Um ano “sem Queiroz”: relembre o escândalo que assombra a família Bolsonaro

Envolvido em esquema de rachadinha e ligado a milícia, ex-assessor de Flávio Bolsonaro foi notificado para prestar depoimento 12 meses atrás, mas continua livre

Em dezembro do ano passado, Fabrício Queiroz, então motorista e assessor do deputado Flávio Bolsonaro, foi convocado pelo Ministério Público do Rio de janeiro para prestar depoimento sobre movimentações bancárias suspeitas no valor de R$ 1,2 milhão. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) informou que as transações bancárias eram “incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira” do policial reformado. O relatório financeiro também identificou depósitos de Queiroz na conta de Flávio, totalizando R$ 96 mil reais, o que levantou suspeitas sobre um possível esquema de “rachadinha”.

O ex-assessor, assim como Bolsonaro, faltou ao depoimento duas vezes, alegando ter sido “acometido por inesperada crise de saúde”. Desde então, Queiroz sumiu, teve suas relações com milicianos descoberta e continua negociando cargos na Câmara do Rio de Janeiro. Até hoje, nem ele e nem Flávio prestaram seus devidos depoimentos ao MP-RJ.

Confira a linha do tempo dos últimos 365 dias sem Queiroz:

Amigo da família toda

 

A primeira reportagem sobre o caso, divulgada pelo Estado de S. Paulo, apontava que o Coaf revelava um movimento bancário total de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e o mesmo mês de 2017. O relatório financeiro também identificou 48 depósitos de Queiroz na conta de Flávio Bolsonaro, totalizando R$ 96 mil reais entre junho e julho de 2017. Mas o “filho 01” de Jair não foi o único a receber dinheiro de seu assessor. Queiroz também depositou R$ 24 mil em 10 cheques na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

“Um cara de negócios”

 

No fim do mês de dezembro, Queiroz solicitou o 3º adiamento de seu depoimento, alegando o diagnóstico de um câncer. No dia 26 de dezembro, o ex-motorista concedeu entrevista ao SBT e tentou se explicar sobre seus rendimentos suspeitos: “Eu sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro, compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro”. Em um país que enfrenta uma crise econômica há anos, Queiroz encontrou a fórmula mágica de ganhar dinheiro através da negociação de veículos, segundo ele.

Dançando na cara da Justiça

 

No dia 8 de janeiro, Queiroz se ausentou novamente do compromisso no Ministério Público alegando ter realizado cirurgia horas antes. No dia 10, foi a vez de Flávio, recém-eleito senador, faltar à convocação da Justiça. Dois dias depois, o ex-assessor apareceu em vídeo dançando nas redes sociais, mostrando condições físicas suficientes para se esclarecer à Justiça.

Denúncia e suspensão

 

Após seguidas ausências dos principais envolvidos no caso, o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, apresentou denúncia ao Ministério Público no dia 14 de janeiro, afirmando que a investigação era baseada em “provas documentais consistentes”. 3 dias depois o ministro Luis Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou suspender as investigações do caso, atendendo a pedido do próprio Flávio. Felizmente, no dia 2 de fevereiro, o ministro do STF Marco Aurélio Mello ordenou a retomada do processo investigatório.

Organização criminosa

 

Em abril, o MP-RJ apontou indícios da existência de uma “organização criminosa” no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) com a finalidade de desviar recursos públicos. O Ministério Público apresentou à Justiça detalhes de movimentações suspeitas envolvendo o “filho 01” e seus assessores desde 2007. Assim, o órgão pediu quebra do sigilo bancário e fiscal de Flávio e outras 85 pessoas e nove empresas por suspeitas de lavagem de dinheiro, peculato e, como mencionado, organização criminosa.

No mês seguinte, Queiroz enviou manifestação ao MP-RJ, e afirmou que fazia o “gerenciamento financeiro” dos salários dos servidores do gabinete de Flávio. Ele afirmou ter total confiança do deputado à época.

Gabinete miliciano

 

O tal gabinete comandado por Queiroz empregava Danielle Mendonça Costa da Nóbrega, esposa de Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope, conhecido como Capitão Adriano e apontado como o chefe de uma quadrilha de milicianos, o chamado “Escritório do Crime”. Mensagens obtidas pelo MP revelam que o ex-assessor demitiu Danielle no fim do ano passado para não levantar suspeitas de vínculo entre a milícia e o deputado Flávio.

Influência mantida

 

Apesar de todas as investigações, Fabrício Queiroz mantém influência no gabinete de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), agora na Câmara dos Deputados. Em áudio obtido pelo jornal O Globo, o ex-assessor dá instruções de como funciona o processo para indicações: “O gabinete do Flávio faz fila de deputados e senadores, pessoal para conversar com ele, faz fila. Só chegar lá e, pô meu irmão, nomeia fulano aí para trabalhar contigo aí”. Ao jornal, ele admitiu que mantém a participação influente por ter “contribuído de forma significativa na campanha de diversos políticos no Estado do Rio de Janeiro”.

Da Redação da Agência PT de Notícias

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