Sociedade Brasileira de Pediatria defende vacinação de crianças

Em nota, SBP repudia fala de Bolsonaro e informa que pais deve temer a doença e suas complicações. Ataques à vacina mostram presidente e bolsonaristas isolados em seu negacionismo

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Pediatras repudiam ataque de Bolsonaro às vacinas para crianças

A Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou nesta quinta-feira, 6, nota de repúdio contra comentários de autoridades contrárias à imunização de crianças de cinco a 11 anos contra a Covid-19. A SBP reitera a pais e responsáveis a eficácia da vacina e informa que a “população não deve temer a vacina, mas, sim, a doença que ela busca prevenir, bem como suas complicações, como a Covid longa e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, manifestações que consolidam a necessidade da imunização do público infantil”.

Cada vez mais isolado até mesmo entre os próprios apoiadores, Jair Bolsonaro age desesperadamente para produzir fatos políticos, mas a sociedade brasileira está atenta a suas movimentações e, cada vez mais, setores organizados repudiam e se manifestam contrários ao negacionismo do presidente da República, de seu ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e de integrantes do alto escalão do governo, responsáveis por ações e omissões que levaram à morte milhares de brasileiros na pandemia de Covid-19.

Em mais uma fake news, Bolsonaro afirmou desconhecer morte de crianças no país pela Covid-19, mas dados do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) mostram que, desde o início da pandemia até 6 de dezembro, foram registrados 301 óbitos de crianças entre 5 e 11 anos por Covid-19 no país.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, em 16 de dezembro, a vacina da Pfizer contra Covid-19 para crianças de 5 a 11 anos. Desde então, o órgão passou a ser alvo de ataques do presidente Bolsonaro e de seus aliados.

Em recentes declarações, Bolsonaro diz que a vacina para crianças não será obrigatória e que não vai levar sua filha Laura, de 11 anos, para ser imunizada contra o coronavírus.

Sem saber que já estava ao vivo em sua live de quinta-feira, o presidente aparece recebendo orientação de militar sobre o que seriam efeitos adversos da vacina da Pfizer contra Covid em criança, mas especialistas e a própria ciência preconizam a aplicação do imunizante.

Segundo Ariel de Castro Alves, advogado e especialista em direitos humanos pela PUC-SP, a vacinação infantil, anunciada como não obrigatória pelo governo, é um direito que faz parte do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Em 17 de dezembro, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu a pedido do Partido dos Trabalhadores e determinou que o governo federal apresentasse, no prazo máximo de 48 horas, plano para assegurar a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra Covid-19.

Como medida protelatória, o Ministério da Saúde promoveu na terça-feira, 4, audiência pública para discutir a obrigatoriedade de prescrição médica para vacinação de crianças. O resultado: 26 Estados e o Distrito Federal rejeitam a exigência. Cerca de 100 mil pessoas se manifestaram contra a medida defendida pelo ministro da Saúde.

Na quinta-feira, 6, a presidente da Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, Bia Kicis (PSL-DF), compartilhou dados pessoais vazados pelo Ministério da Saúde de três médicos que defendem a vacinação de crianças, assim como grupos bolsonaristas.

Desde então, os profissionais, que apresentaram argumentos favoráveis à imunização durante a audiência pública da Saúde na semana passada, tornaram-se alvos de milícias digitais bolsonaristas.

Bolsonaro acusou haver interesses da Anvisa e de “tarados pela vacina” na aprovação do imunizante.

Confira a íntegra a nota de repúdio da Sociedade Brasileira de Pediatria:

NOTA DE REPÚDIO | O Brasil deve temer a doença, nunca o remédio!

Diante de comentários de autoridades sobre possíveis riscos decorrentes da imunização de crianças de cinco a 11 anos contra a covid-19, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) vem a público reiterar aos pais e responsáveis os seguintes pontos:

1) A população não deve temer a vacina, mas, sim, a doença que ela busca prevenir, bem como suas complicações, como a covid longa e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, manifestações que consolidam a necessidade da imunização do público infantil.

2) O acesso das crianças à vacina contra a covid-19 é um direito que deve ser assegurado, o qual conta com o apoio da maioria dos brasileiros, conforme expresso em consulta pública realizada sobre o tema pelo Ministério da Saúde.

3) A vacinação desse público é estratégia importante para reduzir o número de mortes por conta da covid-19 nessa faixa etária, no Brasil, cujos indicadores são mais expressivos do que em outras nações.

4) Até o momento, os estudos realizados apontam a eficácia e a segurança da vacina aplicada na população pediátrica, a qual é fundamental no esforço para reduzir as formas graves da covid-19.

5) A vacina previne a morte, a dor, sofrimento, emergências e internação em todas as faixas etárias. Negar este benefício às crianças sem evidências científicas sólidas, bem como desestimular a adesão dos pais e dos responsáveis à imunização dos seus filhos, é um ato lamentável e irresponsável, que, infelizmente, pode custar vidas.
Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 2022.

Sociedade Brasileira de Pediatria

Da Redação

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