Tereza Campello: O rombo no mercado de trabalho é muito maior do que se pensa

O número de desempregados no Brasil pode ser muito pior do que os dados oficiais mostram, atingindo um recorde inédito de mais de 30%, alerta a economista Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, em entrevista ao Instituto Lula

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A falta de perspectiva para quem esteve desempregado durante a pandemia provocou uma distorção jamais antes vista no mercado de trabalho brasileiro. A economista Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, conversou com o Instituto Lula e trouxe dados que mostram que o rombo no mercado de trabalho já é muito maior do que os 14 milhões de desempregados de que tanto se fala e pode chegar a inéditos 30%.

Segundo números oficiais do IBGE, durante quatro meses de pandemia, o desemprego no Brasil deu um salto de 27,6%. Em novembro, o índice atingiu novo recorde histórico, de 14,6%. Só que mesmo esse recorde pode estar escondendo um número muito maior, segundo a ex-ministra.

Tereza Campello apresenta dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) contínua que mostram que, no ano passado, a população economicamente ativa diminuiu em mais de 20%. Não são brasileiros que emigraram ou que foram atingidos pela doença, são pessoas que desistiram de buscar um emprego. “Essas são pessoas que simplesmente desistiram de buscar trabalho em 2020, porque sabiam que era muito difícil encontrar emprego durante a pandemia, com tudo fechado. São pessoas que dependem do auxílio emergencial para se manter”, explica a ex-ministra.

São dois recordes negativos: desemprego recorde e recorde de desalento e falta de esperança. O também economista André Calixtre analisou os dados, fez os cálculos e chegou à conclusão que, se o número oficial do desemprego incluísse também aqueles que perderam a esperança durante a pandemia, a taxa de desemprego seria de impressionantes 31%.

“Esse pessoal está com medo da pandemia, perdeu seu posto de trabalho e gostaria de ter trabalhado, mas não procurou o mercado. Isso aconteceu provavelmente porque o auxílio emergencial funcionou, ou seja, proporcionou as condições para que essas pessoas ficassem em casa. Na ausência do auxílio, essas pessoas certamente procurarão emprego, mas não haverá postos de trabalho no curto prazo, daí a taxa potencial de desemprego”, explica Calixtre.

Ainda segundo os cálculos do economista, além dos 14 milhões de desempregados identificados pela Pnad, existem outros 24 milhões de brasileiros e brasileiras que estão fora do mercado de trabalho (e por isso não são considerados desempregados), mas gostariam de estar trabalhando. Ou seja, num cenário extremo, estamos falando em até 38 milhões de pessoas desocupadas.

Crise não termina com a vacina

“Após a pandemia, o Brasil vai herdar um problema grande de aumento de pobreza, que não vai se resolver rapidamente”. Muito mais do que fazer a análise, Tereza Campello participou da elaboração de uma proposta para saída da pandemia, o Mais Bolsa Família – que foi apresentado pelo Partido dos Trabalhadores. “Precisamos de um programa robusto de transferência de renda, porque vamos herdar uma pobreza enorme não só da pandemia, mas da incompetência desse governo que está aí”.

Mas antes disso, é preciso resolver a questão urgente, adverte Campello. “O auxílio emergencial precisa retornar imediatamente. Estamos num momento de eminência de desespero nas pessoas. O que faz um pai de família que está com renda zero? Vai chegar um ponto em que as pessoas não vão conseguir comprar comida”.

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