Vereador quer mudar nomes de ruas que homenageiam agentes da ditadura em SP

Ao Café PT, o vereador Nabi Bonduki (PT) fala sobre seu projeto “Ainda estamos aqui”, que propõe homenagear militantes dos direitos humanos no lugar de torturadores e pessoas ligadas ao regime militar

Reprodução/Vídeo TvPT

Vereador Nabil Bonduki (PT) durante entrevista ao programa Café PT, da TvPT

O programa Café PT desta sexta-feira (14) recebeu como convidado o vereador Nabil Bonduki, integrante da bancada do PT paulistano.

O vereador Nabil Bonduki apresentou na Câmara Municipal de São Paulo o projeto de lei denominado como “Ainda estamos aqui!”, que propõe substituir os nomes de torturadores e de pessoas associadas à ditadura militar homenageadas em ruas, avenidas, praças e também de outros equipamentos públicos existentes na capital paulista. O vereador petista já tem um histórico de atuação voltado para esse tema em mandato passado.

“Esse assunto não é de agora, eu já tratei dele num projeto de lei 2016, na verdade, sob inspiração inclusive da iniciativa da Secretaria de Direitos Humanos na Prefeitura de São Paulo, durante a gestão Fernando Haddad, que  iniciou exatamente um trabalho nessa administrativa de resgatar o nome de pessoas que foram defensores dos direitos humanos e buscando dessa maneira também evitar que as ruas de São Paulo continuassem com os nomes de torturadores ou de pessoas que participaram no regime militar. Esse projeto que eu fiz mudava individualmente cada rua, sendo que algumas foram aprovadas, outras não foram”, esclareceu.

E completou: “Acabou o meu mandato em 2016 e eu estou voltando à Câmara agora em 2025, exatamente quando nós estamos vivendo um momento muito positivo em relação a isso, que é o sucesso todo do filme ‘Ainda estou aqui’, primeiro filme brasileiro que ganhou o Oscar, já visto por quase seis milhões de brasileiros. Então, nós retomamos essa ideia que já vem lá de trás, também com a inspiração na determinação judicial para que a prefeitura fizesse a troca de nomes de ruas, mas a prefeitura se negou a fazer, recorreu da decisão e conseguiu ganho de causa nesse caso. Portanto, nós estamos agora por via legislativa fazendo aquilo que a prefeitura não quis fazer diretamente”.

Assista a íntegra do programa Café PT, exibido nesta sexta (14) pela TvPT, com o vereador Nabil Bonduk, do PT de São Paulo

Homenagem a militantes dos direitos humanos

Nabil explicou que o seu projeto busca mudar 15 nomes de ruas e de logradores públicos.

“Nós temos até mais nomes do que esses, mas resolvemos fechar em 15, dos quais talvez o mais significativo e importante é trocar o nome da avenida da Avenida Presidente Castelo Branco, que foi o primeiro ditador, para o nome de avenida Engenheiro Rubens Paiva”, informou.

“Nós também estamos homenageando com esse projeto militantes dos direitos humanos daquela época, mas que não tiveram envolvidos com nenhum partido diretamente, mas que tiveram os seus familiares, como é o caso da própria Eunice Paiva. Nós, inclusive, estamos chamando de ‘outras Eunices’, que são mães, irmãs, mulheres que durante anos e anos lutaram para ter os nomes dos seus entes queridos reconhecidos, primeiro como falecidos. Porque a ditadura militar matava, mas não dizia que matava, então, primeiro, ser reconhecidos como mortos e, em segundo momento, serem reconhecidos como mortos assassinados”, afirmou.

Bonduki enfatiza a importância do cinema e das artes em geral no resgate da história e da memória com relação ao que ocorreu no Brasil no período do regime militar.

“Veja, é muito importante que o filme, o cinema, a literatura, o teatro, a música, todas as artes são muito importantes para que a gente possa discutir a história e a realidade do nosso país. Aliás, o Brasil é muito rico em produção artística e isso é muito importante porque muita gente não sabe porque a ditadura militar aconteceu há sessenta anos atrás, a juventude hoje não tem ideia. A minha neta foi assistir o filme, gostou muito, ela nasceu em 2010, né? Para ela a ditadura é uma coisa muito distante para vivenciar. Ela tem hoje quatorze anos, é mais ou menos a mesma idade que tinha a Eliana Paiva, que foi presa junto com a mãe dela. E isso toca a pessoa. Uma coisa é você ler no livro de história que a ditadura militar teve perseguidos, teve mortos, teve torturados, outra coisa é você vivenciar isso no cinema, porque você, dessa maneira, sente, se envolve com aquela realidade, quanta a gente não sai chorando do filme, porque o filme é realmente emocionante e muito bem feito”, contou.

Conhecer a história de quem dá nome à rua

Ele destaca a importância de se conhecer a história dos personagens que dão nomes às ruas de uma cidade.

“Nós não podemos abrir mão de ter todos esses recursos artísticos, culturais para poder, de alguma maneira, resgatar a nossa história, embora Isso seja muito maltratado nas nossas cidades. Se coloca o nome de uma rua, um nome qualquer, ninguém sabe quem é aquela pessoa. O Mário de Andrade, inclusive, tem uma poesia que ele fala ‘na rua Lopes Chaves, envelheço, envergonhado, nem sei quem foi Lopes Chaves’. E realmente, eu também não sei hoje quem é o Lopes Chaves. Mas de qualquer maneira, a gente tá falando do Lopes Chaves o tempo todo. Nós estamos falando o tempo todo o nome de uma avenida. Estamos falando o nome, muita gente não sabe, não é? Avenida Nove de Julho, avenida 23 de Maio, elas remetem a datas importantes para o país, para São Paulo, principalmente”, argumentou.

Para Nabil Bonduk é preciso que se construa com isso uma “cidade educadora”.

“É possível que a cidade seja educadora, porque uma das maneiras da gente se educar é também vivenciar a cidade entre os seus vários aspectos, e os nomes das ruas, das praças, são também uma maneira das pessoas também aprenderem, também se informarem e é claro que a gente quer que as pessoas saibam o nome das pessoas que são importantes para o país, não aquelas que fizeram mal para o país”.

Da Redação

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