Visibilidade Trans | A solidão além das relações afetivas

Mulheres trans e travestis lidam constantemente com situações de invisibilidade, objetificação e exclusão

Mulheres trans e travestis lidam constantemente com situações de invisibilidade, objetificação e exclusão

“Estado de quem está só, retirado do mundo ou de quem se sente desta forma mesmo estando rodeado por outras pessoas; isolamento” são significados da palavra solidão, que, infelizmente, mulheres trans e travestis sentem na pele diariamente.

Embora o assunto não seja amplamente debatido, por ser considerado um tema delicado, a solidão  é uma realidade comum entre  mulheres trans que passam por situações de invisibilidade, objetificação e exclusão vivendo em uma  sociedade majoritariamente cisgênera.  A ausência de afeto e oportunidades, seja nas relações afetivas, no trabalho, academia, ou no meio social,  também são formas de transfobia. 

A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) estima que pelo menos 80% dessas mulheres não são vistas como possíveis parceiras para relacionamentos afetivos. 

No texto “Vivendo de Amor”, bell hooks, [o uso do minúsculo era preferido pela autora] se debruçou sobre a afetividade e a emocionalidade das mulheres negras. A escritora descreve que “muitas mulheres negras sentem que em suas vidas existe pouco ou nenhum amor”.

Trazendo para o contexto da interseccionalidade de raça e transexualidade, a solidão fica mais evidente.  Wanda Citó, travesti, preta e estudante de Jornalismo, aponta que o corpo de uma mulher trans negra carrega o estigma de ser condicionada exclusivamente ao sexo. 

“Somos vistas sempre no lugar do fetiche, do sigilo, do vulgar, um corpo que todo mundo pode pegar, sendo preta, isso fica mais forte. Tanto que eu tenho uma percepção de que as pessoas me olham mas não me enxergam da maneira que deveria ser”, questiona.

Wanda ressalta a importância da sociedade enxergar mulheres trans e travestis como referências em todas as áreas.  Ela ainda chama a atenção para a urgência de recriar imaginários positivos, principalmente dentro da comunidade LGBTQIA +. 

“Ser travesti e preta é ser potência! É muito sobre romper expectativas, não de uma forma negativa, mas criando possibilidades. A sociedade não ensina a ser travesti, a gente aprende vivendo”, afirma a estudante. 

Para Indaiá Maria Gonzaga, além das relações afetivas, a solidão está no mercado de trabalho e no meio acadêmico. Ambientes em que mulheres trans se sentem sozinhas e desrespeitadas.

“A solidão perpassa outras áreas da vida, a falta de oportunidades, sub-emprego, o abandono no mercado de trabalho. Os espaços podem até nos ceder, mas a maioria das vezes esses lugares são capacitados para nos receber, exemplo disto, é não respeitarem o nosso nome social”, desafaba.

Ela relembra que vivenciou no seu meio social situações dolorosas e solitárias desde o processo da sua transição. Já na relação afetiva, devido ao estigma da sexualização, afirma que não foi levada a séria, principalmente por ser travesti preta, entretanto, hoje em dia consegue falar sobre o amor.

“Hoje estou numa relação trancentrada, com um homem trans. Estar numa relação trancentrada me fez entender que eu posso e devo ser amada e respeitada. Meu corpo deve ser  para além da sexualização”, comenta.

Jéssika Villalon Sousa, professora e ativista da causa, frisa que uma rede de apoio e espaços inclusivos são importantes às mulheres trans e travestis, principalmente para as que não tiveram apoio familiar desde o processo de transacionar. 

Dandara Maria, Agência Todas

 

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