Sem vacina para o povo, Bolsonaro insiste em “tratamento precoce”
Defendido por Jair Bolsonaro, o “tratamento precoce” não só não funciona como pode levar à morte
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A prova de que Jair Bolsonaro não está disposto a mudar sua perversa gestão da pandemia, que já matou mais de 300 mil brasileiros, foi dada pelo próprio Jair Bolsonaro, na quarta-feira (24). Após a primeira reunião do comitê anti-Covid — criado com um ano de atraso e apenas após iniciativa do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) —, o presidente da República insistiu: “Tratamos também da possibilidade de tratamento precoce”.
O “tratamento precoce” não existe, uma vez que são inúmeros os estudos que já comprovaram que não há remédios capazes de prevenir ou curar a Covid-19. Bolsonaro, porém, insiste em usar o termo para defender o uso de drogas como a cloroquina e a ivermectina, ao mesmo tempo em que sempre coloca em dúvida a importância da vacina, esta sim a única forma comprovada de se combater o coronavírus.
O mais grave, porém, é que, além de atrasar o acesso dos brasileiros à imunização, Bolsonaro estimula o uso de medicações que, além de não curar, podem matar. No mesmo dia em que ele voltava a falar em “tratamento precoce”, o Hospital Nossa Senhora Aparecida de Camaquã (RS) confirmava a morte de três pacientes com Covid-19 que haviam sido nebulizados com uma solução de hidroxicloroquina.
O procedimento foi administrado pela médica Eliane Scherer, apoiadora de Bolsonaro e denunciada pelo hospital ao Conselho Regional de Medicina e ao Ministério Público. Ao G1, o diretor técnico do hospital, Tiago Bonilha, disse: “Não tenho como atribuir melhora ou piora diretamente ao procedimento, mas, de fato, o desfecho final de três pacientes submetidos à terapia foi óbito. Todos eles têm documentado em prontuário taquicardia ou arritmias algumas horas após receberem a nebulização”.
Ligação para rádio
Em sua campanha assassina, Bolsonaro chegou a ligar, na sexta-feira passada (19), a uma rádio da cidade gaúcha para defender a médica. “A doutora me disse e eu já tinha comprovado isso também. Ela falou, muito humildemente, que não é uma ideia dela a questão da nebulização. A primeira vez que ouviu falar foi lá no estado do Amazonas”, afirmou. Logo em seguida, passou a defender o uso de ivermectina e a questionar, mais uma vez, as vacinas, que ele continua negando à quase totalidade dos brasileiros.
“Alguns outros, independente de receita médica, estão tomando a ivermectina. E, impressionante, eu converso com muita gente idosa que fala ‘eu estou tomando regularmente ivermectina, e eu, minha família, e ninguém se contaminou’. Então parece que a ivermectina é preventiva e, quando você contrai, ela serve para curar a doença também”, disse, de maneira irresponsável ou até criminosa. “Agora, sabemos que a vacina é um custo bilionário para o mundo todo e parece que grupos interessados em investir apenas na vacina é que deixam de lado a questão do tratamento preventivo, que existe no caso, e também o tratamento logo após a contração da doença”, completou. Ouça:
Kit Covid mata
A ivermectina é um dos medicamentos que passaram a compor o chamado Kit Covid, um conjunto de drogas que, estimulado pela propaganda assassina de Bolsonaro, se popularizou no Brasil. Pois esta semana, diferentes veículos noticiaram que esse kit aumenta o risco de morte dos pacientes internados com forma grave da Covid-19 e tem levado pessoas à fila de transplante de fígado.
O estímulo ao uso de drogas que não funcionam contra o coronavírus, aliado ao atraso proposital da vacinação, é uma das 10 ações que compõem a estratégia genocida de Bolsonaro, que transformou o Brasil no país onde mais se morre hoje devido ao coronavírus.
Da Redação, com Folha de S. Paulo, G1 e Metrópoles