São Bernardo: pré-candidato quer radicalizar democracia participativa

Possível sucessor de Luiz Marinho, Tarcisio Secoli quer expandir ainda mais orçamento participativo, que inclui a população na decisão sobre o futuro da cidade

Tarcisio Secoli conversa com trabalhadores de empresa em São Bernardo. Foto: Paulo Pinto/Agência PT

Apesar da militância de décadas, Tarcisio Secoli trabalha para tornar-se conhecido em São Bernardo do Campo. O pré-candidato do PT a prefeito foi Secretário de Coordenação Governamental e de Serviços Urbanos da gestão de Luiz Marinho (PT) na cidade e disputará este ano sua primeira eleição.

A participação de Secoli na política remonta ao movimento sindical, que na década de 1980 foi marcante para a história da cidade e do Brasil. Foi no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a construir sua trajetória política.  Em 1982, Secoli participou da campanha de Lula ao governo do Estado de São Paulo, logo após a fundação do PT em 1980.

O agora pré-candidato era da Comissão de Fábrica da Mercedes-Benz e organizava atos na empresa durante o período eleitoral. Nos anos seguintes, colaborou com vários candidatos para a prefeitura e para a Câmara de Vereadores.

Ato sindical em São Bernardo em 1981. Foto: Memorial da Democracia

Ato sindical em São Bernardo em 1981. Foto: Memorial da Democracia

Na gestão Marinho (2009-2016), Secoli esteve à frente de projetos urbanos que incluíram obras de drenagem contra enchentes, asfaltamento de 60 km de vias, a a revitalização de 95 praças e parques, a restruturação da defesa civil, entre outros.

Um dos desafios atuais, afirma Secoli, é avançar sobre as conquistas já obtidas. O pré-candidato quer radicalizar a democracia participativa, ampliando o orçamento participativo implantado por Marinho. No orçamento participativo, a população elege as principais demandas para a cidade através de reuniões distribuídas em 20 zonas da cidade.

Nesse período inicial, de pré-campanha, Secoli tem ido aos bairros diariamente para conversar com a população e se apresentar, sem pedir votos.

“É um trabalho de esclarecimento e diálogo”, diz. “Estou sendo muito bem recebido. Essa campanha será mais do que nunca baseada na “sola de sapato”, no contato direto com a população, já que não envolverá financiamento empresarial”.

Leia abaixo a entrevista:

Quais serãos os maiores desafios dessa campanha?

O grande desafio nessa campanha é o ódio que foi criado contra todos os partidos. As pessoas acham que é contra o PT, mas não é. Aqui na minha cidade, eu sou o candidato que tem menor rejeição.

Os outros dois candidatos, que são de direita, têm uma rejeição maior que a minha e foram candidatos inúmeras vezes. Como a campanha é curta (as mudanças na legislação eleitoral reduziram a campanha para 45 dias), tem uma dificuldade para os candidatos novos se apresentarem. Esses serão os maiores desafios.

Qual sua experiência política na cidade?

É a primeira vez que eu sou candidato. Participei de todas as campanhas desde 1982, na campanha do presidente Lula a governador do Estado, em campanhas para prefeito aqui da cidade e para vereadores.

Em todas eu participei, com mais protagonismo ou menos. Lá na Mercedes-Benz, onde eu era da Comissão de Fábrica, nós organizamos muitas coisa para nossos candidatos. Nesse trabalho, nunca tive oportunidade de ser candidato.

Estamos na prefeitura de Luiz Marinho desde 2009. Estou plenamente habilitado em função disso, conhecendo todos os projetos da prefeitura, todos os processos, para dar sequência a esse trabalho e dar continuidade. Na medida que são realizados os programas e ações, surgem novos desafios.

A cidade mudou muito durante os 8 anos em que Marinho governou a cidade?

Com certeza, é uma outra cidade. Tudo que foi feito, reestruturado, na área da saúde, na área da habitação. Aqui sequer tinha secretaria de Cultura, não tinha secretaria de Habitação e nem de Meio Ambiente.

O desafio é dar continuidade. Meus adversários vão primeiro ter que entender para ver se dão conta disso.

Com certeza é uma outra cidade. Tudo que foi feito, reestruturado, na área da saúde, na área da habitação (…). O desafio é dar continuidade. Meus adversários vão primeiro ter que entender para ver se dão conta disso.

E como é possível avançar?

Fizemos um governo muito calcado no Orçamento Participativo. Nós precisamos pensar um novo papel para a organização popular “Amigos de Bairro”, que tradicionalmente tem um papel de reivindicação.

Precisamos incorporá-las – não como reivindicação porque isso já ocorre – mas tem uma novidade que podemos buscar parcerias com essas entidades para elas buscarem um papel na cidade, com projetos de cultura, por exemplo.

A área comercial por mais tentativas que fizemos tivemos dificuldade para ter um relacionamento adequado. Estou andando no bairro, e as pessoas estão dizendo que a prefeitura poderia ajudar muito no comércio do bairro. Fazer um trabalho com comerciantes para incentivar as pessoas a conhecer o comércio local.

Estamos desenvolvendo um projeto importante que é a Indústria de Cinema Vera Cruz (um estúdio cinematográfico da década de 1950 e reativado na última gestão). Nós implantamos o projeto, e ele ainda não deu frutos.

Nós temos um polo de desenvolvimento local importante que é a indústria de cinema. Temos o Centro de Audiovisual (CAV) que é um curso de cinema para jovens que forma 75 jovens todo o ano que estão indo para o mercado de trabalho, criando startups.

Cada desafio que você vence, tem outras oportunidades, e são elas que eu quero aproveitar agora para dar sequência nisso, avançando em cada coisa que andou.

E sobre a participação popular?

Os orçamentos participativos são pedra fundamental do nosso trabalho. Serão mantidos e aperfeiçoados. Temos que garantir um mecanismo de participação que não seja só o presencial. Para que as pessoas que trabalham e estudam possam opinar também.

Como isso será feito eu ainda não sei. Mas as ações que já existem serão mantidas. Talvez a votação a gente faça de forma mais abrangente.

Isso é uma discussão embrionária para ver como o orçamento participativo possa envolver mais pessoas e radicalize a democracia que a gente quer implantar na cidade.

O golpe pode atrapalhar os projetos?

Todas as cidades tiveram várias oportunidades com o governo federal (sob as gestões petistas), independente dos prefeitos e partidos. Era necessário ter um projeto sólido. Recuperamos, inclusive, projetos do governo anterior que não tinham sido feitos.

É claro que com o golpe é uma outra lógica que está se colocando para o BNDES. Outra lógica para o Ministério das Cidades, que não tem mais uma visão geral, republicana, dos investimentos.

Como é um ano de crise, a gente não sabe muito bem como vai ficar isso. Mas o Ministério das Cidades tem vários contratos que estão sendo picotados. Precisamos ver primeiro se vai consolidar o golpe e depois, se sim, como trabalhar com esse governo. Nós vamos ter demanda e buscar recursos de todo jeito. Vamos bater na porta do governo central toda vez que for preciso.

Como se comunicar com a população?

A comunicação com a população é essencial para entender o que está sendo feito. É um desafio sem receita. Estou trabalhando na nossa campanha com o fato de não ter recursos de empresas, trabalhando muito no Whatsapp e com redes sociais. Não temos certeza de como isso vai repercutir e funcionar.

Está funcionado bem porque chego nos locais e as pessoas dizem: já tinha ouvido falar de você, já tinha visto alguma coisa sua… A notícia chega antes, e isso é positivo e é reflexo do nosso trabalho.

Vamos ver na campanha em si como vamos trabalhar isso. A partir dessa experiência quero ver a consolidação disso, para a divulgação dos resultados.

Como você está sentindo a pré-campanha?

Estou apenas me apresentando, dizendo que sou pré-candidato e ouvindo sugestões. Às vezes as pessoas perguntam, é um trabalho de esclarecimento de diálogo. Estou sendo muito bem recebido, inclusive em bairros centrais que dizem que as pessoas não gostam muito do PT. Bobagem.

As pessoas não ligam muito para isso. Elas querem alguém com condições de fazer o que é preciso, que possa dar uma condição melhor para a cidade e condições de resolver o seus problemas. Elas só querem isso. Quando se coloca nessa posição e ouve a população, é possível construir um bom caminho para o futuro.

Por Clara Roman, da Agência PT de Notícias

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