Seminário do PT debate desafios da inserção do Brasil no mundo atual
Evento de dois dias organizado pelo Partido dos Trabalhadores tem por objetivo entender o que a sociedade brasileira espera do país no futuro
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O primeiro dia do seminário “A realidade brasileira e os desafios do Partido dos Trabalhadores”, nesta quinta-feira (5), em Brasília, reuniu militantes, dirigentes partidários, intelectuais progressistas e lideranças políticas no intuito de favorecer debates sobre a atual conjuntura internacional e a inserção do Brasil nela. O evento organizado pelo PT é voltado ao diálogo sobre as mudanças em curso no país e no mundo e as aspirações da sociedade em relação ao futuro.
À primeira mesa de debates do seminário, intitulada “Contexto internacional da realidade brasileira”, contribuíram o doutor em Ciências Políticas pela Universidade de São Paulo (USP) José Luís Fiori; o sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado, Marcelo Zero; o economista Pedro Silva Barros, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); e a historiadora Mojana Vargas, doutora em Estudos Africanos pela Universidade de Lisboa.
O evento de dois dias prossegue nesta sexta (6), quando serão discutidas a realidade do Brasil e do mercado de trabalho e as estratégias de comunicação necessárias para fazer frente ao radicalismo da extrema direita.
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Epicentro na Ucrânia
Fiori abordou os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia, com especial ênfase à guerra no leste da Europa, que se aproxima de completar três anos. O cientista político entende que a reacomodação das potências sob a nova ordem multipolar tem seu epicentro na região. O endosso dos Estados Unidos ao lançamento de mísseis de longo alcance contra a Rússia obrigou o Kremlin a revelar novos artefatos nucleares até então desconhecidos do Ocidente, como forma de intimidação.
O doutor da USP disse ainda que a vitória do magnata republicano Donald Trump nas eleições presidenciais estadunidenses obrigam pacifistas e progressistas ao paradoxo de sonharem que um fascista venha a selar a paz no mundo.
Marcelo Zero, por sua vez, argumentou que os EUA passaram a registrar déficits comerciais a partir da década de 1970. Foi ali que Washington decidiu abandonar o padrão dólar-ouro, para conseguir levar adiante a Guerra do Vietnã. De acordo com Zero, isso fez com que o mundo passasse a financiar o império.
O especialista em Relações Internacionais citou o nome de Zbigniew Brzezinski, conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos durante o governo Jimmy Carter (1977-1981), autor do artigo Uma geoestratégia para a Eurásia, publicado pela revista Foreign Affairs, em 1997. No texto, Brzezinski desenvolve planejamento em benefício da hegemonia dos EUA sobre os principais países da Ásia, passando pela expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) às fronteiras russas.
“Essa estratégia já estava traçada desde o início da década de 1990”, pontuou Zero, esclarecendo que tanto democratas quanto republicanos cerraram fileiras em torno da política imperialista.
Integração do Sul Global
Já Barros tratou da integração brasileira com os países do continente, que é um princípio contido na Constituição de 1988. Ele defendeu o fortalecimento do Brics e do Mercosul. “A região dividida é muito mais vulnerável às ingerências internacionais”, justificou. “Nosso espaço regional é prioritário.”
O economista também dispensou contenciosos com a Argentina, mesmo que o atual presidente seja o anarcocapitalista Javier Milei, e apontou a “importância do governo Lula para o mundo”.
Por fim, Mojana Vargas centrou-se no tema de sua especialidade: a África. A historiadora comemorou o momento de integração econômica por que passam os africanos e o relacionou aos investimentos da China e da Rússia, dois membros do Brics, no continente. “Das 20 economias com crescimento mais acelerado, 11 são africanas”, contabilizou.
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Da Redação