Secretários de Saúde cobram de Queiroga medidas para conter Ômicron
Conass pede celeridade na vacinação de crianças e ampliação de testagem em massa. Às escuras quanto ao avanço da doença, país pode ter 670 mil mortos até o fim de abril, alerta Universidade de Washington
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Diante de uma explosão de casos de Covid-19 decorrentes da variante Ômicron, já dominante no Brasil, o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) cobra do ministro da Saúde Marcelo Queiroga medidas para impedir um colapso nos sistemas de saúde do país. Na quarta-feira (12), o órgão divulgou uma nota na qual pede que a pasta acelere o processo de vacinação de crianças e amplie a testagem para controlar o avanço da doença. Enquanto isso, o país segue às escuras quanto ao quadro real da pandemia, uma vez que a Saúde até hoje não fornece dados confiáveis desde o apagão que atingiu o ministério há mais de um mês.
O conselho considera urgente um aporte de R$ 4 por dose de vacina para cobrir custos para a abertura de postos de testagem em massa nos estados e municípios. “Se o sistema hospitalar entrar em colapso, tanto na rede privada, quanto na rede pública, óbitos evitáveis poderão ocorrer pela não garantia de acesso à internação”, alerta documento assinado pelo presidente do Conass e secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula.
No documento, Lula também pede a “imediata deflagração de campanha pela imunização completa de toda a família brasileira, com destaque para a vacinação infantil”. Contra a vontade de Jair Bolsonaro, o país recebeu, nesta quinta-feira (13), um primeiro lote de 1,2 milhão de vacinas da Pfizer, destinadas à imunização de crianças entre 5 e 11 anos, de um total de 20 milhões de doses. De acordo com o Ministério da Saúde, todas as doses devem ser distribuídas no primeiro trimestre.
O Conass também exige da pasta medidas para recomendar o cancelamento das festas de carnaval, a fim de bloquear novas ondas de transmissão do vírus. “Sendo a ômicron mais transmissível e responsável pelo aumento de pacientes com sintomas leves, os serviços ambulatoriais estarão pressionados por quadros clínicos que exigem testagem imediata, prescrição médica e emissão de atestados para o devido isolamento dos positivos”, justifica a entidade.
O conselho pede ainda atenção ao estoque de medicamentos, equipamentos de proteção e kits de intubação, bem como a ampliação de leitos de UTI.
Bolsonaro segue ao lado do vírus
Se, de um lado, o Conass trabalha ao lado de estados e municípios para evitar um novo colapso hospitalar e novas mortes por Covid-19 no país, de outro, Bolsonaro volta a atuar ao lado do vírus, em uma interminável dança da morte.
“Ômicron, que já espalhou pelo mundo todo, como as próprias pessoas que entendem de verdade dizem: que ela tem uma capacidade de difundir muito grande, mas de letalidade muito pequena”, afirmou Bolsonaro, em entrevista ao site Gazeta Brasil, na quarta-feira, minimizando mais uma vez o impacto da onda de infecções.
Bolsonaro continua tratando o covid com descaso. Só um psicopata como Jim Jones seria capaz de repetir as insanidades de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia.
— Lula (@LulaOficial) January 13, 2022
“Dizem até que seria um vírus vacinal. Deveriam até… Segundo algumas pessoas estudiosas e sérias —e não vinculadas a farmacêuticas— dizem que a Ômicron é bem-vinda e pode sim sinalizar o fim da pandemia”, insistiu o extremista de direita.
“Não permitiremos que esse desgoverno crie uma falsa percepção à população de um inexistente controle da pandemia”, reagiu a presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR).
Iremos até às últimas consequências. Não permitiremos que esse desgoverno crie uma falsa percepção à população de um inexistente controle da pandemia.
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) January 13, 2022
Ômicron representa 99% dos contágios no país
Embora imerso nas águas do negacionismo, Bolsonaro tem razão quanto ao poder de contaminação da nova variante. A Ômicron já representa 99% dos contágios por Covid-19 no país, aponta levantamento do Instituto Todos pela Saúde (ITpS). Após análise de 8 mil testes RT-PCR, feitos na primeira semana de janeiro pelos laboratórios CDL, Dasa e DB Molecular, 3.171 diagnósticos apontaram para a nova variante, de um total de 3.212 testes positivos.
O instituto constatou ainda que, em relação à semana anterior, dobrou o número de estados com testes positivos para a Ômicron, de 9 para 18. Já o número de municípios com o mesmo diagnóstico saltou de 80 para 191.
Colapso em São Paulo
Os primeiros sinais de que o quadro já é muito grave vieram do estado de São Paulo, onde médicos da Atenção Primária à Saúde relatam postos superlotados, profissionais infectados e falta de medicamentos. O novo surto levou ao afastamento mais de 1.600 profissionais municipais de saúde, uma alta de 111% em relação ao mês passado.
Na noite desta quinta, a categoria irá decidir se entra em greve para reivindicar contratações para substituir profissionais afastados e pagamento de horas extras.
País pode ter 670 mil mortos até maio
Preocupado com o silencioso pico de casos no país, o neurocientista Miguel Nicolelis reforça que é preciso adotar medidas urgentes para conter a retomada da pandemia pela variante Ômicron. Em entrevista ao Tutaméia, na quarta-feira, o cientista citou as preocupantes novas projeções da Universidade de Washington para o Brasil. A instituição aponta para um cenário de 671 mil mortos no país até o final de abril, se nada for feito para conter o avanço do surto.
Na entrevista, Nicolelis traduziu o cenário: “Caso não aumentem o isolamento social, as vacinas, na taxa de cobertura para segunda e terceira doses, caso não usem máscaras direito”, afirmou, referindo-se ao hábito de muitos usarem o equipamento de forma errada, protegendo apenas o queixo.
“No melhor dos cenários, [temos] por volta de 600 mil casos [diários] ocorrendo. Eles dizem, se nada acontecer: a projeção para abril pode chegar em 2 milhões de casos por dia, no melhor cenário”, adverte o cientista.
Da Redação, com informações de Folha de S. Paulo e Valor