federal ninguém vai passar boiada”.

Da Redação, com informações da Folha de São Paulo

 

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